Capítulo 4

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Depois de contar tudo a meus pais e Lívia, eles ficaram falando que eu precisava perdoar Victória e que esse ressentimento estava acabando comigo. E sinceramente seria melhor se ela tivesse conseguido acabar comigo quando ainda era somente um feto, assim toda a dor que eu sinto hoje teria sido poupada, e não precisaria ouvir todos aqueles que amo ficarem ao lado dela.

--Já chega! -gritei. - Eu vou embora daqui. - digo irritado.

--E para onde você vai Josh? -questiona meu pai.

--Para qualquer lugar longe de vocês. -  digo sem olhar nos olhos dele e saiu batendo a porta com força.

--Droga! - exclamei chateado. - isso tudo é culpa sua Victória. Acabou com minha vida está feliz agora? - questiono o nada, e sigo a pé sem destino certo.

Depois de horas de caminhada, encaro as pessoas passando, alguma felizes, outras ao telefone, mas todas fazendo algo, resolvo falar com Aquele que sempre me ouve.

--O Senhor sim sabe o que aconteceu, não há como eu esquecer o que passou. Alendo mais posso não perdoar ela, mais seu pecado e maior que o meu. Ela iria me matar, isso é imperdoável. - espero em silêncio e nada, apenas um vazio preenche minha alma, mas nenhuma resposta. -O Senhor também me abandonou? -questiono Deus olhando para o céu. - Pois nem mesmo a Ti consigo sentir, não sinto nada! Nada além desse vazio e ódio que sinto dentro de mim. - Parece que desde sempre meu destino foi ficar sozinho. - resmungo chateado ainda encarando o céu.

-Dia difícil? - comenta o rapaz que se sentara ao meu lado. Olho para ele sem responder e o mesmo prossegue. - Esses são os piores não é mesmo. - ele alarga um meio sorriso. - mas o que ninguém acredita que se possa sobreviver a eles, o que parando pra pensar é uma burrice, nada nunca está completamente perdido, existe uma saída, a tão famosa luz no fim do túnel, mas sabe de uma coisa, essa luz sempre esteve conosco no meio da escuridão, porém não conseguimos perceber sua presença pois estamos questionando por que logo nós estamos vivendo na escuridão.

--Escuta cara, eu só quero ficar sozinho. - digo ríspido, e sou recebido por um olhar gentio.

--Eu sei, já estive na mesma situação que você, e eu achava que queria ficar sozinho e desejava que o mundo a minha volta se explodisse. - diz ele rindo. - Quando na verdade, eu só precisava de alguém que me escutasse. Você pode conversar comigo, não estarei aqui para lhe julgar ou oprimir, apenas pra escutar, não é como se seus problemas fossem passar enquanto você os compartilhar comigo, mas vai ajudar colocar eles pra fora.

Nunca nem sequer vi esse cara, mas o mais estranho é que sinto que posso confiar nele.

--Duvido que tenha passado pelo mesmo que eu. - ele assente para que eu prossiga. - Eu tinha uma vida perfeita, o amor de meus pais e de minha namorada, porém quando eu menos esperava uma situação pôs tudo que eu era a prova, agora aqueles que sempre estiveram ao meu lado, não conseguem me compreender e querem que eu simplesmente esqueça o que aconteceu. Querem que eu perdoe a mulher que deu a luz a mim.

--Sua mãe?

--Não! Minha mãe é uma das melhores pessoas do mundo, eu realmente a amo, mas no momento ela deve estar em casa chorando, decepcionada comigo. E isso tudo é culpa daquela mulher, e não importa o que digam, eu nunca vou perdoar o que ela me fez.

--Entendo, perdoar é difícil, mas perdoar o erro dos mais próximos, parece ser bem mais complicado não é?

--Ela não é próxima, nem nada minha, não somos iguais, só temos os mesmos olhos.

--Então nós dois somos mais parecidos do que você pensa. - fala e o olho confuso. - desde meus sete anos, estudava em colégios internos, e raramente via meu pai, e quando isso acontecia não existia nenhuma conexão de pai e filho, com 16 anos eu voltei para casa e passei a morar com ele, pensei que nosso distanciamento se dava por conta de meus estudos, foi então que pensei que assim que terminasse poderia apreciar bons momentos com meu pai, me tornei o melhor aluno da sala, tudo almejando acabar o ensino médio, para voltar a meu pai, porém quando finalmente consegui, foi o pior ano da minha vida, minha ficha finalmente havia caído e me dei conta de que não era só o distanciamento, meu pai parecia me odiar e nada do que eu fizesse aplacava o desprezo que ele tinha por mim, passamos três anos na mesma casa, mas éramos completos estranhos, quem nos visse juntos se quer imaginavam que éramos familiares. Eu conheci Deus e fui falar com meu pai, deixar de lado todas as nossas desavenças, eu estava extremamente feliz naquele dia, mas ele estava totalmente o oposto, foi então que ele que ele disse algo que doeu muito mais do que quando ele me chamava de manco. Ele me chamou de assassino, e que por minha causa minha mãe havia morrido. Com aquilo eu perdi o chão, e peguei o carro pra esfriar a cabeça, mas ele estava disposto a descarregar toda sua dor em mim, e entrou no carro ao meu lado, fomos discutindo a estrada toda, eu não vi o caminhão se aproximando, tentei desviar, mas fomos de encontro a uma ribanceira. Meu pai ficou inconsciente e eu estava muito machucado tanto emocionalmente quanto fisicamente, cogitei me tornar aquilo que ele dissera que eu era, um assassino, deixar ele ali pra morrer seria a liberdade de todo o abandono que ele me fez sentir. Deixei ele sozinho e observei, não foi fácil pra mim acredite, mas eu o perdoei, voltei até o carro já sendo consumido pelas chamas e o resgatei. Naquele dia eu liberei perdão e Deus restaurou nossos corações, hoje somos tremendamente felizes.

--Puxa. -exclamei surpreso. - Você conseguiu esquecer tudo que seu pai lhe fez, isso é....

--Aí é que está...qual seu nome mesmo? - questiona ele.

--Josh.

--Pois bem Josh, hoje eu e meu pai somos felizes, mas tivemos nossas turbulências, e sei que não podemos apagar os erros que cometemos no passado, não podemos recuperar o tempo perdido e ter a relação de pai e filho que temos hoje, mas temos a chance de viver nosso presente. Eu o perdoei, mas isso não significa que eu esqueci, ainda me lembro detalhadamente de nossas brigas, mas eu olho essas lembranças e não sinto mais dor sabe por que? Pois isso é o perdão, e perdão não é esquecer, esquecer é amnésia, perdoar é poder olhar para trás e não sentir mais dor.

--Eu não sei nem o que dizer. - digo desnorteado tentando absorver tudo o que ele disse.

--Imagino. - acho que agora é a hora que você precisa de um tempo sozinho... Bom sozinho nunca, a luz está sempre ao nosso lado, lembre-se disso. -fala ele se levantando. - A propósito meu nome é Jake.

A história de Jake é tremenda! Ele passou por tudo isso, mas hoje sorri como se a dor nunca tivesse lhe afligido.

Pego meu celular e acionei a bíblia online, tenho a maior surpresa ao ver que a última vez que ela foi lida, foi a quase três semanas. Leio o último texto marcado e toda a pregação do pastor sobre perdão me vêm à mente. Novamente me ponho a andar sem rumo, mas minha mente ainda vaga naquela noite.

--Senhor me perdoa. Fiquei tão cego por minhas emoções que nem me dei conta de que o Senhor estava falando comigo. Tantas vezes disse que mantinha um relacionamento contigo, mas nem sequer lia a tua palavra ou ouvia a sua voz, todo esse tempo ouvi apenas as minha vontades que me diziam para deixar Victoria sobre meu jugo e a cada vez mais me afastava de ti, peço verdadeiramente que me perdoe e me ajude a ser uma pessoa melhor. - paro de falar ao me dar conta de que estou em frente a casa de Victória. Fico de longe observando, e me esquivo ao ver o garotinho correr para fora com um largo sorriso.

--Você não me pega mamãe. - diz ele correndo no gramado.

Victoria surge logo depois com um sorriso espontâneo no rosto e corre na direção do pequeno. Assim que ela alcança ele, o enche de beijos.

--Você é meu Príncipe Nicholas, agora é meu prisioneiro para sempre e será sentenciado a uma imensidão de beijos pelo resto de seus dias. -fala ela contente, e o mesmo dá altas risadas se debatendo para sair de seus braços.

--Por que você não me quis também? - questiono ao ver a intensidade do amor que ela trata seu pequeno Nicholas, e derrepente sinto uma gota de chuva em meu rosto. - Mas eu te libero. - digo com o rosto encharcado de lágrimas. - Te libero do meu jugo, e te entrego nas mãos de Deus, eu te perdoo Victória Andrews - dito isso sinto o grande vazio que costumava preencher meu peito se esvaindo e dando lugar a uma tranquilidade sem explicação, mas que eu sei que vem de Deus. Do nada começa a chover e vejo os dois correrem para dentro de casa. - Até logo.... Mãe. - sentindo a paz de Deus, sigo para minha casa.

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