Desespero

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  Não consigo me lembrar de quando ou como chegamos a esse caminho e sinceramente não ousaria perguntar para meus pais, estão tão concentrados na estrada envolvidos nos seus próprios sentimentos de culpa e pesar depois de uma calorosa briga que me faz pensar em como eu não me encaixo nessa vida de seres instrumentais e fardados ao fingimento. Perdida em pensamentos não vejo o back que me lança para uma só direção em movimentos contínuos e em frações de segundos, me fazendo cair já desacordada.
Acordo em um hospital com vários rostos me alfinetando e pessoas gesticulando coisas que não consigo entender, devo estar muito ferrada pq a única coisa que sinto no momento é sonolência e o mundo girar (apaguei novamente).

- Coitada tão nova e aparentemente sozinha... Voz de mulher

- Estavam vindo de mudança, o pai quebrou o pescoço e a mãe foi jogada para o penhasco. Ainda estão fazendo as buscas pelo o corpo.. - Voz de homem

- Será que já avisaram os familiares? Ela passou por uma cirurgia grave e terá que ter companhia até a alta. - Voz de mulher.

  Não sei de quem estão falando mais pelo jeito a coisa foi feia, estou tão pesada que não consigo abrir os olhos mais consigo ouvi-los. Suas vozes estão tão longe cheia de condolências e pena, queria poder perguntar do que estão falando mais o cansaço fala maior e lá vem a escuridão de novo.

..............1 ano depois..

  Vida nova caminho novo. Depois da tragédia da minha vida, depois das percas e danos, depois de 1 anos e meio de terapia estou finalmente pronta para voltar a rotina e encarar de cabeça erguida essa nova vida sem meus pais ( pelo menos são essas palavras que me lembro da terapia). Hoje começa as aulas e estarei pronta para o que vier..

- sophi, anda logo se não vai se atrasar. -tia Ângela, a única família que me resta.

- Desculpe tia, já estou pronta. - respondo me colocando em pé.

- Se precisar é só ligar, vou correndo e meto o pé no portão. - ela fala com um tom zombeteiro.

- Com toda a certeza, e nenhum minuto a menos. - respondo brincalhona.

- Nenhum minuto a menos.. - ela repeti.


   Tia Ângela é uma mulher vivida, já casou três vezes e não conseguiu ter filhos ela ia nos visitar sempre aos feriados e me contava histórias quando eu era pequena. Ela sempre levou uma vida agitada com adrenalina e euforia, nunca vi ela triste até o acidente.
minha mãe e ela, eram muito próximas na infância, aí a minha mãe se casou engravidou e formou família enquanto ela peregrinava nos países afora. Depois do acidente ela se viu obrigada a cuidar de mim e teve que parar com a vida corrida e Alto Astral que levava.


Estou no último ano do ensino médio e como perdi 1 ano na recuperação não sei ainda o que farei depois de me formar. Meus planos foram perdidos junto com o acidente.

Cheguei a conclusão que não posso impedir minha tia quando ela coloca algo na cabeça, mesmo relutante a ela me trazer a escola, ela me trouxe e aqui está eu olhando com os olhos cheios de medo e reprovação.

- Não é tão ruim assim vai.. - ela fala percebendo minha preocupação. - Vá logo, parece que tem uns colegas novos ali te olhando. - ela aponta para um grupinho que meninos conversando.

my closingOnde histórias criam vida. Descubra agora