black widow | taegi

Guilty.

Eu encarava o meu reflexo no espelho.

Tenho escondido isso há anos. E é muito difícil manter tudo em segredo quando alguém que você ama corre perigo.

Você suportaria a dor de perder alguém que ama, de verdade? Alguém que daria a vida pela sua, que fosse sua alma gêmea?

Eles sempre choram... Eu nunca consegui os proteger, nunca. Eu fazia de tudo, tentava tudo que estava ao meu alcance, mas sempre acontecia, de novo, de novo e de novo.

As feridas só ficam mais profundas em meu coração, como se fossem pedaços de caco de vidro se afundando mais a cada perda dentro da minha carne.

A minha vida inteira foi assim.

O primeiro foi o Bogum.

O nosso relacionamento durou dois anos. Nós fomos muito felizes, ele era uma pessoa maravilhosa, nunca me tratou mal, ou foi abusivo comigo.

Eu tinha 18 anos quando começamos a namorar, eu já tinha me assumido para a família e eles me aceitaram, eu realmente pensei que poderia ser expulso da minha casa, mas a minha mãe abriu os braços e disse que me amaria e cuidaria de mim como se não fosse nada demais. O único medo dela é me perder.

Bogum foi o primeiro namorado que tive, minha mãe o adorava, sempre almoçávamos juntos nos dias de domingo. Ele não tinha uma família, não depois que também "saiu do armário".

Um dia ele me disse que havia me traído. Estava muito bêbado e que não sabia o que tinha acontecido, mas falou que sentia muito, que nunca faria isso novamente. E eu acreditei.

Eu tinha ficado machucado, óbvio, foi uma das piores dores que senti na vida, mas ele me explicou tudo e naquela hora eu o perdoei, ou achei que tivesse perdoado.

Dias depois eu o vi perto da minha casa ficando com outra pessoa. Nesse dia eu tinha voltado mais cedo do trabalho de garçom em uma cafeteria, talvez ele não estivesse esperando que eu visse aquilo.

Naquela hora eu não consegui me mover, fiquei estático.

Ele estava bem ali, beijando outra pessoa.

Não consegui pensar em muita coisa e fui direto para o meu quarto. Não consegui chorar, no fundo eu estava esperando que isso acontecesse. No fundo eu sabia que ele iria me deixar, não sabia como, mas ele iria fazer isso.

Eu o esperei.

- Taetae? - Ouvi a sua voz vindo da sala.

- Estou no quarto.

E ele entrou segurando duas sacolas.

- Eu trouxe comida pra gente, amor. Aqui tem alguns bolinhos e-

- Eu vi. - O interrompi.

Bogum se calou. Eu não via o seu rosto, mas sabia que ele estava com uma feição confusa.

- O que você viu, meu bem?

- Você beijando outro homem, Bogum.

E depois disso nós brigamos, e eu terminei com ele.

Três dias antes de sua morte eu tive um sonho com ele. Seu corpo estava pendurado numa cruz, suas mãos sangravam, assim como sua boca e o lado esquerdo do peito. O corpo de Bogum foi achado em um beco, levou um tiro certeiro no coração e aquilo foi o seu fim.

Chorei dias e noites e me culpei pela sua morte... Nem sabia que eu estava certo. Sim, era a minha culpa.

Logo depois conheci Mark.

Ele era rico, muito bonito e gentil. Jurava que me amava, mas logo eu soube pelas revistas de fofoca que ele estava de caso com um dos seus empregados.

Tive o mesmo sonho que tive com Bogum, mas no lugar dele, estava Mark. E três dias depois, a mesma notícia.

Mark morreu. Um ataque cardíaco fulminante. Sem explicação.

Seis meses se passaram e eu estava curado da dor, mas as mortes ainda pesavam em minhas costas e na minha consciência.

Conheci o Kihyun no parque, eu estava passeando e ele esbarrou em mim, caímos no chão e ele me pagou um sorvete, conversamos a tarde inteira e trocamos números.

Mais um para minha lista.

Namoramos por seis meses e ele me traiu.

E novamente aquele maldito sonho com a cruz, Kihyun estava nela, do mesmo jeito que Bogum e Mark.

Em todos os sonhos, a chuva era de uma cor vermelha, e todas as vezes apareciam viúvas negras subindo pelos corpos até eles não estarem mais ali.

E foi assim que eu descobri que eu sou uma viúva negra.