Nunca havia feito tanto frio em nossa fazenda. Os cavalos no curral, silenciosamente dormiam enquanto as aves ciscavam a terra molhada pela chuva da noite passada. Minhas malas estavam prontas e eu acreditava estar assim também, porém, deixar meus pais, irmãos e toda a família para trás enquanto vou em busca de uma vida de aventuras e oportunidades, não mais me parece tão certo, nem mesmo tão fácil quanto pensei que seria, dizer adeus.
A manhã passara mais rápido do que eu imaginava, Mamãe havia feito um café da manhã de despedida, cuscuz, ovos, é ela realmente me conhece bem. Lembro-me de seus cabelos negros caídos sobre seus ombros, perfume adocicado levemente misturado com o cheiro da terra de suas flores que enfeitavam a frente, os lados e o fundo da casa, sorriso esculpido em lábios largos e rosados que iam de orelha a orelha quando a abraçávamos...seu abraço...saudade.
Enquanto terminava de colocar as malas no carro, velho e enferrujado, conversava com meu irmão, falávamos de como seria quando eu chegasse lá e repetíamos juntos a frase em outra língua que eu teria de falar para me apresentar, conversávamos sobre o que eu faria, que tipos de comidas comeria até que nos distraímos com o assobio que se aproximava. Música boa para os ouvidos, sempre me sentia acalentado e sorria quando o ouvia assobiar alegremente.
Meu pai vinha caminhando com um galo segurado pelos pés, de cabeça para baixo, e seu bom e velho amigo cigarro na mão direita enquanto estampava o mais alegre dos sorrisos e vinha em nossa direção. Essa cena, por mais comum que fosse, ao invés de felicidade, trouxe lágrimas aos meus olhos, o que o fez indagar se eu já estava de partida e por que não iria ficar para o almoço. Não podia, tinha que ir ao aeroporto na cidade muito em breve. Com seu jeito rígido de demonstrar sentimentos, Papai me abraçou, olhou-me no fundo dos olhos e disse: " Vá, vá com Deus, boa sorte, o paizinho te ama meu filho". Assim foi como vi a primeira lágrima derramada por meu pai. Compartilhamos o mesmo nome, Quirino, minha maior inspiração como homem e ser humano, a seriedade que desmoronava quando cantávamos juntos nossas músicas favoritas. Meu paizinho.....saudade.
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Histórias - A vida e as aventuras de um homem que não acredita em destino.
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