Capítulo 1
Aeroporto
Toda a família foi se despedir de mim no aeroporto, parecia uma festa, todos animados e me encorajando a ser feliz.
Não pensava que aviões seriam tão grandes e fossem tão complicados de serem colocados no céu. O frio da cabine era ameno e a ansiedade não me deixou nem mesmo cochilar e passei as quase 11 horas de voo olhando pela pequena janela que se encontrava ao meu lado esquerdo, onde vi o mar, não tenho certeza, mas talvez o caribe e méxico também, confesso que tenho vontade de conhecer esses locais da América.
O frio deixara de ser ameno e os ventos gelados que passavam pelas portas do aeroporto eram cortantes, deixando meu nariz e minhas mãos dormentes. Ver todos conversando uma língua estranha, fez-me sentir ilhado e isolado mesmo com meus amigos, enquanto treinava discretamente como dizer as três palavras que deveriam ser seguidas pelo meu nome para que eu pudesse me apresentar.
Éramos um grupo de cinco pessoas, dois deles iriam tentar uma carreira musical na califórnia enquanto os outros dois ficariam em Nova York para trabalhar assim como eu, que iria de Nova York para encontrar meu primo em Massachusetts.
Para conseguir entrar nos Estados Unidos, deve-se possuir uma quantia suficiente de dinheiro para uma viagem, pois não é permitido que você simplesmente chegue para morar e trabalhar. Como era exatamente o que estávamos prestes a fazer, tínhamos um plano.
Bem, nós cinco não possuíamos o dinheiro suficiente, então nos separamos na fila da imigração, porque se verificassem e descobrissem um, e estivéssemos juntos, a aventura de se mudar para outro país para trabalhar e ganhar dinheiro, teria um fim muito mais prévio do que poderíamos imaginar.
Herickson Cardoso e seu amigo que iriam juntos para a Califórnia, seguiram na frente do grupo enquanto nós três ficaríamos no meio, já que ficar por último poderia demonstrar medo de encarar os guardas, para poder ser autorizado a adentrar no país.
A espera na fila foi horrível, a missão de ficar sério, mas não tão sério que pareça um assassino; centrado, mas não o suficiente para parecer um psicopata; animado, mas não muito, para não parecer que vou trabalhar e, o pior de tudo, demonstrar que sei falar inglês.
Os dois amigos que estavam na frente, chegaram finalmente ao policial, era péssimo não ouvir o que conversavam, eu contava com isso para poder passar também. Os meninos se saíram bem, já que logo o agente fez o sinal de que eles poderiam seguir em frente. Pouco antes de entrarem no portão, olharam para nós com um gigante sorriso em seus rostos, o que era uma despedida, e assim foi a última vez que eu os vi. Anos depois descobri que Herickson tinha voltado para a nossa cidade no Brasil e mudado seu nome para "Guilherme" para formar uma dupla sertaneja com seu irmão Henzzo que também mudou seu nome para "Santiago" , soube que os dois fizeram bastante sucesso.
A cada pessoa que passava pelo portão ou era levada a uma sala que eu esperava não conhecer, eu sentia que meu coração ia sair rasgando pela minha garganta e boca seca. Haviam outros guardas ao redor da fila e percebi que um deles não parava de me encarar , com cenho franzido, o que não me ajudou muito no controle da minha ansiedade e meu desespero. Ainda restava esperança de que todas essas sensações não estivessem perceptíveis no meu semblante , eu estava enganado.
O guarda que uma vez olhava para mim, agora se comunicava discretamente com um de seus companheiros e quando chegou minha vez de ser integrado aos Estados Unidos, o homem que permitia a entrada, saiu de seu posto, eu não me atrevi a olhar aonde ele iria, mas quando voltou, não era o mesmo guarda que havia assumido a posição, reconheci a fisionomia que a pouco me encarava.
Devo ter ficado pálido, já que todo o meu sangue havia ido para o meu coração, que estava acelerado e suas batidas ensurdecedoras me impediam de escutar o mundo à minha volta, a cada passo que eu dava para dentro da sala que o guarda me levava, segurando discretamente, porém muito firme um de meus braços, como havia feito com meia dúzia de imigrantes antes de mim. Atrás de mim, vi dois pares de olhos arregalados em rostos também pálidos.
Respirei, tentei me acalmar, tinha que fazer isso!
Me colocaram sentado de frente à uma mesa vazia em um dos vários boxes, pelo visto, de detenção.
Pegaram todos os meus documentos e pertences e imagino que a essa hora já devem saber que possuo somente 300 dólares, em meio aos meus cálculos de como iria sair daquela situação, me assustei com a chegada na sala de uma mulher vestida com um blazer preto e cabelo preso em um rabo de cavalo impecável com maquiagem muito suave, ao contrário de sua expressão séria e desconfiada. A moça limpou a garganta e se preparou para começar, pelo que parecia, meu interrogatório.
-Hi! - Disse a moça firmemente acenando com a cabeça.
Já fui logo avisando que não conseguia falar em inglês.
-Hi! No english! - Acredito que tenha entendido a mensagem pois logo perguntou:
- Hablas español? - Disse a moça que pelo visto acha que falamos que espanhol no Brasil. Como eu não estava em situação de escolha então respondi:
-Un poquito.
É claro, durante a conversa havia ficado nítido tudo o que eu estava com medo. Ela descobriu o quanto eu tenho e sabe que vim para trabalhar. Depois de ter jogado isso na minha cara com frases breves, a moça pediu que eu me explicasse, e como eu não estava querendo voltar para casa tão rápido, se é que me deixariam ir para casa, abracei meu espírito brasileiro com toda a força e neguei que trabalharia nos EUA e fiquei tentando me justificar mais e mais vezes porém ela negava a minha explicação e, a fim de me testar novamente, a mulher finalmente perguntou, o que eu faria então, como ficaria dois meses somente com aquela quantia de dinheiro.
Foi quando mencionei meu primo que estava morando lá e que eu iria com ele de Nova York para Massachusetts e falei que ficaria em sua casa (mentira), que eu não moraria nos Estados Unidos (mentira) fui somente visitar e conhecer o país (mentira) voltaria em dois meses (era o que dizia a minha passagem) e com certeza não iria para trabalhar (mentira!!!).
Fui convincente o suficiente, mas ela pareceu não acreditar muito, mas mesmo assim permitiu minha entrada no país.
Me encontrei com meus dois amigos que haviam conseguido passar sem problemas e nos despedimos em Nova York onde eles ficariam e eu daria o meu jeito para chegar em Massachusetts.
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Histórias - A vida e as aventuras de um homem que não acredita em destino.
Adventure"Nunca havia feito tanto frio em nossa fazenda. Os cavalos no curral, silenciosamente dormiam enquanto as aves ciscavam a terra molhada pela chuva da noite passada. Minhas malas estavam prontas e eu acreditava estar assim também, porém, deixar meus...