Q U I N Z E A N O S
A N T E S2015
Eu e Calum nos conhecíamos desde que saímos do útero. E, em algum momento durante todos esses anos, a mãe do meu amigo virou uma religiosa fanática.
E com fanática, eu quero dizer do tipo que corre atrás do filho pela casa com a bíblia em mãos e quebra o computador dele com um martelo, depois de descobrir que ele estava conversando com um garoto online.
É, a mulher era louca. Basicamente.
E essa loucura entrou um pouco na cabeça de Calum com o passar do tempo. Não no mesmo nível do que o de sua mãe. Mas, imagine minha surpresa quando o moreno começou a frequentar a igreja quase todos os dias e a se achar no direito de julgar nossos "pecados".
Pecados estes que ele mesmo cometera algumas semanas antes.
Depois de Calum se tornar adepto da igreja e conhecer Michael, ele cismou que tínhamos que ir até lá. Não é preciso dizer que Ashton recusou na mesma hora, o que significava que a encheção de saco do Calum ficou toda direcionada a mim.
"Por favor, Luke." choramingou, dando pulinhos no mesmo lugar. Como uma criança fazendo birra. "Vai ser legal."
Quanto a isso eu tinha minhas dúvidas.
Enfiei a cabeça no armário azul metálico, procurando pelo livro de Matemática.
"Por que você quer tanto que a gente vá?" perguntei, realmente curioso. Afastei os pacotes de salgadinho vazios. "Sabe que não somos religiosos."
"Não quero levar vocês para obrigá-los a rezar o Pai Nosso e louvar Deus. As sessões são para adolescentes." Calum revirou os olhos. "Vai ser uma experiência diferente, né? E vocês ainda vão poder ver o Michael!"
Não sei se Michael valia o possível tormento que eu passaria na igreja.
"Esqueceu seu livro de novo?" Ashton indagou.
"Não." suspirei. "Na verdade, sim."
Ashton estalou a língua. Era seu jeito de dizer que não estava surpreso.
"Eu trouxe." fechou o armário. "Pode acompanhar comigo. Ou morrer em cima do livro, já que é Matemática."
Quando a porta do armário se mexeu, pude ver de relance uma foto de nós três colada na superfície com fita adesiva verde. Era do último verão, quando estávamos, praticamente, acampando na casa de Ashton.
Uma sensação leve de saudade apertou meu coração.
"Será que podemos voltar para o assunto importante?" a voz de Calum me puxou de volta para o pesente.
O garoto de cabelos claros bufou, ajeitando o boné preto. Já fazia meses que ele não tirava aquele maldito boné. Desde que raspou a cabeça. E segundo Ashton, continuaria o usando até o seu cabelo crescer de novo.
"Já falei que não vou. Boa sorte tentando convencer Luke." passou por nós, dando um empurrão no ombro de Calum.
O moreno resolveu ignorá-lo, voltando sua atenção para mim.
"Então, você vai?" perguntou com aqueles olhos de cachorrinho perdido.
A verdade é que eu nem sabia se acreditava em Deus ou não, então acho que me sentiria culpado por entrar em uma Igreja e concordar com tudo o que falassem.
Porém, a minha outra parte, a parte que não deveria existir, que era perigosa, estava curiosa para conhecer o tão famoso Michael Clifford. Calum endeusava tanto ele que parecia que eu iria ver algum tipo de celebridade pop americana. Tipo a Ariana Grande.
"Tudo bem." dei de ombros. "Que horas você vai me buscar?"
[...]
O carro velho da mãe de Calum, com a pintura desgastada, as portas enferrujadas e o estofado pulando para fora por buracos inconvenientes, sacolejava pelas ruas escuras.
Eu estava espremido no bando de trás pelas tralhas de Calum que ele deveria ter colocado na doação. Ashton e eu havíamos o ajudado a juntar esse bando de porcaria, apenas para ele amontoar tudo no carro da mãe dele e deixar encher de poeira.
A Sra.Hood me observou pelo espelho retrovisor enquanto eu tirava um boneco do Super-homem do meu colo. Os cachos pretos estavam presos por pauzinhos chineses.
"Fico feliz que tenha resolvido começar a ir à Igreja, Luke." comentou em um tom neutro.
Torci a ponta do nariz. Calum me lançou um olhar desesperado do assento da frente.
Suspirei internamente, forçando um sorriso.
"Também estou feliz por..." fiz uma pausa. "Ahn, dar uma chance pro cara lá de cima."
A mãe de Calum franziu as sobrancelhas para mim.
"Deus salvou Calum." começou a falar. "Tirou essa idéia da cabeça dele de gostar de garotos."
Percebi que meu amigo se encolheu no banco.
"Ele te salvará também." continuou. "Ele irá te acolher, te guiar pelo caminho certo..."
Parei de escutar por aí. Se Deus existisse, ele era um cara bom. E caras bons não julgavam os outros por quem eles queriam beijar. Essa merda da Sra.Hood não fazia nenhum sentido na minha cabeça.
Voltei o olhar para as luzes das lojas do lado de fora. Deixei ela falar de Deus o quanto quisesse. Se isso a deixava feliz, não seria eu o monstro que iria interrompê-la, certo?
O terço pendurado no espelho retrovisor chacoalhava de um lado para o outro. Se realmente tinha alguém lá em cima que sabia sobre tudo de nossas vidas, por que ele não me avisou que eu deveria fugir enquanto ainda pudesse?
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michael and luke • [lrh + mgc]
Fanfiction❝Calum resolveu se apaixonar pelo único cara do planeta que era imune aos seus encantos. [...] Talvez eu não estaria aqui, depois de 15 anos, contando essa história para vocês. A história de como eu e Michael nos conhecemos, nos apaixonamos, e desc...