02 | girassóis

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02 | G I R A S S Ó I S

"Mesmo sabendo
que não há tempo de sobra
eles escolhem viver
a versão mais bonita da vida
- girassóis."
— Rupi Kaur

Pregar meus olhos foi impossível naquela noite, Sky.

Minha mente revivia o episódio do bar incansáveis vezes. Tudo o que eu conseguia vislumbrar era o seu belo sorriso e, curiosamente, cada parte do meu corpo clamava por você como nunca havia clamado por alguém antes.

Quando o relógio alcançou as onze horas da manhã, eu estava em frente ao terminal de Liverpool do jeito que você havia me proposto na noite passada. Meus pés estavam inquietos, batucando o chão em puro nervosismo, enquanto meus olhos buscavam por você.

Sempre foi assim. Independentemente de onde eu estivesse, meus olhos buscariam por você. Sempre e para todo o sempre.

E então eu finalmente te vi.

A primeira coisa que avistei foram seus lindos cabelos claros, caídos sobre os ombros. Você usava a mesma touca da noite passada, mas parecia ainda mais linda sob os raios de sol. Eu me levantei do banco em que estava sentado e, inexplicavelmente, eu soube que você tinha certeza de que eu viria quando sorriu para mim.

Céus, você sempre foi tão convicta de si.

— Está pronto? — você me perguntou, estendendo-me um dos cafés que tinha em mãos. — A viagem será longa, espero que você não enjoe em trens.

Antes que eu pudesse lhe perguntar para onde iríamos, seus dedos compridos e finos levantaram duas passagens somente de ida para a Irlanda. Eu pisquei, surpreso, mas com o tempo aprendi a lidar com toda a sua praticidade.

É claro que você já tinha aquilo resolvido.

Você sempre foi assim, Sky.

Prática.

Complexidade simplesmente não era com você.

Então você me puxou pela mão e, por mais patético que aquilo pudesse parecer, eu senti o ardor na minha pele diante do seu contato. Você fazia com que eu me sentisse um tolo, completamente incapaz de agir diante da sua proximidade. Desde o nosso primeiro cruzar de olhos, eu estive completamente ciente do efeito que você tinha sobre mim.

E, não vou mentir, eu adorava.

Eu adorava a forma como uma onda elétrica percorria todo o meu corpo quando você me tocava, desde os meus dedos do pé até o último fio de cabelo. Adorava a forma como seu sorriso aquecia meu coração, como sua risada chegava como melodia aos meus ouvidos, como seus olhos cravados ao meu faziam o restante do mundo desaparecer.

Adorava a covinha que se afundava na sua bochecha direita quando você sorria. Adorava a forma como você apertava os olhos enquanto lia um livro. E amava o fato de você encher sua boca inteira de água, parecendo um esquilo, antes de começar a engolir.

Eu. Adorava. Cada. Particularidade. Sua.

O trajeto até a Irlanda foi uma ótima oportunidade para que eu te conhecesse um pouco mais afundo; depois de uma conversa profunda, cheguei à conclusão que você era uma mulher teimosa para caralho que simplesmente não queria viver da forma como lhe era imposto pela sociedade.

Naquele momento, eu te admirei ainda mais.

Você não era apenas uma garota que sonhava em viver explorando o mundo. Você era destemida, ousada e determinada.

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