Capítulo I:

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Uma homenagem aos mortos

O corpo se moveu pelo quarto de forma lenta e sem pressa alguma, sentou-se em uma poltrona de couro branco e abriu uma página de seu diário, puxou a caneta que estava sobre a escrivaninha e tocou a folha em branco com a ponta da caneta, iniciando sua escrita:

❝As luzes se acendem, o silêncio do salão é interrompido pelo som ofegante da respiração. Não mais estou no escuro. Os dias se passaram uns atrás dos outros, aprendi que não devo me prender à coisas do passado. Estou sozinha agora, mas me sinto bem. Somos apenas pessoas. Nós erramos, perdemos o rumo. Até os melhores têm seus dias ruins. Mesmo assim seguimos em frente. Aquilo aconteceu há quase um ano. Melanie se foi, a polícia encontrou o seu corpo enterrado no seu próprio quintal, não deixou se ser um choque para todos na cidade, mas havia um assassino. E ele nunca foi encontrado. Mas isso talvez não seja mais importante, é apenas um caso arquivado. Em Rosewood, você tem apenas três escolhas: correr, se esconder ou morrer. Melanie Ford escolheu a terceira opção quando fez inimigos por toda parte. Ela está morta. Entretanto a vadia não andava sozinha, ela tinha suas fiéis escuderias. Cassandra era a louca, entre todas era a que mais tinha mistérios, suas atitudes eram suspeitas e a garota não deixava ninguém se aproximar dela. Brooke era tímida quando conheceu Melanie, posso dizer que Melanie criou um monstro, agora a garota anda com a alta do colégio, é popular, bonita e posso dizer que ela não presta. Miranda era a que mais me assustava, era a imagem e semelhança de Melanie, uma perfeita vadia extravagante, lembro de vê-las no banheiro da escola discutindo por causa de um salto que ambas tinham e que era igual. Foi o momento do luto passar para ela tomar o posto se Melanie como a dona do colégio. Por fim, Julie, era a nerd do grupo, dentre todas as cinco, era a que só se preocupava com as suas notas. Talvez esta seja a mais errada, não deu valor às suas amigas quando elas precisavam.

Melanie costumava dizer que o segredo mantinha as meninas unidas, e se ela estava certa? Todas tinham seus segredos e isso irritava a todos ao seu redor, quando Melanie se foi, o grupinho simplesmente se separou, cada um foi para o seu lado e o contato foi desfeito. Mas uma promessa entre amigos não precisa ser justificada, e o que isso significa? Quem matou Melanie? Elas sabem? Talvez não. Isso é algo que eu quero muito descobrir. Hoje, tudo se inicia, as aulas estão voltando, e há boatos que haverá uma homenagem à memória de Melanie no colégio. A cada chamado da vida, o coração deve estar pronto para a despedida e para novo começo, com ânimo e sem lamúrias. Aberto sempre para novos compromissos. Dentro de cada começar mora um encanto que nos dá forças e nos ajuda a viver. E por viver eu afirmo que não há mais motivos para olhar para trás. Com essa homenagem, que o caso Melanie seja encerrado e sepultado para sempre.❞

-Julie Shumway

O dia começou como um dia qualquer, o sol brilhava no céu como de costume, haviam poucas nuvens cobrindo o azul do céu e a brisa era fresca. Cidadãos retomavam as suas rotinas diárias e os jovens iam para o colégio.
Rosewood High School estava aberta novamente após as férias, alguns alunos se mantinham parados no hall de entrada enquanto outros entravam, muitos se abraçavam matando a saudade que sentiam uns dos outros. Um Toyota Camry estacionou em uma vaga livre no estacionamento, a porta se abriu e uma loira saiu de dentro dele, alguns alunos a olharam, outros acenaram para ela com um sorriso no rosto, ela apenas retribuiu e pegou sua bolsa e algumas pastas no banco de trás do carro, apertou o botão do alarme do carro e seguiu para a direção da entrada da escola passando por um grupo de alunos que estava nas escadas de entrada. Uma garota do grupo ergueu o olhar vendo a loira passar e colocou um pirulito na boca, voltou sua atenção para os amigos mas logo se levantou do degrau, ela vestia uma saia rodada curta estilo colegial de filmes americanos e uma blusa branca com uma coroa feita por lantejolas estampada acompanhada de um casaco de pêlos sintéticos rosa, usava saltos altos da mesma cor que o casaco e seus fios loiros estavam caídos por seus ombros. Levantou-se do degrau, pendurou a alça de sua bolsa no ombro esquerdo, enquanto caminhava na direção da lixeira para jogar o doce fora, notou um conversível vermelho muito bem polido estacionando à esquerda na calçada. A porta do carro se abriu e a ruiva saiu de dentro dele. Ela usava um vestido justo preto com mangas rendadas, apesar de parecer de luto, os saltos negros de sua bota chamavam a atenção, seus longos fios avermelhados estavam penteados para o lado e seu batom vermelho entrava em contraste as sardas presente em seu rosto principalmente em seu nariz e maçãs do rosto. A garota acenou para alguns rapazes que a olhavam com admiração e desfilou no rumo das escadas da escola, um garoto entrou em sua frente e ela simplesmente o empurrou, para que saísse de seu caminho. O garoto desequilibrou-se no meio-fio e cambaleou pela rua quase sendo atropelado por uma bicicleta. A morena que vinha pela rua felizmente estava atenta, apertou os freios enquanto tinha tempo colocando os pés no chão e parou a bicicleta, colocou a mão no peito e respirou fundo, desceu da bicicleta e encarou o garoto, ela vestia uma calça jeans, calçava seu velho par de allstar, um casaco preto e por cima do casaco, uma blusa xadrez, em sua cabeça havia uma boina. Ela apenas balançou negativamente a cabeça e subiu para o canteiro gramado com sua bike.
Finalmente o alarme da escola soou anunciando - e obrigando - que os alunos entrassem para o interior do prédio. Com todos já dentro da escola, uma ordem foi dada: todos devem ir diretamente para o ginásio para prestarem a homenagem à Melanie, ou apenas fingir solidariedade. Não era obrigatório, claro, mas quem não fosse teria que ir para as salas de aula para dar iniciativa às aulas normais, o dia estava para redação de prevenção ao suicídio. Obviamente os alunos preferiram ir para o ginásio, mesmo que a maioria dali não gostasse da falecida, aliás muitos sofreram nas mãos dela. Seja por apelidos, seja por brincadeiras de mal gosto.
A arquibancada se mostrou parcialmente cheia, haviam alguns espaços vagos entre um e outro. No meio da quadra havia um púlpito de madeira com um microfone. O diretor da escola estava ali, ajustando o microfone enquanto Elizabeth estava ao seu lado esquerdo e ao lado dela estavam mais dois professores e o psicólogo do colégio.
- Bom dia alunos, sejam muito bem-vindos de volta à Rosewood High School, espero que todos vocês tenham um ótimo dia e que tudo ocorra bem. - ele encarava a face de todos que estavam ali presentes, mas o olhar de águia dele parecia procurar algo a mais no meio da multidão. - Bom, como todos já sabem, tiramos o dia de hoje para homenagear uma de nossas alunas que infelizmente se foi de uma forma trágica no ano passado. Alguém se dispõe a dizer algo? - ele procurou mais uma vez, seu olhar parou na primeira fileira da arquibancada onde a garota apertava uma caneta em suas mãos de forma nervosa e ansiosa, a garota de boina. - Senhorita Shumway, será que como oradora das turmas do segundo ano e uma das melhores amigas de Melanie você pode dizer algo?
Certamente Julie não estava preparada para esta intimação, não por enquanto. Mas no fundo ela sabia que a homenagem não passava de uma estratégia da polícia local junto com o diretor para reabrir o caso Melanie e conseguir mais informações sobre aquela noite, era tão óbvio que até Brooke entenderia. Suas órbes castanhas se arregalaram e suas bochechas queimaram em rubor, mas não rejeitou a intimação disfarçada de pedido. Se levantou da arquibancada e começou a caminhar na direção do centro da quadra, conseguia sentir o olhar dos alunos queimando sobre seus ombros por trás em suas costas, ajeitou o casaco nas mangas e parou ao lado do diretor, forçou um sorriso para os outros profissionais que estavam ali e tomou a frente do lugar, ajeitando o microfone em sua altura. Limpou a garganta em um pigarro e passou a olhar para os alunos que estavam em um silêncio constrangedor, estava nervosa. Respirou fundo e se pôs a falar.
- Bem, primeiramente bom dia a todos que estão presentes. Eu realmente não estava preparada para falar, senhor diretor, mas já que não tenho alternativa... - discretamente mordeu seu lábio inferior, era uma mania que havia adquirido há algum tempo. Prosseguiu. - Muitos... Ou melhor, a maioria que está aqui hoje, sabia bem o tipo de pessoa que Melanie era em vida. Acho... Não, eu tenho certeza que todos vocês que estão aqui já sentiram um pouco do que ela era. Seja por admiração, seja por ódio... - Antes de prosseguir, ouviu o som da porta do ginásio se abrindo e a garota de vestido azul, Brooke, tentando discretamente se misturar à multidão até que por fim se sentou na terceira fileira, coincidentemente ao lado da garota de casaco de pêlos. Cassie a encarou por alguns segundos e voltou a olhar para a morena que estava a falar, as duas mesmo sentadas lado a lado pareciam ser estranhas, parece mesmo que muita coisa mudou. A fim de tentar não focar o olhar nas ex amigas, Julie olhou para o lado oposto da arquibancada, mas por azar acabou notando a intimidadora ruiva ali, de pernas cruzadas, com seu olhar julgador. Miranda parecia estar esperando o momento em que Julie vacilasse para obliterar ela com a força da mente. - O que quero dizer, é que nem sempre Melanie era uma péssima amiga. Ela pode ter deixado muitos aqui com a auto estima no negativo, mas quando ela queria, ela sabia ser boa amiga. Pelo menos foi assim comigo... Eu só me importava com as minhas notas, ainda me importo, mas o fato é que eu aprendi a lidar com a vida social que eu havia perdido. Aprendi a ter amigos... Nem sempre a ética e a moral são o mais importante, se um amigo precisa de ajuda, você deve ajudá-lo sem hesitar. Melanie fará muita falta para todos sim, algumas pessoas se inspiravam nela... - encarou Miranda antes de olhar para Cassie e Brooke. - Outras apenas queriam estar por perto. Apesar de tudo, Melanie era um ser humano como qualquer outro, com defeitos, com problemas... Com sentimentos...

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