Desatinos cotidianos

Treinados para ser pobres

   Uma das atitudes que hoje em dia eu tento dar mais valor é a empatia, talvez por consequência disso eu comecei a pensar assim, não quero que você concorde, e até acho que você irá discordar, mas vejo todo sentido no que penso e por isso irei explicar. Vamos juntos idealizar uma situação, falo de um menino, negro, órfão, morador de uma comunidade na periferia da sua cidade, a mãe morreu de câncer ainda quando o mesma era criança, o pai não aguentou todo o peso, de ser classificado como fracassado, e mesmo pobre, sendo roubado todos os dias por porcos depravados, ainda teve que ver o dinheiro selecionando quem merecia morrer, e não conseguiu fazer nada para mudar isso, resolveu acabar o que chamava de vida nos alucinógenos, que os porcos depravados utilizam para acalmar os seus donos, de fácil acesso pela sociedade e mesmo com tanto malefício, não proibido, pelo contrário, até estimulado, fácil conseguir e com um valor acessível, estou me referindo a famosa cervejinha, ou talvez aquele litrão... 

   Não falaremos desse pai agora, tão pouco das porcarias que nos fornecem, voltando ao menino, garoto órfão e negro, consegue imaginar a expectativa de futuro desse rapaz? Consegue percebe como essa mente já foi alimentada? É nítido e só não enxerga quem não quer que o negro tem muito menos oportunidades, ainda hoje sofre descriminação, não precisava nem ser, mas, ainda por cima órfão, limita mais sua educação, não irá entender o que é compaixão, não terá representação para se inspirar, enquanto isso, todo mundo estará treinado e preparado para apontar o dedo na sua cara, dizer que roubou, matou e fodeu com algumas vidas, mas será mesmo que foi esse menino que não teve nem a chance de viver, que acabou com outras vidas? Vejo claramente que isso foi consequência dos porcos que fodem todos os pobres e ainda culpam os mesmos pela falta de capacidade de reverter essa situação.

   Você pode não ser negro, não ser órfão, nem ter roubado ou matado, mas não deixa de ser só mais um pobre miserável, com valores ilusórios para se manter na rédea e substâncias para acalma-lo, gastando todo o seu dia e saúde trabalhando, dando o seu melhor, em troca de um pouco de comida para casa, status para alimentar o ego e talvez um pouco de distração no fim de semana para esquecer a semana, e acaba esquecendo também quem realmente importa, quem ama, enquanto o tempo inexorável passa, e com ele leva sua sanidade, mas da mesma forma do negro, você não teve escolhas, foram as circunstâncias na qual você aprendeu a sobreviver, enquanto os porcos depravados, não preciso nem falar, você sabe como eles vivem... E ai? Não vai fazer nada? Tudo bem, entendo que isso é resultado da falta de sanidade, também já não consigo encontrar a minha vitalidade para lutar.