Tito ajeitava sua mochila de camping nas costas enquanto Gustavo tentava acordar os outros.
– Rápido, acorde o seu irmão, ele também precisa se arrumar – disse Gustavo.
– Tudo bem, pode deixar que eu arrumo as coisas dele.
Era melhor que Laninho dormisse mais um pouco, até porque o pirralho demorou pegar no sono e fariam uma caminhada longa, demoraria por volta de cinco horas de acordo com Gustavo. Caminhar por cinco horas no cerrado seco sem pausa e com apenas um litro de água para cada um deles, essa, sem dúvida alguma, prometia ser a pior de suas experiências.
Um leve brilho amarelo surgia em meio a mata seca, já havia se passado cerca de trinta minutos que estavam na estrada e agora que o sol decidira aparecer. O lado bom era que com a chegada do sol a situação deixaria de ser tão aterrorizante, já o tempo era a parte ruim, pois mudaria em breve, com a chegada do sol o ar se tornaria mais seco desidratando o grupo.
A caminhada foi longa e cansativa, mas em fim chegaram, Tito então percebeu que uma gota de sangue escorria do nariz de Laninho, o que ocorria com frequência quando ele estava desidratado, o rapaz parou imediatamente e conferiu o recipiente de água do irmão, estava vazio, então retirou o seu próprio da mochila e entregou a ele, assegurando-se de não o deixar desidratar.
A cidade se iniciava no posto de gasolina da Petrobras, no fundo havia uma pequena loja de conveniência, na qual o grupo se aproximava. Tito pensou ter ouvido um barulho na retaguarda, ele se virou. Do outro lado da rua de pavimentação precária se estendia entre dois pequenos edifícios residenciais um hotel mal-acabado de dois pisos, em uma das janelas de vidro do piso superior uma figura humana se debatia desesperadamente. Tito colocou a mão a frente do rosto tentando afastar a luz do sol e cerrou seus olhos na figura dentro do prédio, em uma tentativa fracassada de enxergar o que estava acontecendo, quando inesperadamente um grito atrás dele o surpreendeu. Ele se virou para conferir.
– O meu cabelo está péssimo – choramingou Lara tentando ajeitar com as mãos a sua enorme cabeleira loira . – já não bastava minhas pernas estarem cheias de ferroadas. Estou horrível.
– Acho que optar em usar uma saia no meio do mato não foi uma boa ideia – disse Tina com um leve sorriso.
A garota olhava fixamente para o seu reflexo na porta de vidro da lojinha de conveniência, mas sem se importar Gustavo desviou o reflexo dela abrindo a porta. Estava escuro lá dentro, só era possível ver os produtos nas prateleiras por conta da luz que invadia o local através da porta de vidro. Laninho seguiu pelo corredor em breu, provavelmente estava procurando o banheiro para limpar seu rosto ensanguentado. João, o namorado de Tina pegou uma cesta de plástico e começou a preenchê-la com alimentos.
– Que merda está fazendo? – Disse Lara em tom desconfiado.
– Estou faminto, eu não jantei ontem.
– Só por isso agora vai roubar? – Lara continuava repreendendo o namorado da amiga tentando retirar os produtos de dentro da cesta.
– Lara, pare – interviu Gustavo. – Nós vamos pegar o que precisamos e depois deixaremos o dinheiro atrás do balcão.
– Lara, eu sei que você também está com fome, então se não há ninguém para nos atender temos de nos virar como podemos, não acha? – reforçou Tina. – De qualquer forma vamos pagar no final.
A garota se calou e abaixou a cabeça, então João pegou um sanduíche em conserva e colocou em suas mãos, a garota segurou o alimento revirando os olhos e depois seguiu para outra prateleira para pegar algumas barras de cereais.
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A cidade faminta
Novela JuvenilUm jovem abandona sua vida virtual durante as férias para se aventurar em um acampamento com seus amigos. Assim que as férias acabam, na tentativa de regressarem a vida cotidiana, eles enfrentarão uma série de situações perigosas que colocarão suas...