Capítulo 6

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Quando Ana acordou já era noite. Sentiu seu corpo pesado e dolorido da queda. Abria e fechava os olhos e percebeu que estava cercada pela escuridão. Ao se levantar, colocou as duas mãos no chão e fez força, mas logo se largou grintando de dor. Sua mão doia muito e se recordou do corte com vidro.

Levantou-se com apenas uma das mãos e foi em direção ao interruptor do quarto.  Foi tateando no escuro e assim que achou, ligou a luz, mas ela não acendeu. Tentou mais algumas vezes colocando o interruptor para cima e para baixo freneticamente, e nada. Continuava na escuridão.

Começando a sentir uma certa agonia, tentou se acalmar, mas o fato de estar completamente no escuro, era assustador. Foi para o corredor e tentou ligar a luz de lá. Não acendeu. O desespero começou a aumentar. Pensou em ir ao banheiro porque lá tinham algumas velas. Nunca ficou tão feliz por gostar de velas aromáticas.

Entrou devagar no banheiro, abriu a gaveta e usou seu acendedor automático. Acendeu a vela que estava em cima da pia. Logo veio o aroma de morango. Um cheiro delicioso que a ajudou a acalmar um pouco os nervos. Ficou olhando o tremeluzir das chamas. Embora fosse relaxante, dava ao ambiente uma atmosfera sinistra. Resolveu olhar para sua imagem no espelho. Ao fazer isso se assustou. O espelho estava completamente embaçado, como se tivesse acabado de tomar um banho bem quente. Achou muito estranho. Olhando perplexa para sua imagem desfodaca, passou a mão para limpar o espelho.

Foi a pior coisa que poderia ter feito naquele momento. Assim que ela passou a mão e limpou o embassado, viu um vulto grande e preto passar correndo por trás dela fazendo barulho e derrubando os produtos que ficavam na prateleira e se misturou com a escuridão da casa, ao sair pela porta aberta.

Ana gritou e colocou as mãos na boca em forma de pânico. Não acreditava que aquilo pudesse estar acontecendo. O que teria sido aquilo? Ainda com muito medo olhou para o chão e viu vários produtos de beleza esparramados, provando que aquela cena realmente havia acontecido. Se abaixou para pegá-los, com o coração batendo a mil por hora, e um minuto depois ouviu todas as suas panelas caindo e batendo com força no chão, fazendo com que ela tremesse com violência. Ana imediatamente trancou a porta e se encostou nela chorando desesperadamente. Foi escorregando lentamente pela porta, já sem forças para encarar a situação. O que faria agora? Algo terrível havia tomado sua casa e estava paralizada de medo.

Ana ficou ali no banheiro, paralisada por muito tempo. Como estava sem relógio e sem seu celular, não fazia ideia das horas. Estava tentando entender o que era tudo aquilo e não conseguia chegar a nenhuma conclusão. Mal sabia que aquilo era fruto do ritual de vingança que havia preparado para suas amigas. Ela não levava mais a magia a sério, e nem se lembrava mais o que havia feito.

Depois de algumas horas, ainda tremendo de medo, Ana lembrou que ainda guardava uns remédios para dormir, de quando teve um sério episódio de insônia. Levantou correndo, abriu o armário debaixo da pia e pegou um frasco branco. Abriu, pegou um comprimido e tomou com a água da torneira. Preferia dormir no banheiro e esperar o sol nascer e clarear sua casa, do que tentar se aventurar no escuro e acabar encontrando aquilo que tinha saído do banheiro e bagunçara toda sua casa. Como o remédio era forte, agradeceu por já estar com sono e apagou ali mesmo.

Amanheceu e Ana estava deitada no chão do banheiro, em cima de seu tapetinho favorito. Foi acordando lentamente tentando se lembrar porque estava ali. Levantou de uma só vez quando se lembrou o que acontecera na noite anterior.

Virou-se e ficou olhando o interruptor. Esticou a mão bem devagar e ligou a luz. Imediatamente ela se acendeu. Ana pensou: será que estou ficando maluca? Deve ter sido apenas a minha imaginação. Aproveitou que estava no banheiro e fez sua higiene. Desdeu para tomar café da manhã e tudo estava em seu devido lugar.

- Eu devo estar mesmo ficando louca! – mentiu para si mesma.

Tomou seu café da manhã e olhou em sua agenda. Nenhum compromisso. Ainda tinha muitos dias para aproveitar de suas férias. Parou para pensar um pouco e sentia falta de seu trabalho, mesmo passando por algumas situaçãos de estresse. Era uma boa bibliotecária e amava sua profissão. Passou a amar livros com uma amiga do orfanato.

Sofia era muito inteligente. Foi parar lá como ela, desde bebê. Era três anos mais velha que Ana e aos poucos a amizade foi se formando. Logo as duas eram muito unidas, encontraram na amizade um grande carinho que quase supria a falta de seus pais. Assim que Ana aprendeu a ler, Sofia dava a ela pequenos livros que havia na biblioteca do local, e assim seu grande amor pela leitura foi crescendo.

Depois de anos de amizade, finalmente Sofia encontrou um lar e acabaram perdendo o contato. Ana sofreu muito quando sua melhor amiga partiu. Ficou sozinha, apenas na companhia de seus livros.

Ao relembrar sua primeira grande amizade, ficou triste, mas decidiu sair um pouco de casa para se alegrar. Afinal, ficar só dentro de casa, cansa, e principalmente nas férias. Colocou um vestido bem bonito e foi passear em algumas lojas da cidade.

Depois de algumas horas e com três sacolas na mão, parou em uma cafeteria e tomou uma boa chícara de capuccino. Sua bebida quente favorita. Enquato se deliciava com sua bebida, estava admirando sua mais nova aquisição. Um livro chamado Um Amor, de uma autora pouco conhecida. Fazia tempo que não namorava ninguém. Ana queria mudar de vida. Suas amigas estavam tão felizes com seus namorados, empregos, que fez com que pensassem em algumas áreas da vida.

Depois de uns momentos de reflexão, estava pronta para fazer algumas mudanças. Animada, terminou seu capuccino, pagou a conta e se preparou para dar os primeiros passos de grandes mudanças que vinham pela frente, quando seu celular começou a tocar. Pegou o aparelho, viu que era Laura  e atendeu a ligação.

- Oi Laura! Como você está?

- Oi Ana! Preciso falar com você! Aconteceu uma coisa por aqui! – falou Laura nervosa.

- O que houve? Você está bem? – Ana perguntou assustada.

- Sim, mas July não.

- Fala logo Laura! Está me deixando nervosa!

- Ela sofreu um acidente de carro Ana! Está internada no Hospital!

(CONTINUA)

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