0|0 - Prólogo.

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Manhattan.
18:13PM.

É estranho pensar que muitos de nós, já na fase adulta, passamos constantemente por uma montanha russa emocional. Acontecimentos os quais antes, talvez, achávamos difíceis de ocorrer, agora podem aparecer em nossa rotina monótona com uma facilidade absurda, ou então, vir a surpreender nos momentos mais inadequados. Resumindo, é o famoso clichê inúmeras vezes ouvido por mim, quando adolescente, dos pais ou professores cuja vida não estava lá nas melhores fases.

Sentindo minhas pernas já doerem por conta do vento gelado que bate contra mim e pelo fato de não haver um assento sequer disponível no interior do barco, resmungo, tentando tirar o par de salto alto dos pés, mas sem utilizar as mãos. Quando se trata de uma disputa para ver quem consegue pelo menos um canto para ficar, ainda mais na "Hora do Rush", as pessoas fingem não saberem o que é educação. Se eu me agachar para tentar desvencilhar a tira do sapato, é bem capaz de fazerem de conta que nunca estive ali e simplesmente empurrarem.

E vale constar que o local é a parte externa do transporte, chamada por mim de "varandão", e eu me mantenho espremida por desconhecidos, de frente para as grades médias e resistentes de ferro, as quais permitem o nosso equilíbrio e segurança. Mesmo sendo desconfortável, era até melhor do que ficar no meio de muitos.

No fim, desisti. A ponta dos saltos arranharam a região acima do calcanhar e eu ainda fui capaz de sentir raiva por algo fútil. Mas não me surpreende. Era demasiado provável acabar não conseguindo. Eu que me fiz de ignorante.

O trajeto dura cerca de vinte e cinco minutos. Quando chegamos ao porto, nem me dou ao trabalho de sair do lugar. Torna-se um desafio conseguir atravessar só a porta de acesso à parte interna; faça-me ideia pôr finalmente os pés no chão da estação em pouco tempo. Indo com calma é menos estressante.

— Moça, sua bolsa está aberta - alguém disse ao passar perto. No entanto, ao virar, não me deparei com o suposto sujeito. Então, na dúvida se foi direcionado a mim, abaixei o olhar e verifiquei o detalhe. Realmente estava, porém dou de ombros. Iria sentir qualquer movimento suspeito, de qualquer forma.

Atravessando já a avenida, percebo a ausência dos possíveis ônibus na direção de casa. Suspiro pesado, demonstrando o tamanho cansaço carregado pelas minhas costas desde manhã. Ou melhor, a descarga da pressão cuja ansiedade causou-me cinco horas atrás. Nessa altura do campeonato, não dou mais importância à determinadas coisas. Por isso, acho que posso ser vista como uma idiota andando pelas calçadas.

Ao parar de frente a uma confeitaria conhecida, seguro na alça da bolsa e analiso a situação. Por ser antiga, é vista como um ponto turístico, devido às características dos anos vinte e a grande presença da cor dourada, por exemplo. De fora, é possível ver a maioria das mesas ocupadas. Portanto, há duas opções: ou eu empurro aquela porta, ou simplesmente retorno ao ponto de ônibus, poupando-me da vergonha. A primeira, sem dúvidas, é a mais conveniente.

Empurro a porta.

— Mesa para um, por favor - digo cansada, pegando um panfleto qualquer apenas para fingir não estar percebendo os olhares sobre meu vestido repleto de lantejoulas coloridas e franjas brancas na ponta, sombra preta nas pálpebras e batom vermelho ocupando os lábios. Além da ridícula pena branca na minha cabeça, sustentada por uma tira preta ao redor do crânio e uma pérola falsa vermelha.

O funcionário assente, e aponta para a fila de espera logo ao meu lado. Continuo com os olhos focados nos textos do panfleto.

Nisso, acabo sabendo que nas quintas-feiras, ou seja, hoje, sempre ocorre um grupo de apoio no segundo andar do estabelecimento, nem sempre voltado a assuntos meio trágicos, como: "Aprendendo a lidar com o câncer." Procuro pelo horário, e agrado-me com o que leio.

VENUS [손호] - kim jongin.Onde histórias criam vida. Descubra agora