Nicola Rans Fiedler

Uno

Estou numa boate prestes a fechar, quando eles entram. Três homens altos que estranhamente estão com os mesmos paletós roxos e óculos escuros pretos. Droga! Será que não podiam nem ao menos esperar eu desmontar minha drag? Eu nunca lutei de salto, mas imagino que com essas botas rosa que vão até meus joelhos eu estarei arrasando. Tomo o resto da bebida em meu copo e me levanto para encara-los.

“Vocês são bonitinhos… querem uma bebida?” pergunto mexendo na ponta da minha peruca lisa e azul.

O da esquerda pega uma garrafa que está na mesa ao lado e a quebra, deixando o gargalo com pontas afiadas e mortais, rosnando pra mim.

“Isso vai ser divertido”

O barman parece assustado no balcão e corre para se esconder atrás da grande caixa de som que está tocando Sweet Dreams.

Eles vêm pra cima de mim e faço uma estrela para a esquerda subindo em cima de uma mesa e então, chuto a cara do único que veio na minha direção. Os outros dois se apressam pra corrigir o erro ao mesmo tempo em que quebro uma cadeira nas costas do que sentiu o gosto da minha bota.

Demorou quase quinze minutos, entre socos e chutes, mas eu consegui acabar com eles mais rápido do que o habitual.

Tem um arsch que me odeia tanto que de vez em quando manda alguém pra tentar me matar, mas eles nunca conseguem.

Eu trabalho de segunda a sábado numa boate gay, num salto de 15 centímetros em um show cheio de dança e acrobacia e eles realmente acham que podem contra mim? Es wird nicht so einfach sein, Kamerad. Precisa de muito pra destruir Nicola Rans Fiedler.

Muito, se é que me entendem…

Ao chegar ao meu apartamento, logo me desmonto e viro o patético Russell Salzitv, que foi viciado em drogas durante o inicio da adolescência e sem querer atropelou o filho de um traficante meia boca do bairro. O que quer se livrar de mim. Honestamente, ele sabe que servi o exercito durante a guerra da ressurreição e mesmo assim tenta me matar. Arschloch!

Você deve estar se perguntando que guerra é essa que mencionei… Bom, o ano é 1988 e os malditos alemãs orientais depois de anos vivendo na loucura finalmente… enlouqueceram. Eles do nada (bom, não tão do nada assim, anos e anos de lavagem cerebral socialista) decidiram lutar contra a gente numa tentativa de emancipação/escravidão, no que chamaram de “fim a espionagem ocidental”. Acabamos ganhando, pois obviamente tínhamos mais apoio do que aquele lado cheio de países falidos pós-segunda guerra.

Depois disso, a Alemanha se tornou a filha perfeita do mundo, moldada aos olhos da união ridícula da América/Europa. A cidade foi reconstruída em tempo recorde e agora desfrutamos da melhor música e não temos só loiros na cidade. É serio, quando vi um ruivo natural pela primeira vez, precisei transar com ele. Bom, Nicola quem conseguiu essa proeza.

“você está suada” meu assistente virtual me diz assim que entro no quarto.

Todas as pessoas que moram sozinhas precisam de um. É um computador moderno criado por um americano esquisito. Agora temos como melhor amigo um robô. Uhu!

“tentaram de novo”

“fico feliz que esteja bem, há algo que eu possa ajudar?”

“não. Desligar”