03 | a d e u s

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03 | A D E U S

"Se eu morrer, por favor não chore, só olhe para o céu e diga adeus."
— desconhecido.

A minha ruína aconteceu naquela noite chuvosa de setembro, você se lembra?

Provavelmente não.

Eu estava doente e você insistiu em ir atrás dos remédios sozinha.

Merda, Sky. Nós nunca saíamos separados.

Esperei você por horas. Te enviei uma dúzia de mensagens e te liguei incontáveis vezes, mas você nunca me retornou. Eu sabia que algo havia acontecido. A dor dilacerante em meu peito, quase física, me dizia que você não estava bem.

Afinal, você nunca deixava de retornar minhas ligações.

Ou sumia durante horas sem dar notícias.

Sky, espero que saiba que em momento algum eu cogitei a ideia de você ter me deixado.

Fugido com outro.

Aquela não era você.

Eu estava pensando na pior das possibilidades quando meu celular tocou. Por um momento, eu senti um grande alívio ao imaginar ser você. No entanto, a minha paz acabou quando não ouvi a sua voz ao outro lado da linha, mas, sim, um enfermeiro pedindo que eu comparecesse ao hospital.

Urgentemente.

E, em menos de dez minutos, eu estava lá, perambulando pelos corredores desesperadamente à procura do seu. Meu coração já não estava mais no meu peito; ele havia pulado pela minha garganta quando me disseram que você havia sofrido um acidente. E, segurando-o nas minhas mãos, ele já não batia mais; havia parado quando me disseram que você estava em cirurgia.

Esperei durante mais tempo do que poderia me lembrar. O barulho do relógio era tudo o que eu podia ouvir enquanto estava naquela sala branca.

Tic. Tac.

Tic. Tac.

Tic. Tac.

Eu chorei.

Chorei tanto.

Chorei até que não houvesse mais lágrimas para chorar. Chorei até o ponteiro na parede congelar. No entanto, eu tentava manter minhas energias positivas, da forma como você havia me ensinado.

Depois de um tempo, me levantei.

Eu não suportava mais ficar no escuro, Sky. Eu precisava saber se você estava bem.

É claro que não me deixaram.

Foram doze horas de cirurgia, Skyler.

Para absolutamente porra nenhuma.

Você estava com uma lesão na medula espinhal e não voltaria a andar. Sua atividade cerebral, segundo aos médicos, não era nada promissora. As chances de te ver acordada novamente, com aquele sorriso que me tirou o fôlego desde o primeiro momento em que eu o vi, eram mínimas.

E, ironicamente, eu havia finalizado meu livro naquele mesmo dia, Sky.

No mesmo dia em que, em um piscar de olhos, nossas vidas tornaram-se um caos.

Céus, Sky, eu precisava tomar uma maldita decisão entre esperar que você acordasse para ter que lidar com uma notícia que te destruiria por completo ou desligar os aparelhos e te libertar.

Eu sabia que você não suportaria viver em um mundo sem poder usar suas pernas para escalar árvores ou pular de penhascos. Eu sabia que você não suportaria não correr no campo florido da Holanda ou não nadar com os peixes na Grécia.

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