VI

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Logo a Terra girou diante dos meus olhos e se ampliou calmamente até focalizar em um campo aberto no escuro da noite, por falta de iluminação, custei a localizar um casal em meio ao mato recém cortado.

Meus olhos marejaram quando percebi que os dois olhavam para o céu, sem que ninguém os interferisse ou fizesse escândalo por olhar pontos brilhantes no nada. Em certo momento a garota apontou para cima e tive medo que pudessem me ver, mas ela apenas estava indicando uma constelação ao garoto.

Eles eram Parceiros de Céu na Terra.

Aquilo bastou para que eu chorasse e chorasse, sem me importar em molhar o chão puro de Achernar com minhas tristes lágrimas. Queria poder mergulhar naquela miragem e me perder em meio aquelas pessoas sorridentes. Aos poucos, tomei consciência de minha respiração e me acalmei.

- P-por quê? Eu quero ter isso. Eu preciso ter isso. - Apontei para o globo projetado diante dos meus olhos.

- É isso que mata a sua Terra hoje, Kaus. - Lua disse. - Você precisa levar essa sensação de volta para o presente.

- Mas... mesmo voltando com tal sensação, como faço para salvá-los? - Perguntei.

- Você precisa fazer com que eles olhem o céu, olhem com toda a verdade que tiverem. Mas escute, Kaus, estas pessoas são vazias, e o vazio faz com que vejam somente um palmo a sua frente. Preencha o vazio.
Já não compreendia uma palavra.

- Mas como? - Perguntei novamente, estava cada vez mais confuso.

- Amor, Kaus, preencha o vazio com Amor.

Todos os conceitos de Amor que havia construído durante os anos acabava de ruir. Nesse momento soube, finalmente, o verdadeiro significado de Amor.

- Espere, você sempre soube a resposta. - Disse para a Lua. - Por que simplesmente não me contou?

- Você primeiro precisava sentir. Porque somente com esse sentimento você conseguirá a força que precisa para semear o bem viver. - Lua retrucou.

Então a Terra projetada por Achernar girou até encontrar uma vasta floricultura, com flores tão delicadas que pensei que uma simples brisa poderia danificar suas pétalas. O vento soprou mais forte e uma das rosas foi arrancada do chão, como um pássaro ela veio até mim, ultrapassando os limites da vida, sutilmente pousou em minha mão.

- Leve-a com você. - Achernar falara. - Seja feliz.

- Obrigado... - Disse olhando para minha mão. Não sabia sequer segurar uma flor, parecia esmagá-la ao menor toque.

- É hora de voltar, Kaus. - Dessa vez era a Lua quem falava.

- Isso é um adeus? - Perguntei entristecido.

- Sempre te acompanharei, menino. - Ela respondeu. - Está pronto?

Não queria chorar, muito menos voltar para o lugar sombrio de onde viera. Mas o desejo de conseguir mudar o estado em que eles viviam me fez seguir. Olhei uma última vez para a imensidão luminosa do universo.

- Estou pronto.

Fim.

E Foi Assim Que Conheci O Universo [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora