Epílogo

1.7K 330 70
                                    

"Eu ainda penso em morrer. E mesmo que a ideia me cause dor no peito ou tremor nas pernas, eu ainda a vejo como uma opção para sair dessa merda na qual estou envolvido. Mas, não consigo pensar nisso na maior parte do tempo porque o rosto de Jongin me vem à mente ou a sua boca num beijo estalado em minha bochecha me distraindo das minhas doenças e dos meus próprios pensamentos.

Ele não me permite pensar nela na maior parte do tempo. O amo por isso. Acordar e ver sua expressão adormecida ao meu lado ou seu torso nu repousando meio de lado me deixa orgulhoso. Me sinto pouca coisa para ele. Sou um ser incompleto para ele. Mas Jongin se encarrega todos os dias de me dizer com seus beijos, palavras e carícias o porquê devo continuar vivo, o porquê devo continuar ao seu lado. Ele me leva para a fisioterapia, me apoia na reabilitação e inclusive quer que a gente faça terapia de casal. Me ver como seu namorado me faz corar e Jongin se limita apenas a rir e beijar o topo da minha cabeça dizendo que eu sou seu. Tão seu que não posso decidir a minha própria morte.

Não sei se isso é uma relação de dependência. Eu ainda quero morrer. Mas também morro de amor por ele, por como ele me descobre, por como abre caminhos em meu corpo doente e o faz despertar a sua maneira. Sinto as carícias de Jongin, sinto sua pele nua contra a minha e o sinto dentro de mim, de todas as formas possíveis. E é delicioso. E eu esqueço por um momento, o que é morrer, a esclerose, minha incapacidade e me sinto alguém com ele na cama e no coração. Me sinto mais vivo do que nunca nesses momentos em que fazemos amor.

Eu não quero que Jongin se acomode comigo, não quero ser uma extensão dele. Não quero ser um parasita em sua vida. Porém, não posso evitar fazer com que a minha imaginação voe quando ele dança na academia de dança e flutua como se tivesse asas. Sou imensamente feliz. E quero que ele possa continuar voando com essas asas invisíveis que lhe foram dadas. Mas então, ele me olha, sorri e me aperta o peito porque suas asas são tão bonitas enquanto eu me debato no chão. Às vezes, ele me leva ao salão e em seus braços me permite sentir as vibrações da música, ou com meus braços enganchados em tecidos me eleva do chão e me faz voar ao som da música; assim como ele. Jongin pega as minhas asas fraturadas e me transforma em um anjo como ele, me permite andar e dançar. Me faz esquecer da minha própria existência e ser alguém livre do meu corpo dolorido e intumescido. Por Jongin, esqueço que sou um pássaro morto.

Sei que Jongin faz essas coisas porque quer que eu me agarre a vida. Sobretudo a vida com ele. Há algumas semanas ele trouxe um novo cachorro para casa dizendo que era um bebê sem lar e que poderíamos cuidar dele juntos. Era cinza escuro e o nomeou como Hochoo. Sei que ele faz isso porque quer que eu tenha mais responsabilidades nesta vida além dele e Mukmool; e é divertido e doloroso ao mesmo tempo. Nossas ideias são opostas e sinto que estamos lutando um contra o outro o tempo todo. Às vezes brigamos, gritamos um com o outro e eu não deixo ele me tocar, o que faz com que Jongin sofra terrivelmente e saia de casa por várias horas. Sei que ele sofre ao não me tocar porque precisa disso e além do mais, sabe que já tentei me suicidar. Ele não esquece disso. Acha que não me tocar é uma forma de experimentar a vida sem mim ao seu lado. Eu sei disso e mesmo assim, eu castigo-o dessa maneira, e me odeio por ser cruel, mas não posso evitar. Tenho em mente que eu ainda sou um doente crônico, que minha vida se apaga como uma vela a ponto de acabar e que logo eu não poderei me mover mais e Jongin estará ali, me vendo falhar e então ele irá embora e eu estarei nisso sozinho. Isso me apavora. Mas então, ele volta, chora, se agarra à mim dizendo que me ama, pede que eu não o deixe porque sou o seu tudo e então, eu choro e digo que o amo e o abraço. Porque é verdade. Mas, eu não posso prometer não deixá-lo. Ainda não.

Eu só posso aproveitar com ele cada hora e cada minuto do dia. Deixei estabelecido que a minha herança ficará em seu nome porque Jongin é meu esposo. E que se ele quiser, pode viajar comigo para a clínica de morte para estar comigo em meus últimos momentos. Ele ainda não sabe. Mas saberá quando eu não for mais forte e quando eu precisar de sua mão amorosa e de seus beijos em minha têmpora antes de dormir... para sempre."




🐩




*NOTA DA AUTORA*: Esta fanfic foi criada a partir de um homem que ficou doente de esclerose múltipla, e como ele considerava o suicídio assistido como uma boa opção de saída definitiva ao não poder suportar sua enfermidade. Ele recebeu ajuda de uma mulher com a mesma doença que a sua, porém, ele nunca descartou a possibilidade de morrer. Me levou a pensar em Eutanásia e como podemos pensar nesse tipo de situações e quão donos somos de nossos corpos diante de uma doença de tal magnitude, e como respondemos diante das responsabilidades da vida, como o amor, os filhos, a carga ética, a vida em si... Somos feitos para a sobrevivência.

Eu tive que ler bastante sobre as clínicas de morte e esclerose. Houve coisas que omiti para dar sentido a história, como o smut; espero que entendam. Assim como a demora, é difícil falar de suicídio quando houve um tão perto; e quem sabe alguma leitora shawol esteja por perto... um grande abraço para cada uma.

Espero que perdoem a minha falta de inspiração e demora e obrigada por apoiar meus textos.

O Dia Depois da Minha Morte [TRADUÇÃO PT-BR]Onde histórias criam vida. Descubra agora