JUNTANDO AS PEÇAS.
Conhece-te a ti mesmo!
Não é fácil juntar as peças de um quebra cabeças, principalmente quando ele é grande e complexo. Algumas peças são chaves. Por questão de objetividade, limito minhas observações às duas principais peças do quebra cabeça de minha vida.
De meu pai, e pelo que percebo, de toda a família dele, herdei o que chamo de patologia nervosa, das emoções à flor da pele, das reações imediatas. De minha mãe, criada sem pai e sem mãe genitores, trabalhando muito e cultivando uma vida pacata, acanhada e submissa, herdei aquele espirito de resignação, de submissão, que geralmente leva à incapacidade de não reagir em certas circunstancias de maneira que não seja com "educação, respeito e aceitação" de determinada realidade, de forma que muitas vezes você diz sim, quando queria dizer não.
Tomar consciência dessa realidade é um passo necessário para analisar a nossa vida, a realidade que a circunda e, quem sabe, reorienta-la. Usando outra palavra, é um passo necessário para aprendermos a ler alguns sinais, ou marcas em nossas vidas, algumas fortes e facilmente detectáveis, porem outras indeléveis, que requerem mais atenção.
De certa forma foi isso que o médico quis me dizer, naquela primeira consulta, descrita anteriormente. E, achando que eu não veria com bons olhos, ele me aconselhou amigavelmente: -"Quem sabe seria interessante o Sr. marcar uma consulta com um psicólogo, ah? Muitas vezes um bom psicólogo ajuda muito"! Geralmente um conselho assim causa espanto. Psicologo? Mas eu precisava fazer alguma coisa e gostei da sugestão.
Não posso descrever como foi cada sessão, nos cerca de dois meses que conversei com uma psicologa. E nem precisa. Mas a psicologia e um bom psicólogo podem ter um papel importante em nossa vida, quando estamos em plena queda emocional e física. Pode ser que, dependendo dos métodos, você não ouvirá respostas tipo: -"Você tem isso, ou esta com aquilo, ou faça assim". Na maioria das vezes você é levado a procurar as respostas, num exercício sadio de introspecção, de viagem pra dentro de seu próprio eu. Neste exercício, conduzido por um dialogo sábio, bem orientado, acontece o que se chama de catarse.
Segundo a filosofia,catarse tem origem no idioma grego. Aristóteles explicava que, depois daapresentação de uma peça de teatro, acontecia uma catarse no publico, ou seja,uma purificação da alma, ao fluir das emoções diante de um drama.
Psicologicamente falando, o ser humano pode libertar sua emoção e superar seustraumas através de um tratamento de sua psiquê. É um processo que leva à cura.Nessa experiência, travei uma luta pessoal, no esforço para lembrar erelacionar fatos e experiencias, criando uma ponte entre o passado e opresente. Isso me permitiu relembrar devárias situações e acontecimentos que estavam guardados em minha memória, masnão de forma tão clara. Ou, mesmo quando clara, não havia percebido nenhumparalelo com aquele momento que me levou ao consultório médico. Esse olhar maisà distancia, com uma atenção diferenciada, me fez ver alguns sinais que deixaramsuas marcas e me conduziram às experiências dos limites de minhas emoções.
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DANDO A VOLTA POR CIMA - Sobre a arte de superar as adversidades.
Non-FictionHá momentos em que a nossa vida toma rumos diferentes daquilo que planejamos. São momentos e situações que colocam em cheque nossa própria existência, delineando traços limítrofes da vida e trazem aquela sensação de que o oceano se transformou numa...