O Perfume de Prata – Capítulo I: O Rebelde, de Nick Scabello
Västerort, Oeste de Estocolmo, Suécia. 29 de agosto de 2018. 2h48min
O líquido comprimido dentro da lata de Kleber se agita enquanto o garoto chacoalha o invólucro. Um apertar de mecanismo simples e o líquido jorra por pressão para fora da lata, diretamente em uma parede. Uma simples lata de spray, com um spray vermelho como sangue. Kleber usava essa lata para fazer sua marca no segundo andar de uma loja.
Seu bom olfato então capta uma coisa. Cheiro de sangue. Pessoa se aproximavam. Àquela hora, Västerort era deserta, principalmente naquela específica região em que ele se encontrava. E seu desenho ainda não estava pronto ainda. Cruzando a esquina, Kleber pode ver uma viatura se aproximando.
Kleber Becker não temia os policiais suecos, mas sabia que se expor podia por em risco toda uma organização. Ele era baixo, vestia calças jeans grossas, com um casaco preto por cima de uma camisa com uma caveira colorida estampada. Kleber tira seus headphones e passa a estar alerta ao som da viatura se aproximando.
Primeiro os policiais dão um sinal de alerta com a sirene, basicamente dizendo que eles não iriam avançar se Kleber parasse o que fazia. Mas ele não parou. Queria poder terminar rápido, mas estava indo o mais rápido possível. Seu sangue fervia, enquanto ele usava seus poderes para pintar.
Kleber não era uma pessoa normal. Kleber nem sequer era uma pessoa. Kleber era algo maior que isso. Quando os policiais começam a escalar a escada lateral do prédio, Kleber vira para trás. Ele podia ver a viatura vazia de lá. Mais uma vez, o jovem se concentra, e seu sangue novamente ferve. Ele coloca os headphones novamente, cada um deles com o símbolo da anarquia, apesar de que o esquerdo estava de ponta cabeça. Ele sabe que ia precisar dos headphones para seus ouvidos não doerem. Com um passo, ele sente o vento forte bater no rosto, enquanto ele aparecia do lado da viatura. Rápido como um piscar de olhos humanos.
Com sua força potente, Kleber enfia a mão na maçaneta do carro e puxa, forçando para fora a tranca e a fazendo ceder.
Kleber era um membro do Clã Brujah, e nenhum policial jamais daria ordens a ele.
O Clã Brujah é um dos mais antigos, que organizava pessoas ele. Pessoas que não estavam mais vivas. Vampiros, assim como ele. Todo o Clã Brujah fora construído na premissa de que as pessoas devem se rebelar, que a rebeldia era a força contra a máquina opressora. Mas, na verdade, Kleber mal ligava para isso. Ele só queria quebrar coisas.
Quando os policiais chegam onde estava a pichação de Kleber e não vem o garoto lá, eles se entre olham estranhos. Kleber acelera a viatura com força, chamando a atenção dos policiais, que passam a ir atrás dele. O vampiro vira um beco e se joga da viatura, a fazendo bater contra a parede.
Os policiais se aproximam, e Kleber podia sentir o cheiro do sangue deles. Sentir a ressonância deles. Estavam com raiva, agitados. Nervosos. Era um sangue colérico. Mais um piscar de olhos e Kleber estava atrás de um deles. Eles podiam estar nervosos, mas seriam muito mais úteis estando ainda mais. O vampiro empurra o ombro de um deles e faz seu movimento para se esconder usando sua velocidade. O policial se vira para trás apontando sua pistola, mas não tem ninguém lá. Kleber deixa-se rir de maneira jovial. Uma risada muito fina ou muito grossa os deixaria com medo, mas uma risada de jovem os faria ficar com mais raiva.
Kleber estava usando muito os poderes do sangue. Ele passava a sentir sua fome aumentar. Precisava se alimentar. Com sua rapidez ele corre por entre os policiais e golpeia a nuca dos dois. Mais uma vez, em um piscar de olhos, Kleber corre, mas usando a velocidade ofensivamente golpeando as costas de um deles. Com suas presas para fora, Kleber morde um dos policiais, saciando parte de sua fome e o deixando desacordado nas sombras. Seu sangue era colérico, do jeito que Kleber gostava. Esse sangue aumenta a velocidade e força de Kleber.
O outro policial se levanta, e não encontra seu parceiro. Ele olha para um lado, olha para o outro, mas não via Kleber. Mas Kleber o via, nas sombras do beco mal iluminado. Mais um avanço, unido de um soco, e o policial voa de uma ponta a outra do beco, como se tivesse sido atropelado por um trem, caindo em cima da viatura danificada. Kleber se alimenta o suficiente para saciar sua fome e usa seus poderes para voltar ao grafite.
Pouco antes de outra viatura chegar devido ao chamado de reforço dos dois policiais confusos.
E quando eles chegam no local, não encontram Kleber. Sem nenhum sinal do jovem anarquista Brujah. Apenas encontram uma imagem. A imagem que Kleber desenhara na parede daquela loja. Uma imagem que dizia para todos os outros vampiros envolta uma coisa: Aquele território era protegido, pelos Brujah, da polícia de Estocolmo.
A imagem era de uma cabeça que parecia ter tido o resto de seu corpo arrancado, com sangue saindo dos olhos e vários cortes na pele. Um bigode escova de dentes, num gosto gorducho e cheio de rugas com um corte de cabelo calvo. Não tinha olhos, mas no lugar, dois símbolos da Anarquia, sendo que o esquerdo estava de ponta cabeça. Era uma representação da capa de Mil Novecentos e Oitenta e Quatro, de George Orwell, que representava o Grande Irmão, aquele que via de tudo.
Aquela imagem mostrava a cabeça dele rasgada, com o símbolo dos Brujah tapando os olhos. O Grande Irmão não podia enxergar ali. A polícia não podia enxergar ali. Uma mensagem simples que apenas aqueles como Kleber iam entender.
E haviam muitos como Kleber em Estocolmo. Muitos mais do que já houveram. Mesmo com a segunda inquisição, a cidade anarquista de Estocolmo ainda era um lugar seguro para eles.
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O Perfume da Prata
VampireOs Membros da anarquista Cidade de Estocolmo devem entender o significado de um assassinato muito peculiar. E onde quer que o rastro desse crime esteja, eles sempre tem junto deles o cheiro do Perfume da Prata. Bem-vindo ao Mundo das Trevas.