michael and luke • [lrh + mgc]

Luke

Q U I N Z E  A N O S
A N T E S

2015

Quando conheci Michael, ele tinha 15 anos e eu 13.

Naquela época, ele era a paixonite de um dos meus melhores amigos: Calum Thomas Hood. Com seus cabelos pretos, bochechas redondas e um sorriso capaz de conquistar qualquer pessoa, ele se tornou colega de Michael durante a viagem organizada pela igreja deles. Nunca fui de acreditar muito nesse lance de amor à primeira vista, mas, até hoje, não consigo encontrar uma explicação melhor do que essa para o que aconteceu. Calum caiu, instantaneamente, de cabeça em Michael.

E aquilo se tornou meu inferno pessoal.

No colégio, Calum não calava a boca um minuto que fosse sobre o garoto de cabelos coloridos. Quando ele parava de falar, era apenas para soltar um dos seus suspiros apaixonados. Mostrava fotos deles juntos e contava sobre as piadinhas internas que haviam criado, sem nunca esquecer de dar enfâse no incrível gosto musical de Michael. No começo, eu ouvia as tagalerices de Calum com atenção, contente por ele ter achado alguém que gostasse de verdade. No entanto, com o passar do tempo, comecei a forçar um sorriso educado, cansado de escutar o mesmo disco arranhado sem parar. Enquanto isso, Ashton, meu outro melhor amigo, olhava para Calum com tédio, recostado em um dos bancos da cantina, bufando de cinco em cinco segundos.

"Qual é o seu problema?" Calum perguntou por fim, com uma pontada de irritação.

"O meu problema é que você só conhece esse cara tem alguns dias e já está totalmente de quatro por ele!"

"Não estou de quatro por ele!"

"Sim. Está sim. E se ele for um assassino? E se ele só estiver procurando por um garotinho indefeso de 13 anos para vender seus órgãos na Deep Web?"

"Você está sendo um babaca, Ashton." Calum constatou. "Eu conheci ele na igreja."

"Ah, eu estou sendo um babaca?" rebateu, arqueando as sobrancelhas. "Você, ao menos, sabe o sobrenome dele?"

"Clifford." respondeu triunfoso, endireitando-se no assento.

"Quantos anos ele tem?"

"15."

"15!" balançou a cabeça. "Ele é dois anos mais velho que a gente! Isso pode dar cadeia, sabia?"

"Ele só vai ser preso se for por roubar o meu coração." disse, o sorriso bobo voltando ao seu rosto.

"Ah, pelo amor de Deus." Ashton resmungou.

"Ele me entende." Calum falou, colocando a mão no peito. "Sabe como é encontrar alguém que te entende? Ele ri das minhas piadas, gosta das mesmas músicas que eu e também acha que a nossa existência é solitária e vazia de sentido." virou-se para mim. "Luke compreende, não é?"

Pisquei, tentando com todas as minhas forças me manter acordado.

"Hum, é claro."

"Tudo bem, então." Ashton arrastou a cadeira para trás e se levantou. "Mas, quando seu corpo aparecer em um valão sem os órgãos, não diga que eu não avisei."

"Como vou te dizer qualquer coisa que seja se vou estar morto?" Calum indagou, genuinamente confuso.

Ashton revirou os olhos e ajeitou seu boné.

"Esquece, seu idiota." jogou os braços pro ar, saindo com passos pesados da cantina.

Eu era uma criança lerda. Portanto, é claro que nunca parei para pensar que o motivo do aborrecimento do meu amigo era muito mais simples do que eu imaginava: assim como Calum achava que Michael o entendia, Ashton só encontrava sentido nas coisas quando Calum o olhava.

"Sabe, Luke," Calum começou. "Eu realmente acho que ele é o cara."

Michael parecia realmente ser alguém incrível, apesar do ponto de vista de Calum ser um pouco imparcial. E se ele gostava dele pra valer, eu esperava que eles dessem certo juntos.

O problema é que nenhum de nós quatro sabíamos aonde estávamos nos metendo. Calum não fazia idéia da confusão que arrumara quando cutucou o ombro de Michael no ônibus, durante o caminho para suas respectivas casas. Como eu disse, o sorriso de Calum era capaz de conquistar qualquer pessoa.

Menos Michael.

Calum resolveu se apaixonar pelo único cara do planeta que era imune aos seus encantos. Michael amaria ele, eventualmente, mas não do jeito que o garoto de cabelos negros queria. Quem dera tivéssemos descoberto esse pequeno detalhe antes. Teríamos evitado um bocado de problemas. Talvez eu não estaria aqui, depois de 15 anos, contando essa história para vocês.

A história de como eu e Michael nos conhecemos, nos apaixonamos, e descobrimos que não fomos feitos para ficarmos juntos.

Olhei para a porta por onde Ashton havia saído por um tempo. Depois, deslizei o olhar para Calum e sorri.

"Também acho que ele é o cara."