Shouto

36.2K 1.4K 3.4K
                                    

Era a terceira vez que eu encarava a mancha em seu olho. Particularmente, achava a parte mais bonita de seu rosto, ainda que fosse muito difícil escolher entre tanta beleza.

Todoroki era excêntrico demais para qualquer garota - e garoto - que quisesse namorá-lo, então eu assumia que ele talvez não tivesse tanto interesse em relacionamentos. Porque sabia o quão inigualável sua personalidade seria comparada à outra qualquer no mundo. Sabia que sua amada teria que lutar por uma eternidade para se comparar a ele, e mesmo assim falharia.

Nas vezes em que toda a turma se reunia para sair e beber juntos, sempre havia um ou dois casais temporários que se beijavam do nada. Eu, por exemplo, tive a sorte de me incluir em um deles. No geral, todos lá já tinham beijado um ao outro em alguma ocasião, com exceção de Todoroki.

— Por que você não beija a Momo?

Perguntei, fixando meu olhar no chão da calçada em que estávamos sentados.

Não que eu quisesse que ele a beijasse. Só queria saber por que ele não o faria.

— Quando você beijou o Midoriya, por que beijou o Mineta depois?

Maldito. Tinha mesmo que me lembrar desse desastre?

— Porque... - coloquei uma mão no meu queixo. — Ele ia se sentir mal por ter sido recusado.

— Exatamente.

Suspirei, pensativa. Todoroki riscava o asfalto com um pedaço de gelo afiado que havia criado, e seus fios de cabelo faziam um movimento contínuo de ir e voltar.

— Quer dizer que, se você beijasse a Momo, teria que beijar as outras também?

Ele encolheu os ombros e assentiu.

— Isso não é egocêntrico da sua parte? - franzi o cenho. — Deduzir que elas iriam querer te beijar.

Ele largou o disco de gelo, descansando um cotovelo no joelho e virando o corpo para o meu lado. Seus olhos heterocromaticos me causavam muito mais arrepio do que seu jeito obscuro e sério, porque estava acostumada a ouvi-lo e conversar com ele, mas não a encarar suas pupilas tão de perto.

Era impossível identificar se ele podia ser mais quente ou frio, uma vez que as duas correntes de vento que saiam de seu corpo se misturavam e se confundiam na atmosfera perfeitamente.

— Você não iria querer? - ele perguntou.

Merda. O que eu faço agora? Dou uma de difícil ou digo que 'sim, claro que sim!' logo de cara?

Todoroki assemelhava-se a uma porcelana para mim. Fosse porque eu conhecia boa parte do seu passado (ele confiava em mim para quase tudo), fosse porque eu podia sentir a dor que a cicatriz no seu rosto emanava.

De qualquer forma, um sentimento muito forte me invadia quando ficávamos juntos, e minha única vontade era abraçá-lo e mantê-lo próximo de mim o máximo que eu pudesse.

Por isso, leitor, você pode adivinhar o meu constrangimento ao imaginar, claro que inconscientemente, um beijo dele.
Minhas bochechas ruborizaram em questão de segundos.

— Oi, seus merdinhas! - Bakugo gritou mais ao longe. Vinha em nossa direção. — Vocês não têm um celular que preste pra receber ligações?

Todoroki piscou com lentidão para mim antes de se virar e responder Bakugo.

— O que você quer dizer?

— Quero dizer que a gente tava ali há um tempão, porra. - ele apontou com o dedo para uma esquina com um bar, onde Uraraka, Ida, e mais alguns outros estavam.

BOKU NO HERO  - oneshots Onde histórias criam vida. Descubra agora