Aos poucos, Donato recuperou a consciência no chão do motel.
Abriu os olhos e logo percebeu que, sem saber como, estava sóbrio, apesar de lembrar-se nitidamente que havia bebido muito.
O mecânico ficou confuso ao ver todas aquelas garrafas de cerveja espalhadas pelo chão. Forçou a memória e não se lembrava de tê-las comprado. Estranhou que elas pareciam não terem lhe causado nem o mínimo mal-estar. Estava sóbrio, sem dor de cabeça e poderia jurar que nem mesmo o seu hálito parecia ser o de alguém que enchera a cara de cerveja.
Donato podia lembrar-se nitidamente de tudo o que ocorrera ali naquele quarto, exceto de ter bebido toda aquela cerveja. Porém, era como se não tivesse sido ele quem praticara todas aquelas atrocidades...era como se ele tivesse abandonado o próprio corpo para dar lugar a algum ser estranho que praticara tudo aquilo.
Com formação médica, lembrava-se de casos onde pessoas tinham a negação de sua própria doença. Talvez ele também estivesse se ausentando daquela responsabilidade com uma explicação ilógica daquelas.
Olhou a cama desfeita, molhada de cerveja. Lá estavam as algemas, provando que sua memória não estava lhe pregando uma peça maldosa. Pequenas manchas de sangue destacavam-se no lençol branco.
Donato sabia de quem era aquele sangue: de seu filho adotivo Tiago.
_Meu Deus! O que foi que eu fiz? Devo estar louco!_sussurrou confuso.
Ele sabia o que tinha ocorrido ali: ele sequestrara, algemara e torturara psicologicamente o seu filhote.
Estranhou lembrar-se de Tiago como "filhote" e não mais como o gay que ele desprezava até menos de 24 horas atrás.
Sentou-se na cama, desolado, lembrando-se de cada detalhe do que se passara ali. A imagem de Tiago encolhido naquela cama, o olhando como se ele fosse um monstro, pedindo misericórdia e prometendo não denunciá-lo pra polícia.
Aquele era o Tiago que ele havia criado...aquele era o Tiago que ele havia ajudado a sobreviver depois daquela tragédia monstruosa que quase o fizera dar cabo da própria vida...aquele era o Tiago que se jogara na frente dele para protegê-lo do ladrão armado na cozinha de sua casa.
Como alguém que estava sendo torturado daquele jeito poderia ter prometido não denunciá-lo à polícia? Don sabia que Tiago não estava mentindo...que realmente não faria isso...mesmo estando ciente que o pai adotivo merecia ser preso por aquele crime tão covarde!
O mecânico tampou o rosto com as mãos e começou a chorar: não bastasse a dívida que tinha com Tiago a respeito daquele episódio do assalto onde o rapaz lhe salvara a vida...agora também essa.
_Tiago, me perdoe...me perdoe..._sussurrou aflito e arrependido.
Donato levou um susto quando Miguel e Ulisses irromperam no quarto de repente.
_Don! O que aconteceu?_Miguel tocou em seu ombro aflito._Você está bem?
Os homens olhavam aquele cenário...as garrafas de cerveja espalhadas pelo chão, a cama desarrumada, as manchas de sangue, as algemas... e puderam deduzir o que havia ocorrido ali.
_Então o doutor Álex Toledo falou a verdade, Don?_Ulisses arregalou os olhos, parecendo não acreditar.
Envergonhado, o mecânico apenas assentiu sem conseguir encarar os amigos.
Deduziu que dizer a eles que não se lembrava de ter bebido tanto e nem mesmo de ter comprado tanta bebida pareceu não ser prudente: achariam que ele estava mentindo ou achariam que ele estava louco!
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O SINAL DE CAIM-2ª parte-Armando Scoth Lee-romance gay
RomanceDoutor Álex Toledo achava que era um homem poderoso, que poderia ter qualquer homem que desejasse, capaz de controlar as pessoas física e mentalmente e capaz de manter oculto o seu passado sombrio. Mas, o que ele não contava era que iria se apaixona...