Confunda a argumentação

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OUTRA ESTRATÉGIA é interpretar a afirmação estabelecida de maneira relativa, κατα τι, como se tivesse sido feita de maneira geral e absoluta, ἁπλως, ou pelo menos em um sentido completamente diferente, e então refutá-la pelo sentido que o falante não quis. O exemplo de Aristóteles é o seguinte: o mouro é negro, entretanto os dentes são brancos; assim ele é negro e não negro ao mesmo tempo. Esse é um exemplo inventado, que ninguém levaria a sério: peguemos então um da experiência real.

EXEMPLO 1. Em uma conversa sobre filosofia assumo que defendo e prefiro o sistema dos quietistas. Logo depois vem a conversa sobre Hegel, e eu afirmo que ele escreveu grandes besteiras, ou pelo menos muitos trechos de seus escritos, nos quais Hegel colocou as palavras, mas o leitor precisa dar o sentido. O oponente não tenta refutar isso ad rem, mas se satisfaz ao estabelecer o argumentum ad hominem: "Eu tinha acabado de defender os quietistas e também eles escreveram muitas besteiras". Admiti isso, mas corrigi ao dizer que não elogio os quietistas como filósofos ou escritores, isto é, não por causa de suas realizações teóricas, mas somente como seres humanos, por causa de seus feitos, somente do ponto de vista prático. E que no caso de Hegel, entretanto, falávamos de teorias. Assim, esquivei-me do ataque.

As três primeiras estratégias estão relacionados entre si. Eles têm em comum o fato de

que o oponente na verdade fala sobre uma coisa diferente do que foi afirmado. Então seria um ignoratio elenchi [desconhecimento das contraevidências] permitir ser derrotado de tal maneira. Então, em todos os exemplos apresentados, o que o oponente diz é verdade, mas parece estar em contradição com a tese de maneira aparente e não real. Tudo o que a pessoa que está sendo atacada deve fazer é negar a validade de sua conclusão, isto é, a conclusão a que o oponente chega, e isso porque sua afirmação é verdadeira e a nossa, falsa. Dessa maneira, sua refutação é refutada diretamente pela negação de sua conclusão, per negotionem consequetiae. Outra estratégia é recusar-se a admitir premissas verdadeiras por causa de uma consequência prevista.

Existem duas maneiras de derrotá-las e elas estão incorporadas nas estratégias 4 e 5.

38 estratégias para VENCER qualquer DEBATE - Arthur Schopenhauer Onde histórias criam vida. Descubra agora