Reconquista

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- Foi um dia de trabalho duro. Mais um. O novo Daimiô local já deveria ter chegado, estava uma semana atrasado. E eu, Norio, trabalhava na lavoura de nossa pequena comunidade. Uma comunidade nos ermos de Tamura, não muito longe da capital. E, mesmo assim, era uma porção gigantesca de terra. Terra inóspita, ainda manchada pela tempestade vermelha. A parte que nos cabia era um campo abençoado por Lin Wu: parcos quilômetros de floresta. E menos espaço ainda de terras para o plantio.

- Então a terra em que vocês viviam não era um bom lugar? – questionou o estrangeiro enchendo novamente o copo de tamuraniano com saquê. Em seguida completou seu copo, que ainda estava quase cheio.

- Não, não. O lugar que foi-nos escolhido era um bom lugar, exceto pelo imenso tigre que matou nosso pequeno rebanho de cabras. Então nos mudamos para outro local. Fizemos uma plantação e erguemos duas minka. Cuidávamos da terra e não criávamos mais animais, apenas pescávamos para o dia. Eu esperava que Lin Wu se apiedasse de nós e mandasse um Daimiô esforçado e honrado. Bem... – tomou o restante do saquê, tendo o copo prontamente enchido – hoje sei que temos um Daimiô honrado. No entanto, não foi o que pensei na época. Lembro-me como se fosse ontem.

Os olhos do estrangeiro se dilataram levemente. Estava no caminho certo.

- Estava limpando a plantação quando meu filho, Yasuo, interrompeu-nos, eu e Yuko. Ele avisou-nos sobre a tão esperada chegada do Daimiô. Caminhei até perto da minka de nossa família. Vi algumas carroças, quatro ou cinco, e um grande, na verdade um enorme minotauro próximo à minha esposa Eiko. Hesitei, ele era enorme e pensei que tomaria minha esposa de mim. No entanto logo vi um cavaleiro de clara origem nobre acompanhada de uma ajudante e que parecia ser o líder de todos ali. Havia outros aventureiros no grupo mas o que importa é que estava enganado e o nobre não era o Daimiô mas sim o grande minotauro vindo das Uivantes. Aquelas montanhas geladas perto de Deheon.

- Sim, sim, sei bem o que são as Montanhas Uivantes! Conte-me sobre o restante do grupo. – os olhos do estrangeiro brilhavam, refletindo as luzes da taverna. – Parece muito interessante.

- Bem, - o tamuraniano escondeu bem o sorriso que lhe venho ao rosto – além do novo Lorde Beroteck e do Albrecht, o nobre de armadura brilhante, fala eloquente e servo de Okoreeji.

- Okoreeji – repetiu o estrangeiro, fingindo ser essa uma informação nova.

- Havia, também, um criatura que mais parecia um pequeno Oni voador. Que eu julguei ser apenas alguma criatura grotesca que acompanhava o grupo. Fruto de alguma extravagância do nobre. Descobri, no entanto, que era um mestiço entre um yokai e uma halfling. Não bastasse sua feiura, onde ia fumava um cachimbo fedorento e que fazia ele ficar envolto de uma nuvem de fumaça fedorenta. Além do mais, dizem que ele também sofreu o toque macabro das travas mas que também já enfrentara diversos seres malignos. Embora, até hoje, eu duvide se ele mesmo é ou não maligno, visto nunca ter se importado com a honra e com nossas tradições. Inclusive trouxe diversos problemas para o feudo e para o grupo dos Cangaceiros. Nunca entendi esse nome. – disse ainda o tamuraniano ao se levantar para aliviar-se do líquido consumido. – Volto daqui a pouco.

- Tome cuidado! – quase sussurrou o estrangeiro, fingindo preocupação, enquanto observava o local à sua volta e pensava em quais estratégias seguir para descobrir mais segredos daquele grupo que tanto havia importunado os negócios de seu chefe.

Norio, o tamuraniano, trançou as pernas pelo salão da taverna quando passou pela porta e se escorou no porteiro-segurança. Levou uma bronca mas não sem antes dar dois toques como dedo indicador e um com o anelar. O estrangeiro olha o esbarrão mas nada vê de estranho. O tamuraniano volta e, depois de mirar a mesa onde estava sentado, caminha cambaleantemente até que consegue puxar a cadeira e sentar-se novamente.

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