A hora da entrada começou a aproximar-se. Confesso que também estava bastante ansioso.
Estávamos na fila de espera para apresentarmos os bilhetes, e o Francisco já estava a "faturar". Estava a fazer olhinhos para duas miúdas uns metros atrás de nós.
Francisco: Olhem para aquilo... Todas sorridentes... Estas já cá cantam.
Laura: Tu não existes!
No meio daquela intensa troca de olhares, por detrás delas surgiram dois autênticos "comandos do exército". A expressão facial do Francisco mudou drasticamente quando um dos rapazes o mira de alto a baixo e lhe pisca o olho. HAHAHA!
Finalmente entramos, e ainda faltava algum tempo para começar o primeiro concerto. Havia bancas de comida e bebidas por tudo que era lado. Pensei então que talvez pudesse encontrar a Maria e a Luísa. Elas também estavam cá, mas aquilo era enorme. A probabilidade de as encontrar era quase nula. Acabei por desistir ao fim de algum tempo de procura sem sucesso. Resolvi então, entregar-me ao verdadeiro propósito de ali estar. Divertir-me ao máximo. E assim o fiz. Bebemos, comemos, saltamos... realmente estava a ser divertido.
O primeiro concerto chegou! Era uma banda demasiada mainstream para eu saber o nome. Mas confesso que as músicas tinham uma escrita agradável. Escrever era algo que realmente me interessava. Gostava de escrever músicas/poemas/textos de opinião sobre os mais diversos temas. O objetivo era fazer com que coisas banais se tornem complexas através de adjetivos, metáforas, eufemismos, hipérboles, métrica entre sílabas... Gosto de brincar com as palavras. E era um dos meus entretenimentos de madrugada. Quase todos os dias, escrevia para enviar a um amigo meu, do outro lado do país. Eu escrevia músicas em que ele adaptava aos seus beats/instrumentais que casavam na perfeição com algumas letras. Mas nunca quis ser identificado. As músicas eram cantadas por outra pessoa que eu nunca cheguei a conhecer, e que se auto-intitulava como " Paradoxal". Nunca me preocupei com esse facto. Pois as músicas não tinham, sucesso suficiente para ele realmente ficar com os louros. As canções tinham sempre um público específico e reduzido.
Haviam centenas de pessoas a dançar em sintonia com a música, a dançar, a fazer movimentos coincidentes aos dos membros da banda. É incrível! Como as pessoas conseguem idolatrar algo tão intensamente. O ambiente estava a ficar cada vez mais caótico. O ar estava muito abafado, as pessoas aos encontrões, as colunas muito altas.
Foi então que me distanciei um bocado. Saí da zona onde estava aquele todo aglomerado. O espaço do festival era enorme. Comecei a caminhar pelos trilhos e vendo o que continha cada banca. Estas estavam quase desertas. Estava toda a gente a venerar a banda.
Sentei-me numa encosta revestida de relva. O sol estava a pôr-se. A paisagem era realmente bonita. Deitei-me naquele manto verde, e fechei os olhos por alguns minutos.
Depois de poucos minutos de transe. Começo a ouvir passos que entoam cada vez mais no meu cérebro.
Maria: Tens como hábito exular-te de toda a gente?
Era a Maria. Ela realmente de certa forma tinha razão hahhah. Mas não era essa a imagem que queria que ela ficasse.
Pedro: N-Não...
Maria: Ah!! Não te preocupes. Eu também sou assim.- disse ela, e fez aquele maldito sorriso que já a algum tempo estava ás voltas no meu subconsciente.
Pedro: Ah sim?! Não foi essa a ideia que fiquei de ti.
Ela senta-se ao meu lado, olha para mim sorrindo, e diz:
Maria: É verdade. Não gosto muito de confusões. Gosto de ficar no meu cantinho.
Pedro: Sim, eu percebo perfeitamente o que dizes.
Maria: Não percebes nada.
Ficou um silêncio estranho... decidi intervir.
Pedro: Então... tu és lá de Arg-a...
Maria: Arganil! Sim sou. Mas tou cá em Portugal só até o fim do Verão. Eu estou a fazer o secundário em Londres.
Pedro: A sério? Deve ser uma experiência interessante. Estás a estudar o que?
Maria: Estou numa escola de talentos.
Pedro: Percebo! E qual é o teu "talento"?
Maria: Representação... quer dizer, ao menos tento.
Pedro: Ahahah acho que é a primeira vez que falo com uma artista de teatro.
Maria: Nada disso... é o meu sonho! Mas ainda estou bem longe disso.
Pedro: Digo-te uma coisa, só o simples facto de estares a conseguir realizar o teu sonho é o maior privilégio que alguém pode ter.
Maria: Sim, concordo plenamente. E tu? Qual é o teu sonho?
Pedro: Eu? Ahhh... eu não tenho sonhos.
Maria: Ohh vá lá... toda a gente tem um sonho.
Pedro: Não. Eu não tenho.
De facto, era verdade. O meu cérebro estava cheio de pensamentos que não interessam para nada. E eu nunca tinha parado para pensar no que realmente me fazia andar. Qual era o meu sonho? Sempre dei valor a coisas momentâneas. O pior sentimento que existe é a nostalgia. Talvez o meu sonho fosse ficar encalhado em algum momento, ou alguma memória que na minha perspetiva fosse boa. Acho que o meu sonho haveria de ser uma mistura entre a realidade e a nostalgia eterna. Se assim era, ainda estava para vir.
Maria: O que fazes da vida?
Pedro: Vou agora para a faculdade. Estudar Literatura Portuguesa.
Maria: A sério? Vais ser o próximo Bocage ou Garrett. AHAHAH
Pedro: Sem dúvida.
O músculo facial da Maria sofria uma grande metamorfose quando ela se ria. Os olhos ficavam brilhantes, os dentes brancos e perfeitos, mostravam-se em grande parte da cara.
Ficamos ali parados a falar sobre coisas banais e episódios embaraçosos de cada um. Foi bastante agradável. Ficamos horas, e o festival acabou por terminar.
Maria: Bem... passou rápido. Falar contigo é... não sei...bom AHAHAHA.
Pedro: Digo o mesmo...és muito boa pessoa.
A Maria pega na minha mão e começa a escrever algo com uma caneta que ela retirou da mala.
Pedro: O que estás a fazer?
Maria: Depois combinamos algo todos juntos... beijinhos. (piscou o olho)
Isto nunca me tinha acontecido antes!! Uma rapariga deu-me o seu número de telemóvel sem eu sequer pedir?!
Melhor era impossível!
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A um traço de loucura
Teen FictionIrei relatar uma história diretamente dos pântanos mais profundos do meu cérebro. No final de contas é só mais uma história de teenagers. NÃO É UMA FANFIC! É algo inteiramente criado por mim! Desculpem alguma falta de inteligência e de senso comum d...