CAP 22 Só por uma noite, confie em mim

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Los Angeles
EXCHANGE LA
06 de Fevereiro 10:11pm

Aquele dia tinha sido exaustivo, mesmo que todos ao meu redor comemorassem. Ninguém entendeu porque Jimin estava tão feliz novamente, mas o alivio no olhar de todos era tão nítido que nada foi preciso ser dito.
Jungkook estava realmente feliz, abraçado na sua enfermeira. Ele não corria mais o risco de ser deportado, mas isso não o impedia de planejar uma viajem de volta para casa.
Ele queria apresentar Kim para sua família, e era tão encantador ver ele beijando o alto da cabeça dela que por um momento tive que desviar os olhos. Não que eu tivesse inveja do meu amigo, mas era ruim a sensação que se instalava no meu peito sempre que eu via a enfermeira olhar para ele.
Eu reconhecia aquele tipo de olhar.

-Onde você vai?- perguntou Suga alto, para que eu pudesse ouvir o som da sua voz acima da música alta.

Fiquei encarando os olhos estreitos de Suga, que depois de alguns drinques estavam ainda menores. Mas não sabia ao certo o que dizer, me sentia perdido de repente.

-Vamos esperar por você aqui.- disse ele, sem esperar pela minha resposta.

Suga me conhecia muito bem, sabia o que eu queria dizer com cada olhar e era por aquilo que ele não tinha dito nada o dia todo. Quando saímos do tribunal, e voltamos para o hotel, eu fiquei em silencio. Mas ele não precisou que eu dissesse nada, ele sabia pelo meu olhar que eu não estava bem.
Não é que eu estivesse deprimido nem nada, mas é que por tanto tempo minha missão era encontrar Jess. E eu tinha uma esperança que quando tudo aquilo acabasse ela estivesse bem ali ao meu lado.
Só que tudo acabou e eu ainda sentia aquele vazio. Pior do que isso, eu tinha perdido meu rumo.

Não sabia por onde recomeçar, não sabia por qual caminho seguir. E me sentia perdido por causa disso.

Me afastei dos meus amigos com um semblante sério, enquanto as luzes da boate iluminavam meu rosto. Era uma mistura de vermelho e azul que me deixava tonto, mas nem isso me fez parar. Caminhei entre as pessoas, que dançavam sem nem me perceber, deixando para trás o bar onde meus amigos estavam bebendo uns drinques.

Eu não tinha pressa, caminhava lentamente, mas diferente do que sempre foi eu não conseguia sentir a música. Me sentia um estranho naquele mundo de repente vibrante.
Não tinha bebido o suficiente para esquecer todas as coisas que estavam me deixando preocupado, ou até mesmo pensativo. E só quando eu estava chegando perto do corredor que me levava aos banheiros foi que eu encontrei um motivo para focar a minha visão.

No início foi um pouco difícil reconhece-la porque ela parecia alguém tão diferente. Ainda que estivesse usando somente preto, ela estava tão leve. Com os cabelos soltos, e um copo na mão.
Harris não parecia a mesma ao lado daquela garota baixa que ria na sua direção. As duas estavam acompanhadas de mais uma garota, só que ela estava ocupada de mais dançando para perceber que a garota mais baixa falava algo importante para Harris.

A detetive olhava para a pista de dança com certa determinação no olhar, mas algo em mim dizia que aquilo era só ela tentando disfarçar. Ela balançou a cabeça algumas vezes, enquanto eu parei para analisa-la.
Não esperava encontrar Harris em um lugar como aqueles.
Ela parecia tão deslocada ali.

Era impossível não ver a mudança em seu olhar. Ela parecia alguém diferente da que eu conhecia. Uma versão mais livre daquela que ela se cobrava tanto para ser.

Harris era completamente diferente do que eu imaginava, tanto que quando dei por mim já estava analisando muito mais do que sempre analisei. As linhas do seu rosto, ou o contraste que o seu olhar selvagem tinha com os lábios tão delicados. E ao descer meus olhos eu vi aquela mesma tatuagem que eu sempre via, ela estava um pouco mais exposta por causa do decote que a detetive usava.
A calça justa que ela usava mexia com alguma coisa em mim, mas foi só quando ela finalmente se permitiu sorrir que eu me perdi em toda a sua complexidade. Era a primeira vez que eu via ela sorrir sem nenhum pingo de deboche, e aquele sorriso era diferente.
Diferente de uma forma que eu não conseguia explicar.
Nem parar de olhar.

Ela largou o copo sobre o balcão, encheu o peito de ar e depois foi junto com a amiga sorridente para o centro da pista de dança. A terceira garota, aquela que parecia perdida em seu próprio mundo ao dançar, finalmente saiu do seu estado de transe e se juntou as amigas na pista de dança.
Harris parecia envergonhada, ou talvez só não soubesse como balançar seu corpo da maneira certa, e aquilo me arrancou um sorriso que eu nem percebi aparecer no meu rosto.

Mais uma vez eu achava que ela não se encaixava naquele mundo. Balançando seu corpo de um lado ao outro, sem realmente tirar os pés do chão. Seu rosto estava levemente corado, ainda que seus olhos brilhantes chamassem toda a atenção.

Então foi mais forte do que eu, quando percebi já estava mudando meu rumo. Indo em direção aquela pista de dança.
Parei alguns paços afrente de Harris, a vendo diminuir cada vez mais seus movimentos ao passo que fechava os olhos. Todos ao nosso redor pareciam presos na melodia romântica e sensual que de repente começou a tocar.
E não sei dizer se foi a minha impressão ou não, mas tudo pareceu mudar de foco de repente. Eu não conseguia olhar em outra direção, só na dela. Até que seus olhos abriram mais uma vez, olhando diretamente na minha direção.

Ela ficou me encarando por um momento, mas pareceu tão diferente de todas as vezes em que ela me olhou. Aquela mesma escuridão que eu sempre via estava tão diluída em algo que eu não conseguia compreender em seu olhar.
Ficamos um bom tempo encarando um ao outro, e ninguém tinha coragem de dar um paço a frente. Eu via as pessoas se movendo atrás de Harris, mas tudo que meus olhos conseguiam se focar era nos seus olhos tão bem delineados.

Pensei em todas as vezes em que eu vi ela, em todas as vezes que vi seu rosto daquele mesmo ângulo, mas ele parecia tão distante daquele que eu estava vendo naquele momento. E foi então que decidi que precisava ver de mais de perto, mesmo que corresse o risco de não a compreender.
Poucos passos foram precisos para que eu parasse bem próximo a ela. Harris não recuou como eu imaginei, muito menos tirou seus olhos dos meus.

-Harris.- a cumprimentei, sem me preocupar com o som da minha voz, que certamente seria abafada pelo som da música ambiente.

Ela piscou algumas vezes, antes dos seus olhos virarem na direção da minha boca. Ali ela se perdeu mais uma vez, até que eu sorrisse de maneira contida.
Harris voltou a encarar meus olhos, mas a velha ruga apareceu entre suas sobrancelhas.

-O que você faz aqui?- perguntou ela de repente desconfortável.

Estava prestes a abrir a boca para dar uma resposta irônica, quando a música trocou mais uma vez. Mudando completamente a atmosfera ao nosso redor.
Não esperava me sentir tão em casa de repente, mas a música na minha antiga linguagem me comoveu de repente.
Harris não percebeu a minha mudança, tanto que continuou me encarando com o seu olhar duro até que eu estendesse minha mão na sua direção.

-Só por uma noite, confie em mim detetive.- disse seriamente.

Harris encarou minha mão que estava estendidana sua direção, com um semblante confuso. Ela parecia dividida entre aceitarminha oferta e correr imediatamente para longe de mim. Mas eu não ia desistir,apenas continuei ali esperando e antes que a música pudesse terminar eu envolvisua cintura a trazendo para mais perto de mim.
Ela não esperava por aquilo, então precisou se equilibrar. Harris colocou umamão em cada lado do meu peito, e depois deixou suas feições se suavizarem àmedida que eu podia sentir seu coração bater com força contra meu peito.    

3 - Lado AzulOnde histórias criam vida. Descubra agora