E agora?

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- Eu deveria saber? - olhei debochado pra ela.

- Se você tá no perfil dela, deveria? - respondeu Larissa com o mesmo deboche.

- Você nunca navegou sem rumo pelo instagram stalkeando pessoas desconhecidas?

- Eu não... - Larissa começou a falar com aquela vozinha devagar - eu só tenho olhos pra você... - disse chegando perto do meu rosto - ...Pimentel. - fez carinho no meu rosto e deitou no meu colo rindo.

- Ah tá bom Larissa, me engana que eu gosto - eu disse meio nervoso e rápido até demais, tentando disfarçar minha timidez repentina.

- Você ainda fica sem graça com minhas brincadeiras - Larissa disse gargalhando percebendo meu desconforto.

Mal sabia ela que já não era mais desconforto.
Ah, meu Deus, desconfortável eu ficava com meus 15 anos.
Era auto controle mesmo...

- Lali, desconfortável? Eu tenho 19 anos no meio da minha cara - respondi revirando os olhos.

- Tá, tá bom, mas você acha que eu esqueci que você tá há meia hora aqui nesse celular e eu ainda não sei quem é Helena? - disse ele olhando pra cima, me encarando, com os olhos de cão sem dono.

- Eu já expliquei, fofoqueira. É só uma fã, pelo o que eu tô vendo aqui - disse.

Eu não ia ficar dando satisfação pra Larissa, dizendo que eu já conhecia e nada mais. Só ia dar abertura pra ela ficar criando as teorias malucas dela.

Garota doida. Eu realmente queria saber o que passa na cabeça dela.

Esses joguinhos acabam comigo. Não é meu jeito de ser, não sou assim, não sou galanteador como ela, mas a gente cresceu assim, a gente se acostumou com esses jogos.
Eu me sinto confortável flertando dessa forma com ela, coisa que eu não faria com mais ninguém.

Essa hora Larissa já tinha levantado e saido do quarto resmungando alguns sons tipo "uhum, tá, tá" e enfim sós. Eu e meu celular.

Na real, eu tava mesmo stalkeando a tal da Helena mas não foi por querer.

Fazem 2 semanas desde o programa de tv em Miami, eu estava rolando pelas notificações do instagram quando vi que fui marcado em uma foto daquele dia e cliquei.

Era a foto de Helena e ela tava agradecendo e todo aquele blá blá blá, mas eu só conseguia focar em nós dois naquela foto. Ela segurava no meu pescoço, nossos rostos estavam colados e ela tinha os pés calçados de vans e um pouco levantados pra alcançar minha altura. Eu fiz um biquinho e ela colocou a língua pra fora.

Cliquei no perfil e saí rolando pelas fotos, tão vidrado que nem vi que já estava nas fotos de 2016, quando Larissa entrou no quarto. Definitivamente eu poderia olhar para aquele rosto 24 horas por dia.

Eu tinha que lidar com o fato de que nunca mais ia ver essa garota e se visse, nossa relação de fã e ídolo ia perpetuar.
Aliás, eu tô mentindo pra quem mesmo? Mesmo que não fosse minha fã, eu não sei lidar muito bem com mulheres... tenho muito a aprender com Lali, ainda.

- 2 dias depois -

- Dá um abraço na sua mãe, filho. - ouvi minha mãe dizer quando eu me preparava pra sair pela porta - Sinto tanta sua falta.

Sorri para dona Paty e fui em sua direção como um filho birrento:
- Eu já te dei dez abraços, mãe. Amo a senhora. Te amo vó. - dei um último tchau de longe pra minha vó e saí.

Me viro depois de fechar a porta pra ouvir aquela vozinha peculiar me chamando pelo apelido que ela tinha me dado:
- Meu amor, e a minha despedida?

Fui de braços abertos e um sorriso no rosto em direção a Lali porém fui pego de surpresa quando a morena puxou minha mão e disse "calma" enquanto me levava pro corredor que separava nossas casas. Arregalei os olhos e minha expressão era de total confusão.

- Larissa?
- Eu disse calma.
- Tá, mas eu preciso ir???
- Primeiro de tudo, fala baixo. - ela dizia enquanto ainda segurava minha mão - Segundo, eu preciso falar com você antes de você ir.
- Precisava ser aqui? Nesse beco?
- Precisava. Para de me interromper. - ela disse séria e trocou nossas posições (ainda sem soltar minha mão). Agora eu estava encostado na parede. - Eu não sei se eu sou a culpada de tudo isso, mas eu sei que quem começou a brincadeira fui eu. A gente brinca dessa forma desde pequenos, a gente finge que tá junto, a gente finge que namora, a gente brinca que se gosta. Mas, de um tempo pra cá eu me questiono: será que ainda é só uma brincadeira? Eu não sei se você pensa que ainda é só uma brincadeira, porque pra mim, definitivamente, já não é mais. Eu não sei pra você, mas gostaria de saber. Não quero forçar nada e não sei se o que vou fazer agora vai te ajudar ou te deixar mais confuso, só sei que eu precisava fazer isso a muito tempo. - Larissa finalizou enquanto colocava minha mão em sua cintura (aquela que antes ela segurava) e em seguida juntou seus lábios com os meus. Foi tudo tão rápido, que não tive tempo de mudar minha feição de desentendido antes de fechar meus olhos e... corresponder.

Um monte de sensações e nenhuma era ruim.
Era como se há muito tempo nós dois precisássemos disso e finalmente nos saciássemos. O beijo que começou lento, terminou lento, para aproveitar cada momento. Escorri entre seus cabelos a minha mão que antes estava em seu pescoço e nos afastei.

- Eu, eu não sei o que dizer - disse com a voz baixa e falha.
- Por enquanto você não precisa me dizer nada, só precisa ir pra Miami antes que perca seu vôo.
- Mas...
- Mas nada, eu fiz o que eu precisava fazer, o que meu corpo e minha mente sentiam necessidade. Infelizmente você tá numa cilada, porque a qualquer hora eu vou querer uma resposta e precisar de um posicionamento. Não agora. Por enquanto só aproveita meu gosto e pensa com amor. - Ela me deu um beijo na bochecha e completou - Vai, vai que seu uber já chegou.

Soltei a mão de Larissa e entrei no carro em direção ao aeroporto. Rumo a Miami novamente. Mas eu não conseguia pensar em mais nada.

Pelo Som de Sua VozOnde histórias criam vida. Descubra agora