Capítulo 1

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A caixa volumosa e desajeitada que Lorena Tanner carregava enquanto caminhava pelo cais, em direção ao embarcadouro, não escondia sua graça e feminilidade. Era o começo da estação; o mês de dezembro apenas se iniciava e os turistas logo tomariam conta de Paihia. No embarcadouro já
se notavam alguns deles, aguardando ansiosos a balsa que os levaria através da baía.

Um rapaz barbudo, levando uma mochila enorme nos ombros, dirigiu-se a ela:

— Ei! Posso ajudar você com isso?

Lorena sorriu, pois ele estava sendo bastante gentil e atencioso, mas balançou a cabeça negativamente.

— Não, obrigada, não é pesada e meu barco está pertinho.

Logo abaixo estava a lancha, pequena mas luxuosa; um senhor de meia-idade, gordo e baixo, com um uniforme impecável e o quepe de marinheiro jogado para trás, aguardava a chegada de Lorena, enquanto conversava com alguns conhecidos.

— Sam!

Ele atendeu imediatamente ao chamado de Lorena. Subiu ao cais e, num instante, pegou a caixa das mãos dela.

— Você ainda tem esse telescópio?—  perguntou ele, como se já não tivessem se passado nove meses desde a última vez em que a vira.

— Sim, ainda o tenho e desta vez pretendo usá-lo de maneira correta. — Lorena falou isso com uma expressão tão viva que, por alguns instantes, todos os que a observavam pareciam pálidos e sem energia. — Eu mal posso esperar para observar o céu e dar uma boa olhada nas estrelas, sem as luzes de Auckland me atrapalhando!

— É uma maneira engraçada de se passar as noites, pode crer. Vamos, quero chegar o mais rápido possível. Deixe que eu levo sua mala.

— Como está Peggy?

— Bem. — Ele voltou da pequena cabine, sorrindo. — Ela vai ficar muito feliz em vê-la novamente.

— Eu também. Não vejo a hora de chegar e lhe dar um forte abraço.

Um garoto jogou a corda nas mãos de Lorena. Agradecendo, ela a recolheu com cuidado e a colocou no lugar apropriado. A pequena lancha saiu velozmente do embarcadouro e seguiu em direção à baía.

Encostada na cabine, Lorena sentia o ar salgado tocar sua pele e, com os olhos semicerrados, deixava o sol brincar nos seus longos cílios, formando pequenos arco-íris. Sentia um contentamento tão profundo que não conseguia dizer uma só palavra.

Nascida e criada numa cidade grande e movimentada, como Auckland, ela se apaixonara por aquela parte do norte da Nova Zelândia quando viera passar umas férias com seus pais, muito tempo atrás. O sol, o oceano e os longos dias claros, as cores vivas e as belas paisagens ficaram gravadas em seu coração, embora fosse apenas uma garotinha.

Anos mais tarde, procurando um emprego durante suas férias de verão, resolvera candidatar-se a um, no lado sul daquela baía maravilhosa. Peggy e Samuel Robinson vieram até Auckland para entrevistá-la e, como a simpatia fora mútua, ela já havia passado os dois últimos Natais em companhia deles, na baía Waiwhetu. Como era uma observadora de estrelas amadora, Lorena achou o nome apropriado, pois queria dizer ”águas que refletem as estrelas”. Realmente, nas noites de verão, a baía parecia um manto negro com milhares de diamantes reluzentes.

O barulho de um motor possante chamou sua atenção. Era o barco que ia para Paihia. Alguém acenou e ela respondeu com um sorriso franco, vendo aquelas pessoas contagiadas pela beleza da baía.

— Puxa! É tão bom estar de volta! — exclamou. — Sam, que é que teremos de fazer este ano? Vem muita gente? Não... não o sr. Read, espero.

Starry Ground || Park Jaehyung DAY6 ||Onde histórias criam vida. Descubra agora