CAPÍTULO 3

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A viagem de ônibus passou muito mais rápido do que ela imaginou. Talvez foi a excitação, ou talvez apenas o grupo de turistas que se sentou atrás dela, e conversavam animadamente em português. Lila conseguia compreender bem o que diziam, pois era filha de mãe brasileira e pai americano. Provavelmente se tratavam de intercambistas que resolveram, como ela, aproveitar o dia de folga no festival de Jubee.

Ao descer do ônibus, deu-se conta de que não havia pesquisado como chegar ao local do festival. E isso, na verdade, foi uma boa surpresa. Logo ela, sempre precavida, hoje havia se deixado levar pela empolgação e simplesmente embarcou numa aventura sem nenhum planejamento. Sorriu para si mesma ao perceber isso, e logo à frente avistou o grupo de intercambistas, checando o celular, provavelmente pegando direções. Decidiu segui-los.

Como previsto, o grupo a levou diretamente para uma aconchegante praça, onde parecia ser o centro de Jubee. A estrutura já estava montada: várias cadeiras posicionadas em frente a um telão. Ali por perto, muitos grupos e famílias sentavam-se na grama e almoçavam em seus piqueniques. Apesar do frio, o tempo estava bom e fazia sol. Isso era bastante comum no inverno daquela região: quando não estava nevando, o tempo abria e as pessoas gostavam de ficar ao ar livre.

Ao redor da praça, havia incontáveis lojas e restaurantes. Como não havia tido a ideia – nem o tempo – de se preparar para um piquenique, Lila caminhou em direção aos restaurantes.

Sentou-se em um pequeno bistrô com mesas ao ar livre e, enquanto ainda olhava o cardápio, sentiu uma mão pousar em seu ombro, seguida por uma voz, que disse:

- Ora, ora. Olha quem está por aqui!

A luz do sol, que estava contra ela, atrapalhou um pouco a visão de Lila. Mas não precisou conseguir enxergar o rosto da pessoa; bastou botar os olhos nos cabelos loiros cacheados e imponentes.

- Bri?! – Lila levantou-se subitamente com a boca entreaberta num sorriso bobo, um misto de surpresa por rever a amiga, e desconforto pelo tempo que passou sem dar notícias. Não sabia exatamente o que fazer, então aguardou que Bri desse o primeiro passo. Esta, por sua vez, não hesitou e investiu num abraço muito apertado.

Isto deixou Lila bastante aliviada. A amiga não guardara mágoa pelos inúmeros e-mails e mensagens não respondidos, e ligações não atendidas. E Lila, que na época não sabia bem porque fazia isso, apenas não sentia vontade de responder, hoje via claramente o motivo de suas escolhas. Por muito tempo, apenas Dave foi suficiente. Não precisava de mais ninguém.

Quando foram se soltando do abraço, e Lila compreendeu que teria que olhar a amiga nos olhos muito em breve, uma sombra de pesar atingiu sua expressão. Como pôde simplesmente ignorar os amigos por todo esse tempo? Como pôde acreditar que a única coisa de que precisaria na vida era um homem, até mesmo mais do que dela mesma?

Por breves segundos se perdeu nesses pensamentos, mas foi o suficiente para Bri captar seu olhar sombrio.

- Está tudo bem? - Ela perguntou, ainda com uma mão no ombro de Lila. Seu rosto refletia um interesse genuíno na pergunta.

O que aconteceu dentro da mente de Lila em seguida foi um turbilhão de pensamentos. Ela teve vontade de abrir o jogo com Bri, explicar o momento que estava vivendo, de incertezas, de não ter o emprego que gostaria e de estar questionado se fizera a coisa certa ao se mudar para Lake City. Mas o que de fato respondeu foi:

- Sim... Tudo bem! – Fez uma pausa e forçou um sorriso. – E você?

- Ahn... Tudo bem também. – Respondeu Bri, claramente não engolindo. – Faz um tempinho, né?

Consigo MesmaWhere stories live. Discover now