Capítulo 6: Lapso

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Alice foi obrigada a se desfazer das armas de fogo, jogando-as rapidamente contra o chão, dois metros à minha frente.

Tenho que admitir que a coragem estava alojada em seus ossos, de uma maneira que chegava a ser temeridade; teria previsto a malícia daquelas mulheres se resistisse um pouco mais à ideia de colocar-se em perigo. Ou, talvez, aquele fosse o castigo da deusa, exigindo desgraça.

Solicitou uma espada e deram-lhe. Uma quebrada.

Nossa caçadora cuspiu contra o chão, mostrando o quanto aquela ação causava-lhe desgosto. A gargalhada tomou o recinto em resposta, e, quando Al descartou o latão decidida a lutar com o punhal, novamente se divertiram. A lâmina curta era irmã gêmea daquela que havia mirado contra a orelha de Isabel uma hora antes.

A líder das caçadoras atacou pela primeira vez e a escolha dos locais de investida mostrava certo ar de vingança. Não intencionou acertar as pernas, o que reduziria a mobilidade da oponente, pouco menos ia direto contra o peito para terminar de uma vez a briga. Mirava o rosto com crueldade.

Alice Connan conseguiu se desvencilhar com destreza, até escorregar levemente na terra que virava lama e ser acertada pouco abaixo do olho esquerdo. Uma lágrima de sangue escorreu até o queixo.

A multidão ovacionou o primeiro golpe certeiro. Pareciam tubarões aclamando por sangue.

A dança continuou, conheciam os movimentos uma da outra de maneira a parecer que ensaiaram. Al tinha um ótimo posicionamento de pernas, criando uma base forte, e Isabel não precisava agir com cautela, por ter a vantagem; cortou o uniforme com um único golpe, mostrando o top da irmã de Ian por debaixo.

A água começou a tomar aquele espaço e, em pouco tempo, Alice estaria tremendo de frio.

Se a caçadora-chefe notou os antigos ferimentos da mulher que amava, não demonstrou. Eu fiquei perturbado ao notar mais desenhos subindo por sua cintura. Continuou implacável, acertando-a na boca com o cabo de metal e abrindo-lhe um corte na coxa.

Ian sacudiu-se sobre os pés quando sua irmã fraquejou com os novos ferimentos, sabia que se entrasse na briga seríamos cinco contra vinte. Vinte guerreiras esplêndidas.

Meu irmão estava calado como de costume, o outro lado da minha moeda. Os olhos cobre percorriam cada milímetro da plateia procurando o elo mais fraco, a brecha. Ali, sob a chuva, com os cabelos carvão grudados na testa, parecia jovem demais; no entanto, ninguém ali realmente possuía idade para estar em uma guerra.

Merida estava respirando entredentes, como se sentisse cada golpe. Passou os dedos pelos curtíssemos cabelos castanhos, procurando conforto. E sorriu quando Alice, em um único ataque relâmpago, fugiu da lâmina de Isabel, acertando-a em um tendão importante do braço que segurava a espada, no abdômen e na panturrilha. Rolou para longe, sujando cada parte que havia lavado; o banho que havia nos colocado em perigo se fez inútil.

Isabel mostrou-se ambidestra, pegando a arma com a mão esquerda. O outro membro pendia como se não mais respondesse corretamente. Acho que gritar de dor era proibido entre as caçadoras, pois não emitiu qualquer lamúria.

Mancou na direção de Connan, como quem acreditava estar prestes à derrota; não que a ação fizesse sua oponente baixar a guarda. Levantou a espada para que Alice recuasse e, rapidamente, atacou-a com um punhado de lama e cascalhos.

Al gritou, desesperada por não enxergar, seu peito subindo e descendo rapidamente. Em seguida, o alto som de joelhos contra as pedras.

Primeiro ataque:

O braço direito de Ian ConnanWhere stories live. Discover now