O meu nome é Rue e tenho 12 anos. Vivo no Distrito 11, situado no Estado de Panem com a minha mãe e as minhas cinco irmãs mais novas.
Eu nunca tive um diário... Pelo menos assim a minha mãe chamou a este pedaço de folhas sujas unidas por um cordel. Ela deu-mo há uma semana, dizendo que o meu pai apoiava que os mais jovens devem escrever a sua vida, para mais tarde a recordarem e não se esquecerem dos momentos felizes e difíceis da nossa infância. Infelizmente cá os tempos difíceis são mais abundantes que os felizes... Mas nós damos a volta ao assunto.
A verdade é que a vida da população no Distrito 11 nunca foi fácil. Aqui as pessoas trabalham de sol a sol, de modo árduo para sobreviver mas, por vezes, nem isso é suficiente. O nosso Distrito é conhecido pela Agricultura e com ela que nós sustentamos. O meu pai trabalhava nos campos o dia todo e a minha mãe tratava dos animais na quinta de um dos vencedores dos Jogos da Fome enquanto eu ficava em casa a tomar conta das irmãs mais novas e tratava do que tinha de ser tratado em casa.
No entanto o meu pai faleceu devido a uma doença que nós não sabemos qual pois aquele médico arrogante recusou-se a tratar dele devido aos nossos problemas económicos. A partir daí a vida foi se complicando, com os problemas económicos passamos fome durante meses, sustentando-nos com a piedade do nosso tio que tentava dar-nos parte da pouca comida que também ele possuia.
Quando o meu pai faleceu, eu tive de tomar precauções e tornar-me útil para a minha família portanto desisti da escola, trabalhando nos pomares. A minha mãe ficou desolada por eu desistir da escola pois ela sabia que era o único local onde as crianças convivem no nosso Distrito e porque ela conhecia o meu fascínio por música e literatura. Mas com a ajuda da professora, ela deixou-me levar uns livros emprestados para os meus tempos livres.
O meu trabalho nos pomares consiste em eu subir para os ramos mais altos das árvores, onde poucas pessoas conseguem chegar (pois não são tão baixos e ágeis) e recolher os frutos. Então como me encontro mesmo no cimo das árvores, quando o sol se põe pelas montanhas que nos separam do Distrito vizinho, eu assobio uma pequena melodia, de quatro notas apenas que são repetidas vezes sem conta pelos mimo-gaios, e assim, os trabalhadores exaustos sabem que já podem voltar para as suas casinhas miseráveis.
Bem, já me dói a mão de tanto escrever! Não costumo escrever tanto. É o que escrevo por hoje e nem é nada mau...
Bolas! A minha mãe descobri que estou acordada! Estou feita! Falamos mais tarde.
Rue
