Lusco-Fusco

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Aquela tranquilidade toda estava a inervar-me! Eu estava perdido sem saber o que fazer, e a minha suposta "salvação", estava completamente descontraída.

Pedro: O meu nome é Pedro, achas que me podes ajudar? Perdi a camioneta e separei-me dos meus amigos. Ia para Sintra e fiquei sem telemóvel, dinheiro, roupa...consegues dizer me ao menos onde estou?

Maria: Bem... Que sorte... Já tens uma história para contar aos teus netos. - Disse ela ironicamente.

Pedro: Talvez. – Faço um sorriso de enjoado para mostrar o meu contentamento.

Maria: É assim, se seguires esta rua até ao fim, e andares sempre a direito a mais ao menos 15km/h chegas a Sintra antes do pequeno almoço.

Aquela ironia toda já me estava a inervar. Uma pessoa estava desesperada a tentar fugir daquele inferno, e ainda gozam comigo na minha cara.

Pedro: Obrigado!

Viro costas para me por a caminho, mas quando começo a andar ouço uma gargalhada.

Maria: Calma colega! Já não se pode brincar? Eu também vou para Sintra. Vou apanhar boleia de uma amiga mais à frente. Podes vir connosco.

Pedro: Sério! Obrigado! Mesmo do fundo do coração.

Maria: Na boa. Vais para o Festival Das Bandas?

Pedro: Sim vou, vocês também.

Maria: Sim!

De facto, a Maria foi mesmo a minha salvação. É impressionante como o nosso estado de espírito consegue mudar numa fração de segundos. Há 2 minutos atrás estava capaz de a espancar, agora a minha vontade é de fazer-lhe um altar. Não podia ser melhor! Encontrar alguém naquele fim do mundo, em que essa pessoa vai para o mesmo sítio que eu, é mesmo um milagre! Chamem-lhe sorte, destino, coincidência... sei lá.

A Maria tinha um aspeto engraçado, a sua estatura era baixa, tinha uns longos cabelos castanhos, uns olhos grandes e a sua pele era morena. Mas havia algo nela que me estava a deixar intrigado. O porquê de ela estar vestida assim? E de estar com um mapa na mão? Será que ela é algum Serial Killer e isto tudo é uma maneira de me poder assassinar? Confesso que isso não soa assim tão descabido. Mas estou demasiado cansado para sequer ponderar ir me embora.

Maria: A Luísa vai achar muita piada à tua história. Quantos anos tens?

Pedro: Tenho 18. E tu?

Maria: Tenho 17, feitos há pouco tempo. Mas não te deixes iludir.

Pedro: Na verdade já estou. Pensei que tivesses para aí uns 20 anos.

Maria: Credo! Estava a dizer para não te iludires porque tenho mentalidade de 10 anos.

(Rizo em coro)

Pedro: Com isto tudo ainda não me disseste onde estou.

Maria: Estás em Arganil, Distrito de Coimbra. - disse ela como se fosse uma professora a ler um título de alguma obra "interessante".

Arganil?! Realmente existem inúmeras terras em todo o território Português, que o nome é bastante "apelativo", como: Picha, Pedaço Mau, Vergas, Torrados... Arganil juntou-se à minha lista de: "Terras com o nome socialmente e ocasionalmente estranho". Podem estar a perguntar o porquê de eu saber o nome de estas terras estranhas. A resposta é que eu e o Francisco tínhamos a disciplina de "Geografia De Portugal". Bem, e para as aulas passarem mais rápido, o nosso entretenimento era ver quem encontrava no mapa, a Terra com o nome mais estranho. Estúpido eu sei, mas dava resultado.

Ao fim de uma breve caminhada, e de um silêncio estranho que pairou, comecei a avistar ao longe um Renault 205 vermelho com uma rapariga a acenar ao longe. Era um carro bastante antigo, talvez seria a primeira vez que tivesse a ver o "famoso Renault 205" do meu pai.

Luísa: OláOlá! Mas o que vem a ser isto? -disse ela com um tom irónico.

Maria: Este é o Pedro. Foi abandonado pelos amigos. Também vai para Sintra.

Luísa: Oh que situação mais desconfortável. Entrem, já estamos a ficar atrasados.

Pedro: Obrigado! -Digo enquanto entro para a parte de trás do carro. -Posso usar um telemóvel para avisar os meus amigos que vou a caminho?

Maria: Toma! Usa o meu.

O estilo da Luísa era completamente alternativo, tinha o cabelo curto, como a maioria dos rapazes, usava um colete de ganga, umas jeans super largas, e umas botas de caçador. Era bastante peculiar.

Peguei no telemóvel da Maria e liguei para o meu próprio telemóvel que estava junto com a mochila que havia deixado na camioneta. Por sorte, o Alex atendeu. Apeteceu-me insulta-lo de todos os nomes possíveis e imaginários que possam caracterizar alguém que não merece o chão que pisa, mas preferi não o fazer.

De seguida a Luísa põe uma cassete de música Indie e arrancamos a nossa viagem. 

A um traço de loucuraOnde histórias criam vida. Descubra agora