Capítulo 2

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Jade

Maya e eu estávamos no meu carro indo rumo ao restaurante almoçar juntas e colocar a conversa em dia. Percebo uma melancolia em seu olhar enquanto  dirijo  concentrada no trânsito.

— Não está feliz? — Murmurei. — Afinal, conseguimos fechar o melhor negócio de nossas vidas. — Forcei um sorriso tentando passar animação. — Agora nosso trabalho vai ficar conhecido além das fronteiras brasileiras.

— Hã — Maya, encarou-me alheia. — Lógico, amiga! Esse era o meu objetivo, desde que me formei e fui trabalhar na empresa, ter meu trabalho valorizado e reconhecido.

— Pois então, chegou o momento, se anime! — Lancei uma piscadela. — Mas desconfio que esse desânimo é por outro motivo.

— Somente cansada psicologicamente. — Comentou, observando-me desanimada. — O mundo dos negócios ainda é muito cruel para uma mulher negra como eu, que conquistei tudo que tenho a unha.

— Mais um motivo para se orgulhar. — Lhe dou um sorriso confiante. — Talentosa, linda, inteligente.

— Você é minha melhor amiga, suspeito desses seus elogios. — Maya diz com meio sorriso. — Mas sou orgulhosa de minhas conquistas.

— Isso aí, ainda tem um namorado lindo! — gargalhei.

— Ryan, não é meu namorado. — Negou emburrada. —  Somente cama. Temos química, só isso. — Completou.

— Humm, sei. — Debochei. — Sua cara diz tudo. Deveriam assumir logo. Todos já sabem mesmo.

— É complicado. — Deu de ombros. — Fala tanto de mim e você Jade?

— Eu o que? — Indago franzindo a testa.

— Nunca te vi apaixonada.

— Porque nunca me apaixonei, ué.

— Roger, gosta de você. — Ela diz fazendo uma careta de desagrado. — Se bem que para aguentar aquele poço de ignorância é melhor ficar sozinha.

— Roger é meu primo! Nunca tive nenhum tipo de maldade com ele. — Digo certa das minhas palavras. — Esse interesse de Roger por mim é influência do meu pai. Mas não se preocupe quando eu me apaixonar, será a primeira a saber.

— Acredito que seja mesmo! Seu pai faz qualquer coisa pra te ver com ele. Por pura ambição, ele acha Roger o genro perfeito. Já deixou claro na empresa que Roger será seu sucessor.

— Infelizmente se deixou contaminar pelas loucuras do meu pai. — Enruguei a testa em desagrado — Joaquim é meu pai e o amo! Mas não fecho os olhos para as coisas erradas que faz. Ainda bem que Ryan nunca se deixou influenciar, exatamente como eu. Diferente de Roger que vive à sombra dele.

— Verdade, apesar de gêmeos, são completamente diferentes. — Conclui, Maya pensativa.

— Você que o diga. Consegue diferenciar como ninguém. — Seguro a risada.

— Qualquer um com o mínimo de atenção consegue, Jade. — Maya, revira os olhos.

— Eu vivo os confundindo. São idênticos! — Digo manobrando meu carro. — Mas depois resolvemos isso. Chegamos! Estou morta de fome — Digo estacionando o carro.

—Vamos. Também estou com fome. — Maya diz em concordância.

Deixamos meu carro caminhando lado a lado e a tarde segue tranquila entre o almoço e volta para a empresa.

Heitor

Desperto bem cedo, antes do sol nascer como tem sido todos os dias desde que cheguei no Rio de janeiro com muitos sonhos e objetivos na bagagem. Estava trabalhando na praia provisoriamente como ambulante para completar minha renda e me manter nessa cidade até que conseguisse meus objetivos. Tinha me formado em administração com muito sacrifício e agora estava ansioso para conseguir um emprego na área e começar a exercer tudo que aprendi. Desejava crescer na vida. Poder voltar para minha cidade natal algum dia e ajudar minha mãe e meu pai que ficaram lá no interior de Goiás na lida, cuidando da terra juntamente com minha irmã caçula. A vida no interior é muito difícil e as oportunidades quase nulas. Por conta disso, decidi vir para o Rio de janeiro atrás de uma chance. Vivi uma vida inteira de escassez e tinha decidido mudar o rumo da minha vida. Sempre fui batalhador e sabia que conseguiria. Desde que cheguei tinha conquistado muitas coisas e ter concluído minha faculdade era minha maior conquista. Passava por muitas dificuldades mas nunca ficava parado, me esforçava para conseguir meu sustento e me manter dignamente. Já tinha trabalhado como garçom, vendedor, barman entre outras coisas. O que aparecia pegava. Não podia me dar o luxo de negar trabalho até que conseguisse me estabelecer na cidade, como hoje que começaria a trabalhar como ajudante em um quiosque na praia de Copacabana.

Decido me preparar para ir a copacabana, não antes conferir no notebook se tinha alguma resposta das inúmeras entrevistas feitas ao longo do mês. Confiro rapidamente minha caixa de email e constato que está vazia. Caminho até o banheiro e faço minha higiene pessoal, logo depois de um demorado banho deixo minha casa em direção ao metrô. Algum tempo depois estou caminhando pelo calçadão e não demoro a localizar o quiosque Por do Sol em plena orla. Me aproximo encarando o ambiente com curiosidade e vejo um senhor de meia idade se movimentando com agilidade dentro do quiosque.

— Bom dia. — Cumprimento chamando sua atenção. — Sou Heitor Souza e estou à procura do senhor Antônio.

— Bom dia. — Devolveu meu cumprimento. — Heitor? Foi com você que falei ontem por telefone, sobre trabalhar aqui? — Indagou levando a xícara de café que estava bebendo até a pia.

— Sim, sou eu. — Confirmo com um menear de cabeça.

— Entre, por favor, meu rapaz! —  autoriza abrindo a porta de acesso. Em seguida, aperto sua mão e sinto confiança à primeira vista. Me parecia ser um bom homem. Conversamos como era o funcionamento do quiosque, os horários de maior movimento, o que deveria fazer e por último qual seria a carga horária a cumprir.

Depois de tudo acertado, os primeiros clientes começam a chegar e daí em diante não paramos mais. O movimento era intenso e mal houve tempo se quer almoçar. Ao entardecer tudo ficou mais tranquilo, a praia havia diminuído os banhistas consideravelmente, com isso caiu o movimento só então consegui respirar aliviado e decido então a limpar algumas mesas para aproveitar e observar o pôr do sol e tudo que a natureza nos proporcionava. O céu em tom alaranjado enquanto o sol se escondia, era a visão perfeita de um começo da noite. Observo a orla, o mar, e não demoro a voltar a observar o céu. Sinto uma paz que poucas vezes havia sentido em toda minha vida. Depois do que me pareceu segundos, minha atenção foi focada nos prédios ao redor e de repente como um ímã sou atraído por uma presença feminina na sacada de uma das coberturas contemplando também o pôr do sol. Sinto-me atraído por sua presença e mesmo mal conseguindo ver seu rosto não desvio minha atenção. Era uma sensação estranha, diferente de tudo que já tinha acontecido comigo. Era como se eu a conhecesse de algum lugar. Muito além de conhecer era reconhecimento.

***

Bjs da Su 🌹







Predestinada ao CEO/ Completo na Amazon Onde histórias criam vida. Descubra agora