Capítulo XXII

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I. Mantive-me ocupado pelos dois dias seguintes ao nosso interlúdio romântico no Pombal. Como poderia conseguir segurar meu desejo de tê-la outra vez em meus braços, beijá-la até que sussurrasse meu nome, sem que meus ancestrais se revolvessem em seus túmulos? Devido à apenas isso, mantive meu foco nos preparativos do baile, e não pude deixar de agitar-me com a distância. Sentia sus presença, ouvia sua risada sonora , mas não podia acompanhar seu som e chegar até ela, um verdadeiro calvário.

II. No almoço do dia do baile, aproximei-me dela com um olhar predatório, admirando seu vestido de passeio, e solicitei a valsa, afinal não poderia permitir que nenhum homem dançasse com ela, aquela que é a dança mais íntima de todas. Ela enrubesceu diante da minha solicitação, e tenho certeza que seus pensamentos evocaram uma dança diferente, mas não menos prazerosa, que havíamos compartilhado em meu refúgio particular.

III. Na biblioteca andei por um tempo para diminuir o calor que aquela simples interação havia trazido para meu corpo e que minha Christine havia despertado um amor poderoso e desenfreado, lembrei-me de uma lição:  "Quem pode se conter tendo um coração que ama, e nesse coração coragem para tornar esse amor possível?" Macbeth, do fantástico escritor William Shakespeare, como poderia me conter? Certa vez ela havia me dito que gostaria de ver os campos de Lindsey Hall na primavera, e assim nasceu a ideia de adornar todo o salão de baile com flores, para que ela se sentisse em plena estação das flores. Nada sairá do controle, tudo foi minuciosamente pensado para ser uma noite fantástica.

IV. Roupas impecáveis, posição e postura austera e o coração galopante, nunca imaginei-me em tais situações, ela demorou um pouco a aparecer, mas quando o fez, todo o salão encheu-se de luz, estava ainda mais perfeita, linda e de tirar o fôlego. Milimetricamente corrigi minha postura, ela em seu vestido de baile, mais parecia uma ninfa, cada florzinha bordada era um convite para analisá-las mais de perto, em outra ocasião talvez...Nos cumprimentamos e ela seguiu para o salão, após  dançar com Morgan, Lady Muir e a Srta Hutchinson, era chegada a hora da minha Valsa, teria ela mais uma vez em meus braços.

V. Atravessei o salão para chegar até ela, levava o monóculo ao olho, quando percebi que ela tirava algo de sua bolsa, e para minha surpresa era o monóculo que estava em seu poder a alguns dias, aquela insolente levou-o ao olho, naquele exato momento fui invadido pela felicidade, pura, crua, ali estava o amor da minha vida, sendo insolente e divertida em um salão de baile, em meio a aristocratas e do próprio Duque de Bewcastle, soltei uma gargalhada, por puro desejo de rir, Christine ficou paralisada. Não imagino a quanto tempo não era tocado por uma felicidade tão plena - claro sem contar o dia do retorno de Alleyne, pois naquele dia o sorriso não expressava minha felicidade, lutei para não chorar na frente de todos- próximo de dançar a valsa com a mulher que meu coração escolheu, voltei a sentir esperança.

VI. Enlacei sua cintura e dançamos. Pareceu-me que estávamos em um outro plano, em outro lugar, pois não fui capaz de ouvir nada que não fosse a orquestra e a respiração de Christine, rememorei todos os momentos que tivemos desde o instante que ela derramou suco de limão em meu olho, o jardim, a colina, o lago, o Serpentine, o Pombal... Não conversamos, não precisamos dizer uma palavra, naquele momento elas se faziam desnecessárias, ela era minha e eu era dela. Apenas isso. Os últimos acordes se fizeram flagrantes, mas daria o meu ducado para que aquele momento durasse toda a eternidade. Agradeci pela dança e voltei a meus afazeres de anfitrião.

VII. Esperávamos pelos convidados perfilados, mais uma vez no vestíbulo, e assim que Christine apareceu percebi que não estava feliz, estampava um sorriso em seu rosto, mas não era "aquele sorriso", parecia um sorriso forçado, ela parecia triste. Após as despedidas, aproveitei da chuva que caía e deliberei que ia acompanhá-la até a carruagem, ali estava minha chance, ela seria minha. Questionei-a se poderia visitar a sua mãe, e seu sorriso resplandeceu iluminando aquele dia nublado, deixei que ela entendesse o motivo por não fazer o pedido no baile. Desejo fazê-lo a sua mãe primeiro, e a resposta dela trouxe uma felicidade avassaladora: - Sim!
Três letras, uma monossílaba carregada de promessa de felicidade. Sou o homem mais feliz de todo o reino, não, de todo o universo!
Christine Derrick, que será Christine Bedwyn, Duquesa de Bewcastle, saiu em disparada para a carruagem, e levou consigo meu coração.

#DuquedeBewcastle

Caderno de Anotações  do Duque de Bewcastle- COMPLETO Onde histórias criam vida. Descubra agora