10 de março, 2023
Sexta-feira
Como ser dispensado no pior dia possível
A noite estava bem fria, a neve se acumulava em diversos locais. Os tons escuros predominavam, tanto nos prédios como nas roupas das pessoas – que passavam apressadas pelas ruas –, me levando a crer que o inverno parecia ser sempre a estação mais escura, onde a brancura da neve servia apenas para contrastar com todo o resto. Já haviam se passado quarenta e dois minutos do horário marcado, tudo o que me restava era tentar manter minha atenção na vida alheia através da grande janela em vidro ao meu lado para não sucumbir a um ataque de ansiedade a cada segundo a mais.
Haejin sempre se atrasa, dessa vez não seria diferente, mesmo que naquele dia completássemos quatro meses de namoro. Mesmo que fosse importante, ele se atrasava sempre, certo? Sim, correto. Entretanto, meu coração nunca se acostumou com o "sempre" e minha mente é a minha pior companheira nessas horas de espera, onde ele já foi sequestrado, torturado e assassinado em trinta formas diferentes. Algumas pessoas chamam isso de paranoia, bem, eu chamo isso de viver. E assim estou segurando as minhas próprias mãos numa tentativa falha de tentar me acalmar.
Ele não pode ter sido sequestrado por uma gangue russa, ou pode?
Peguei o celular pela trigésima oitava vez naquela noite. Não, eu não estou contando as vezes que segurei o aparelho em mãos apenas para me martirizar com o relógio que funcionava sem se importar com meu coração que parecia querer saltar da minha boca a qualquer instante. Não, imagina. Nem estava contando que o garçom de bigode torto já havia passado por mim dezoito vezes e que, em onze delas, ele me encarou e tudo o que eu fiz foi acenar desconcertado, pois já estava cansado de pedir água. Afinal, quando estou nervoso, qualquer outra coisa que enfie estômago à dentro é posta para fora, então água era minha única opção.
Só consegui respirar aliviado ao ver meu namorado atravessando a rua com seus passos longos e charmosos. Embora seu rosto estivesse preocupantemente sério. Sério demais. As linhas do contorno da sua boca pareciam presas por fios invisíveis, formando uma leve declive. Mesmo a distância, notava-se a tensão no seu corpo. Logo, o pouco de alívio, que senti ao vê-lo, esvaiu-se junto do suor das minhas mãos. E assim que Haejin entrou no restaurante, tive a certeza de que algo estava errado, pois ele estava com aquela mania de estalar os dedos polegares mesmo que estes já não produzissem mais som algum. Contei seus treze passos e o assisti puxar a cadeira à minha frente. A madeira arranhou o piso. Ele sentou e apoiou os cotovelos na mesa, unindo os dedos de ambas as mãos para, logo em seguida, descansar o queixo angulado por cima deles.
— Esperou muito? — Perguntou. O timbre da voz levemente trêmulo, denunciando nervosismo.
O que o faria agir daquele jeito? O trabalho? Uma demissão?
— Jungkook? — Sua voz me chama, seu olhar passeia pela mesa e suas mãos alcançam o cardápio.
— Ah, não muito, Hae. — Na verdade, cheguei no restaurante doze minutos antes do combinado, o que contabilizava um total de cinquenta e sete minutos de espera. Porém, para quê contar? — Quer pedir logo o jantar ou prefere uma entrada antes? Me disseram que o bulgogi daqui é muito bom.
— Quem disse? — Haejin levantou o olhar do cardápio e me olhou de maneira estranha. Se houvesse algum motivo, acreditaria que ele estava irritado comigo.
— Jimin me disse. — Respondi e esperei por mais alguma questão ou comentário. Contudo, ele pareceu não se importar com minha curiosidade e, em resposta, apenas soltou um "Ah" desinteressado. Os minutos seguintes passaram como uma verdadeira tortura psicológica. Ele estava frio, distante, bem diferente da sua maneira habitual.
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Arquétipos Patéticos ● Jikook ●
Fiksi Penggemar"É aquela coisa; na vida, não há vilões ou mocinhos, apenas pessoas. O melhor e o pior. Defeitos e qualidades. Acertos e falhas. Humanos sendo antônimos dos outros e de si próprios, porque não basta sabotar apenas a vida alheia, adoramos estragar co...