Capítulo Um

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"É a última taça, eu prometo".

Estou esgotada, completamente cansada desse comportamento. Após seis meses de sobriedade e sem nenhuma traição, eu realmente acreditei que Eliot poderia mudar, acreditei que os pratos parariam de serem atirados contra a parede de seu apartamento após mais uma noite obscura. Porém cá estou eu, presenciando o meu primeiro amor se afundar novamente em cada gole de champanhe e levando todo o amor reservado à ele que sobrava em meu coração.

A mansão dos pais de Eliot está cheia de familiares e amigos, todos empolgados para a contagem regressiva, o som está alto e contagiante, observo cada detalhe até parar os olhos no grande espelho que ocupa uma parede da sala de estar, o sorriso falso em meu rosto é perceptível e não combina com o vestido prateado longo de seda que desliza sobre minhas pernas.

Um presente de minha mãe para usar no tão esperado Ano-Novo. As alças são finas e ele possui uma abertura para mostrar uma perna até a metade da coxa enquanto ando. A cor clara faz com que meus cabelos escuros e minha pele levemente bronzeada se destaquem. Assim que lembro dos elogios de meu pai, começo a sorrir novamente até perceber Eliot na varanda, entregando seu número para uma mulher desconhecida e logo em seguida, vomitando em cima do vestido branco da loira. Percebo o sorriso dele se transformar em desespero enquanto tenta chamar ajuda e logo depois em arrependimento ao me ver. Me aproximo e decido que não consigo mais levar isso adiante.

"Eu pensei que você iria conseguir dessa vez, estamos juntos há tanto tempo e sabe quantas vezes já vi essa cena? Cinco. E perdoei todas pois era completamente apaixonada por você." Seus olhos se arregalam.

"Era?", meu coração parece que irá sair pela boca a qualquer momento, todos os convidados parecem prestar atenção em nós.

"Era. Esse relacionamento é inaceitável, tome quantas taças de champanhe quiser e transe com todas as meninas dessa casa porque eu desisto de tentar salvar algo que já está perdido há muito tempo, finalmente percebo isso."

Meus pensamentos ficam descontrolados e meu peito queima, sem ter a menor noção do que estou fazendo, despejo uma garrafa de bebida na cabeça dele e passo correndo pela porta em direção à saída e ao meu carro.

O caminho até a praia não é longo, mas o suficiente para que todos os meus gritos e soluços saiam, fazendo minha garganta arder.

Como toda Véspera de Ano-Novo, ela está lotada no centro, então dirijo até a parte mais vazia, preciso de paz. Os saltos que estavam em meus pés param em minhas mãos enquanto caminho até a areia. De onde estou, consigo ver as luzes e muitas pessoas pulando ao som de uma música que não consigo decifrar.

Olho o horário em meu celular, faltam 20 minutos para meia-noite. Ótimo começo de ano, Olívia. Algumas luzes enroladas em palmeiras que estão ao meu redor fazem com que o lugar seja ainda mais encantador. A Lua está brilhante e o mar está calmo, respiro fundo e aprecio um dos lugares que mais amo no mundo.

Começo a relembrar os momentos com meus amigos e minha irmã, a qual eu sinto falta de conversar todos os dias porém Kate anda muito ocupada com seu trabalho na França. Resolvo cantarolar uma de nossas músicas favoritas.

"Start spreading the news, I am leaving today, I want to be a part of it", escuto o barulho de passos fortes porém distantes. Até uma voz rouca invadir meus pensamentos antes que eu me vire.

"New York, New York". Minha visão tenta se adaptar enquanto as luzes me ajudam a enxergar um garoto que se aproxima e então o pânico toma conta de meu corpo.

"Antes que você se afaste desesperadamente, saiba que eu não sou agressor, psicopata ou...", antes que ele termine de falar, ouço um barulho de motor sendo desligado e a batida de uma porta, seguidos por gritos.

"Edward! Entra nesse carro agora! Depois eu peço ao seu pai para buscar o seu aqui. Já!". Vejo uma mulher de certa idade porém conservada com uma expressão raivosa ao lado de um enorme carro. O provável Edward se vira lentamente para ela.

"Eu não vou voltar para a festa mãe, cansei de tudo aquilo, por favor vá embora, prometo não demorar, só preciso de um tempo até todos irem embora."A mulher volta a falar.

"Está todo mundo te esperando lá em casa meu filho e.." O garoto a-interrompe, "Mãe, você sabe que eu tenho motivos para não querer voltar para lá, por favor."

Então, ela suspira e parte com o carro sem falar mais nada, me surpreendendo por ser de certo modo, compreensiva.

"Se fosse a minha mãe, eu estaria sendo arrastada para o carro agora mesmo", digo e ele ri, sentando na mesma distância que estou do mar porém longe o bastante de mim.

O corpo dele é esguio e está com camisa e bermuda branca. Os braços parecem bronzeados e possuem tatuagens. Ele se encosta em uma palmeira, fazendo com que o rosto se ilumine ainda mais. O garoto tem traços fortes e finos, os olhos parecem claros porém não consigo perceber a cor exata. Os cabelos escuros são médios e formam pequenos cachos nas pontas. Ele parece estar derrotado quando olha para as pequenas ondas quebrando sem ninguém mais por perto. Sinto a angústia e o medo desaparecerem aos poucos.

"Então, Edward.. Você parece estar tão revoltado quanto eu nesta linda Véspera de Ano-Novo, o que faz com que minha mente estranhamente acredite que você não é um psicopata", digo e desta vez ele gargalha, ainda com os olhos concentrados no mar.

"Até que a minha raiva serviu para algo não é mesmo?", consigo enxergar o sorriso dele de longe por ser tão brilhante acompanhado de covinhas extremamente profundas. "E meu nome é Harry".

Slow BurnOnde histórias criam vida. Descubra agora