Querido, Chris

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Querido Chris Connell,

A primeira vez que ouvi sua voz foi na TV, estava passando o clipe de Like A Stone. Eu simplesmente amei! Amei tudo! A letra, os rifles da guitarra, a bateria, sua voz rasgada e grave, o timbre rouco, a força carregada de emoção que você colocava em cada verso. E também amei a letra. Tão triste e profunda, dizendo mais do que pude perceber de primeira.
Eu fiquei louca pela música! Não foi pela banda ou por você, foi pela música. Não sei explicar isso até hoje. Mas o refrão ficou na minha cabeça. No dia seguinte, deixei a TV ligada o dia todo no mesmo canal, torcendo para que o clipe passasse outra vez. Demorou um pouco, mas passou. E eu senti tudo outra vez. Era a música. Tinha algo nela que me tocava fundo e torcia algo dentro de mim.
Então, só um bom tempo depois fui ouvir outras canções suas. Mas, até hoje, Like a Stone representa algo especial para mim.

    Já passei tantas noites ouvindo ela no repeat, esperando minha mente calar e o sono vir. Ouvia também para calar os barulhos e gritos do mundo a minha volta. E é isso que estou fazendo agora.
Deitada no quarto escuro, os fones no máximo  (minha mãe sempre diz que vou ficar surda um dia. Talvez ela esteja certa... Isso seria uma verdadeira tragédia. Mas música alta é meu jeito de conter meus próprios gritos.), faz frio, sinto raiva e aquela sensação estranha e melancólica de vazio que está sempre aqui, enquanto ouço você cantar. Like A Stone. No repeat. Como nos velhos tempos.

In your house I long to be
Room by room, patiently
I'll wait for you there
Like a stone
I'll wait for you there
Alone...

Parece que estou retrocedendo outra vez. De volta às noites densas e dias escuros. De volta aos 15 quando tudo pesava demais e eu pensava não ser capaz de aguentar mais um dia. Aguentei uns bons anos. Acha que posso continuar?
Não sinto que estou ficando mais forte, é justamente o oposto.
Sinto que minha vida é um vinil arranhado que travou na vitrola e não para de rebobinar a mesma faixa sem sentido, e o único jeito de parar é quebrando. Desligando. Para sempre.
Ah, Chris, é tão estranho se sentir assim, não é? Me sinto estranha a mim mesma. Perdida. Um barco a esmo. No escuro, enquanto você ainda canta...

And on my deathbed, I will pray
To the gods and the angels
Like a pagan, to anyone
Who will take me to heaven
To a place I recall
I was there so long ago
The sky was bruised, the wine was bled
And there you led me on...

Me sinto como uma pedra, fincada aqui, esperando, nesse quarto cheio de vazio, que algo mude. Imaginando meu leito de morte e me perdendo em páginas de livros.
E sua voz tão familiar pacientemente ainda repete os mesmos versos acompanhados pela guitarra ritimada que me faz sentir algo parecido com nostalgia melancólica e pesar. É mesmo uma canção triste, essa.

In your house I long to be
Room by room, patiently
I'll wait for you there
Like a stone
I'll wait for you there
Alone...

Antes do último refrão você disse que em sonhos vagaria até sua morte. Lamento por compreender isso. E espero que sua vida toda não tenha sido assim. Espero que toda a espera tenha acabado e não haja mais dor, que esteja em paz agora. Realmente espero.

Com amor, Kath.
(22/07/2017)

Essa é uma das cartas que escrevi e me deram a ideia para esse livro mas nunca tinha tido coragem para postar...

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⏰ Última atualização: Sep 04, 2018 ⏰

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