Quando levantei pela manhã já sabia o que me aguardava. Primeiro viriam os sermões de meu pai por ter me atrasado para o café da manhã, depois teria que me despedir dele e de todos os outros, pois hoje a noite partiria rumo à cidade de Draconis.
Rose terminava de fechar meu vestido enquanto eu encarava meu reflexo no espelho, procurando reconhecer o que via. Eu estava me arrumando para encontrar um destino no qual nem queria estar. E o medo pela nova descoberta de quem eu era ainda me assombrava.
Já se passara mais de uma semana desde o acontecido na taberna, e minha descoberta sobre minha mãe e de onde ela vinha. Rose tem me ajudado com meus poderes, mas sempre que aprendo a dominar um, algo novo aparece.
- Não sei se estou pronta ainda Rose.
- Para casar ou se tornar rainha de Draconis?
- Isso também e lidar com todos esses poderes – admiti.
- É claro que está Belle - Rose terminou o último ajuste do vestido verde que era um de meus favoritos e ficou de frente para mim - escute-me alteza, você é a rainha de Habdon, a mais bela mulher do reino e todos entrariam em combate só para casar-se com você. Ninguém é mais poderosa que você. Você é quase uma mulher Arabelle, está na hora. Irá se casar com o príncipe de Draconis por seu pai, pela sua fé e por seu povo. Ele vai ama-la.
- Não se se isso importa muito.
- Importa para você, e nós duas sabemos bem disso. E quanto aos seus poderes – Rose terminou de prender a longa trança dos meus cabelos ruivos – vamos cuidar disso juntas, estou aqui para ajuda-la.
- Eu sei que sim Rose, você é uma grande amiga.
- Suas malas já estão prontas para a viagem, já sabe quem irá levar com você?
- Já sim. Vou levar Kena, Lola, e você, é claro – tomei suas mãos e sabia que ela entendeu o agradecimento mesmo sem que tivesse saído da minha boca.
- Vou onde você estiver minha rainha. Até podemos falar de como seu futuro marido cheira mal, e têm gostos estranhos todas as noites em seus aposentos, já que sei que não vai querer dormir no mesmo que ele. - Rimos da ideia boba que compartilhávamos tudo parecia mais fácil com Rose por perto. Eu até havia ficado mais calma, quando de repente minha visão ficou turva e eu não enxergava nada em minha frente.
- Alteza, a senhorita está se sentindo bem? - senti ela me puxar pelo braço fazendo-me sentar.
- O que aconteceu? - era a voz de Sebastian - ouvi os gritos de Arabelle do corredor.
Os sons continuavam saindo de minha garganta.
- Faça para, faça isso parar, faça parar, por favor.
- Está acontecendo Basti - ouvir Madeleine dizer - ela descobriu os poderes a alguns dias e...
Não consegui ouvir o resto. De repente eu estava na sala do trono – mas não era a sala que eu conhecia, parecia que eu estava em outro castelo – milhares de pessoas corriam para todos os lados fugindo de algo que as amedrontava, espalhados pelo salão havia vários corpos empilhados no chão, entre eles o de meu pai e de Rose, e minhas mãos estava coberta de sangue.
-... Fale comigo Belle - Sebastian chamava enquanto sacodia meu corpo.
Resfoleguei e então despertei.
- Está me ouvindo, me diga o que vê?
Olhei para Rose e então respirei fundo, tentando lembrar-me de algo.
- Havia sangue por todo lado, era, era, meu pai... – eu não conseguia forma as frases.
- Está tudo bem agora Belle, eu estou aqui - ignorando a presença da irmã ele me abraçou tentando fazer com que eu me acalmasse.
- Você teve uma visão Arabelle – Rose explicou – nunca tinha visto acontecer uma dessa forma, mas ainda assim é uma visão. São raras na verdade.
- Quando achei que mais nada aconteceria – resmunguei, levantando e me recompondo.
- Rose poderia me deixar a sós com Arabelle um pouco antes de sua viagem?
- É claro Basti – com uma revência para mim ela se despediu – Com licença alteza.
Sebastian Maderson crescera no palácio junto comigo, ele havia sido meu primeiro amor, o primeiro beijo, o primeiro frio na barriga, o meu primeiro garoto. Aquele que jurei amar para o resto da vida. Ele era filho de Teodora, a criada mais antiga da família e a mais querida de minha mãe, tanto que mesmo após sua morte, Teodora havia ficado conosco como uma de minhas acompanhantes. Era também irmão de Rose.
Assim que ficamos sozinhos, Sebastian começou a falar.
- Nós poderíamos fugir pra longe, é só me falar e eu estarei com os cavalos prontos em dez minutos para nossa partida.
- Eu amo você Sebastian, mas ainda devo servir ao meu povo.
- Eu sei você tem um coração mais bondoso que conheço. Sabia que você linda até quando seus olhos estão nessa cor?
- Que cor eles estão agora.
- Como assim agora? – indagou.
- Eles costumam ficar com cores diferentes a cada poder novo que descubro.
- Nunca tinha visto nada assim. Cada feiticeiro tem um única cor de olho ao usar o poder, e cada tribo tem um específico.
Rose havia me contado sobre algo assim, mas ainda procurávamos respostas para o fato de os meus não terem uma única cor.
– De toda forma eles estão cor de sangue, e apesar de assustador, você ainda continua linda – quando Basti beijou minha testa senti que poderia fugir para longe com ele, que minha vida se encaixava a cada batida de seu coração – trouxe algo para você, um presente de aniversário – Sebastian me entregou um saco pequeno amarrado com barbante na boca, nele tinha um broche de cabelo no formato de uma borboleta na cor roxa.
- É maravilhoso, muito obriga Basti, vou usa-la sempre, assim poderia sempre levar uma parte de você comigo.
- Fico feliz que gostou. E você sempre terá uma parte de mim. Borboletas porque sei que gosta de desenha-las e porque elas significam transformação. Mas não é só isso.
Levei a mão ao saco novamente e tirei de lá dois carvões para desenho.
- Ah meu Deus Basti. Como sabia que eu estava sem meus carvões?
- Suas mãos andavam muito limpas ultimamente.
Sorri por ele me conhecer tão bem e por sempre prestar atenção aos detalhes.
- Eu te amo Basti – coloquei meus braços ao redor de seu pescoço, e sem demora ele me apertou ao redor da cintura. Selou nossos lábios pela última vez e então saiu da mesma forma que entrou.
O que quer que esteja acontecendo com o meu coração, eu precisava resolver e rápido.
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Regnaturi
FantasyEra um dia em que tudo mudaria na vida da futura rainha de Habdon, Arabella Stasey. Primeiro porque ela nunca quis nada daquilo. E segundo, ela não tinha escolha. Diante de todos aqueles feiticeiros e elfos, ela só sabia de uma coisa: havia nascido...