Capítulo 05: CONHECENDO NOSSA REALIDADE

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CONHECENDO NOSSA REALIDADE


"Quando o homem compreende a sua realidade,

 pode levantar hipóteses sobre o desafio dessa

 realidade e procurar soluções. Assim, pode 

transformá-la, pode criar um mundo próprio,

seu eu e suas circunstâncias".

Paulo freire

Cada um tem um jeito de enxergar o mundo, uma lente para ver a realidade que o cerca, bem como para fazer uma interpretação dos fatos. A mesma realidade nunca é igual para dois observadores. Há uma realidade exterior, mas ela é definida pelo eu interior. É uma relação estreita, que se seguirá por toda a vida. O exterior exerce influencia sobre o interior, e o interior a vai assimilando, reagindo e, às vezes, mudando essa realidade. Traduzindo, são os aspectos objetivos e subjetivos da nossa vida.

Geralmente julgamos que somos bons conhecedores de nós mesmos e de nossa realidade. Sabemos nosso nome, o numero do RG e CPF. Sabemos até nosso domicilio. Mas você já se questionou alguma vez sobre seu nome? Perguntou aos seus pais porque escolheram justamente esse nome? Veja: não foi você quem o escolheu. E então? Ele representa uma visão sua de você mesmo, ou é a interpretação de teus familiares, logo que você nasceu? E a tua casa? Porque esta ali, naquele endereço? Tradição da família? Herança? Ou porque trabalha nas redondezas? Coisas pequenas, não é? Eu diria: aparentemente pequenas, porque, na verdade, podem dizer muito sobre nós, se quisermos ver e aprender.

Recordo que, há alguns anos fui desafiado por um professor a me apresentar ao grupo de colegas de pós graduação. De inicio, fiquei sem jeito. Isso porque ele pediu que cada um se apresentasse, mas não como se faz normalmente, dizendo o nome. Eu já estava com o meu na ponta da língua quando ele sugeriu: -"Se apresentem contando aos colegas qual é a primeira experiência de vida que você se lembra; não importa qual seja". Parece algo fácil, não é? Mas, acredite, nem tanto. Demorei para lembrar minha primeira cena, passando por todo um mundo de sonhos e emoções vividas, até chegar lá. E, para meu espanto, a primeira coisa que lembrei de minha vida foi de um filhotinho de cabrito berrando, ao nascer. Insignificante. E me levou a perguntar: O que esse professor quer com isso? O que um cabritinho berrando tem a ver com o meu nome?

Para minha surpresa tem muito a ver. Foi uma grande experiência de vida! Uma vida que rompe os desafios e surge, vitoriosa, como que gritando: estou aqui. Eu consegui! É uma grande experiência de vida! E o que tem a ver com meu nome? Não sei é coincidência, mas meu nome tem origem nos jogos clássicos, onde, após a vitória, os heróis eram "laureados" e recebiam os "louros", uma espécie de coroa de folhas, símbolo da vitória!

Bem, na verdade sei, sim. Não era coincidência. Nada na vida é coincidência. Tudo é consequência. A gente precisa aprender a ler os fatos e os relacionar, para colocar cada coisa em seu devido lugar. Depois daquela vieram outras experiências, e outras, e outras... São essas experiências, vividas ao longo dos anos, e talvez esquecidas, que fazem toda a diferença em nosso interior, em nosso eu, ou uma palavra que passei a considerar bastante, em nossa subjetividade. Eu não sou o que pensam ou dizem de mim. Mas sou aquilo que eu experimento a cada dia, por anos, numa vida inteira.

Talvez uma das primeiras necessidades que temos é a de reconhecer que nossa história está inserida numa realidade muito maior do que aquela que enxergamos em nossos momentos de solidão. Sim, de solidão.

Geralmente não gostamos da solidão. Mas, para compreendermos a realidade envolta em nossa vida, os resultados alcançados nos momentos de solidão podem ser muito úteis, se forem usados como instrumentos de reflexão.

É que a solidão encurta nossa visão, delineando traços limítrofes de nosso mundo, quando nos faz perceber quão distantes estamos daqueles que traziam razão e davam sustentabilidade ao nosso eu. O oceano de nossas vidas se transforma em pequenas lagoas, de águas paradas e turvas.

Ao navegar por essas águas de nosso próprio eu, a solidão pode revelar bem mais coisas de nós mesmos, sobre quem somos, do que simplesmente mostrar quão insensíveis e maus são aqueles que estão distantes. Embora os "outros" possam ter exercido influencias negativas em nossas vidas, e até favorecer a que tomássemos certas decisões, precisamos considerar também quais são as influencias e impressões que estamos exercendo sobre a vida deles. E, definitivamente, não vale a pena ficar lamentando e apontando o dedo, dizendo: - "Eles são culpados"! Não culpe a ninguém, mas procure seu potencial interior, aquela bagagem de fé e vida que você adquiriu ao longo dos anos, para romper com essa solidão e redesenhar novos caminhos, novos horizontes.

Trazemos todos uma bagagem de vida. Ou se preferir, são muitas as coisas que levamos vida à fora, que precisam ser reconhecidas em suas origens. E qual é a nossa origem? Biologicamente, fomos gerados de um casal, o pai e a mãe e, geneticamente, trazemos a assinatura não só deles, mas até mesmo de gerações passadas, constituintes daquilo que chamamos de nossa família. A origem de nossa família tem grande influencia em nossa origem e formação. Recordo que ha alguns anos ouvi de alguém que ele tinha uma doença rara. Ao buscar pela cura, descobriu que essa doença era característica de determinadas pessoas que viviam na região litorânea de um pais europeu. Como então ele a contraiu? De seus antepassados, herdada geneticamente. Igualmente, soube de um jovem, que ele tinha sérios problemas com bebida alcoólica, desde bem novo. Não podia fazer uso de bebida alcoólica em hipótese alguma, porque era um dependente sem nunca ter bebido. Estava, como popularmente dizemos, no seu sangue. definitivamente, é preciso desenvolver essa noção de que nossa vida não surgiu do nada, ao acaso, mas inserida num contexto maior, que determina muitas coisas do que nos somos.

DANDO A VOLTA POR CIMA - Sobre a arte de superar as adversidades.Where stories live. Discover now