O corredor levava a uma porta que parecia a personificação de um carvalho, a madeira não havia sido polida, encontrava-se ali de maneira rústica implorando secretamente para ser aberta, quando Bertô olhou para trás viu que o longo corredor se estendia até onde a vista não conseguia enxergar, não se lembrava de ter andando tanto, seguiu na única direção que a lógica lhe mandava, a sensação que estava na boca do estômago não parecia boa coisa, em cada passo o cheiro de mata ficava mais forte, com toda educação do mundo ele ousou bater na porta que suavemente se abriu ao primeiro toque revelando a maior biblioteca oval no estilo barroco francês que já havia visto, no alto do aposento uma águia adentrou o salão voando em círculos até pousar no centro da sala onde uma velha estava sentada no trono feito de árvore.
- Está longe de casa não é garotinho? - Bertô entrará no local bebendo sofregamente com os olhos cada detalhe do estranho lugar que paralisou ao ouvir a voz- É falta de educação não responder quando se é questionado - a senhora encarquilhanda com o pássaro empoleirado no ombro direito levantou-se de forma nada amigável, seu manto de veludo marrom a deixava mais velha, o cabelo quase rareava, isso ou estava preso num coque escondido pela grande coroa que era uma árvore e dela já brotavam raminhos.
- Que lugar é esse? - pela primeira vez em tempos Bertô falou.
- A sala de contos.
- Todos esses livros são contos? - pergunta examinando as prateleiras que subiam infinitamente.
- É claro - respondeu com sua voz exageradamente velha - Você trouxe o seu?
- O meu? - indagou confuso - O meu o que?
- Ora o seu conto, não fique aí parado feito um palerma venha até aqui menino. - e ele foi, não mais receoso, sentia-se até seguro, pondo a mão no bolso de trás do jeans puxou um pequeno livro de capa amarela sem título que sabia que minutos antes não estava lá, não se sentia apto a fazer perguntas, mas a curiosidade o consumia, era como se sua mente estivesse travada, teve o maior cuidado do mundo ao dar o exemplar, pois não queria ser tocado por aquela mulher cuja as mãos eram tão enrugadas quanto o rosto, a ideia de que ela pudesse esta vestindo aquela pele pertubou sua mente, parado em sua frente como uma criança que esperando a punição se pôs a analisar as lombadas expostas enquanto ela folheava o livro, ok, eu deveria fugir dessa louca colecionadora de livros, pensou olhando a sala de contos até que encontrou os olhos do pássaro que estava fixado em si, tinha a tonalidade do gelo, seu reflexo passou rapidamente em sua vista, não se lembrava de ser tão baixo, nem daqueles cabelos ruivo tão caótico, quase gritou.
- Você é um garotinho malvado não é mesmo Bertô? - não soou como uma pergunta, fechando o livro sorrindo um sorriso de mona lisa bateu levemente em seu nariz, como se soubesse que ele não queria ser tocado - Agora venha, venha, venha. Esta na hora de aprender uma ou duas coisinhas.
- Desculpa, mas quem é você? - alguma coisa controlava sua língua e seu senso de observação parecia ter sido retirado, ele não conseguia fazer os pensamentos entrar em foco, pela primeira vez em sua vida parecia não se importar.
- Meu nome é Sofia. - disse esbamboando até uma estante - A guardiã dos contos do mundo, e isso não é qualquer título, sem mim tudo estaria perdido, sim, sim, sim. Imagina o quão terrível seria se eu não estivesse aqui, um congestionamento se formaria bem no corredor... NÃO! melhor nem imaginar. - a prateleira estava quase cheia exceto por um único espaço que meu livro ocupou fazendo toda a estante subir apenas para aparecer outra inteiramente vazia. - Preciso lhe chamar duas vezes rapaz?
Seguindo-a para trás do trono começou a se perguntar o que estava fazendo ali, por mais que se esforçasse não conseguia encontrar a resposta, uma porta quase que imperceptível exceto pela maçaneta que brotava de trás do trono foi aberta revelando outra sala.
- Isso é real?
- Claro Bertô - ralha Sofia antes de entrar - passo por esse tipo de coisa não mais que uma dezena de vezes por dia, terá que descobrir se é real ou não ao seu modo, agora anda!
- Talvez seja um sonho.
- Talvez - gargalhou Sofia entrando com a expressão de quem não acreditava nisso, a sala tinha nove portas bem trabalhadas dispostas em círculo, no chão galhos de árvores que ligavam todas as porta ao centro foram pintados sem muitos detalhes.
- Já que os aposentos tem nomes esse aqui é o das nove portas, presumo. - brinca B. ao entrar.
- Você viu que eu cochilava quando chegou? - ranzinza apontou para a porta cujo um seis estava gravado acima do batente enquanto B. Anuia negativamente - trate de ir embora, conversar com você está me matando.
- Se eu ficar um pouquinho...
- Vá. - gritou fazendo a porta se abrir com um estrondo, Bartô não saberia dizer, mas para ele foi os passos mais longo de sua vida, o que o aguardava não era uma sala e sim uma saída com um céu azul prestes anoitecer sem qualquer nuvem, antes de sair não se virou para Sofia, sabia que ela estava impaciente, pois de certa forma ela gostava de dar nome aos aposentos e ele zombara dela.
- Voltarei novamente?
- Todos sempre voltam a sala de contos, esse é vosso legado, essa é a vossa siná. - ao longe era possível ouvir um revoada de gaivota e isso confortou seu coração dando-lhe força para dar apenas mais um passo - traga um bom Conto.
Com um baque surdo a porta se fechou, não havia nada ali, apenas a barbárie na imensidão do deserto sem areia, um cavalo branco com a crina balançando no vento passou como uma bala ao seu lado, olhando para trás não encontrou a porta, mas sim uma dúzia de elefantes ao longe soltando barritos enquanto davam longas passadas por serem elefantes gigantes com palácios dourados nas costas que brilhavam mesmo sem a luz do sol.
- Certo, não irei pirar agora. - disse a si mesmo com o receio de se urinar, é claro que minha mente está me pregando peças, isso não é real, claro que não, não se lembrava como seus pensamentos gostam de voar sem qualquer rumo, pois a frivolidade da vida te obriga a pensar mais que o normal? É apenas isso...
Nunca havia ouvido o som de cornos, mas sabia que era isso que estava ouvindo, o som de que havia sido avistado e se aquilo não era uma mera ilusão da sua mente ao menos poderia até pedir carona os elefantes não me pisotearariam, eles me comeriam, controlando-se para não entrar em pânico avistou pessoas em cima do animal, aquilo soava muito como início de uma gloriosa aventura na qual temia acabar morto logo no início.
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O Conto de Orco
FantasíaQuando um garotinho deixa de lado todo o senso comum que já obteve apenas para dar luz a sua curiosidade às coisas podem ficar interessante como fazer um amigo verde, andar em elefantes e até entrar em aventuras bem obsucuras.