Eu não nasci gay

Credo, que delícia,digo que absurdo

Acordei com o Renan fazendo o maior escândalo tentando achar a merda da botina.

- Oh estrume, 'cê' pegou a minha botina?- Disse ele, se abaixando para olhar debaixo da minha cama.

- Renan, meu anjo, você realmente acha que eu ia querer a sua botina chulezenta?- Perguntei irônico.

Ele me ignorou.Opa querido, quem ignora aqui sou eu!

- Então, eu posso saber quem é o tal Wilson que tu e painho contrataram? - Perguntei arqueando a sombrancelha.

- O capataz - respondeu.Revirei os olhos. Ô senhor.

- Eu sei disso, anta.

-Ué, o que que tu quer saber mais?

-Onde vocês arrumaram ele, talvez?-Perguntei. Eu até estava curioso para saber o que causou essa mudança inesperada, mas primeiro eu quero saber de onde esse delícia, quero dizer, esse mano veio.

- E você tá curioso assim por que...?

Revirei os olhos. Será que era difícil esse ser só responder a minha pergunta logo? Inferno!

- Ô desgraça, fala logo!

- Olha, a única coisa que  eu sei é que painho contratou ele depois dele ter tomado um pé do Seu Francisco, o 'bixin' devia tá desespero 'memu' pra aceitar aquele merreca de salário que o pai ofereceu.

Só pra te localizar, Seu Francisco era o dono da fazenda vizinha a nossa, um velho rico com cara de mula que era nosso principal concorrente. Tinha dois filhos mauricinhos criados a leite com pêra, o Jackson e o Alfredo, o único que se salvava era o meio-irmão dessas pragas, o Jorge, mas falemos dele mais tarde.

Já ia continuar as minhas perguntas quando ouvi um grito vindo da cozinha:

-Severino, Renan!'Ocês' tão dormindo ainda, né seu imprestáveis? Venham aqui já antes que eu desça a vara no lombo dos dois.

Parece que painho não acordou de bom humor hoje. Ah não, ele é assim sempre.

Renan, como sempre, foi o primeiro a descer para a cozinha e se postar perfeitamente diante de nosso pai, com um sorriso gigante e uma carinha inocente. Mais falso que nota de 3 reais.

-Bom dia, painho. Dormiu bem?-Perguntou, piscando aqueles olhinhos de víbora.

-Eu dormiria melhor se eu soubesse que quando acordasse os meus filhos já estivessem de pé fazendo as obrigações. Na idade de vocês eu acordava antes do galo cantar, cuidava do gado, arava o campo e ainda ia vender doce de abóbora da sua finada vózinha. Realmente não se fazem mais crianças como antigamente.- Resmungou painho sentando na mesa de café e passando manteiga caseira num pãozinho.

Eu poderia até falar que se éramos dois bostas a culpa era totalmente dele que não fez direito, mas obviamente fiquei de boca fechada. Eu gosto do meu lombo inteiro, obrigado.

Fui direto pro fogão fazer café antes de tomar outro esporro matinal do meu pai. Já estava o coando quando ouvi meu nome ser chamado:

-Severino,hoje tenho outro trabalho 'pru cê'.

Ah pronto, como se já não bastasse a tiração de couro de cada dia, ainda tinha mais essa.

-Eu quero que ocê leve o Wilson pra conhecer os fundos da fazenda, principalmente a cachoeira pra ele tomar banho quando terminar o serviço.

Opa.

Aí a história é outra.

Então quer dizer que eu vou poder passar o dia sozinho com o Wilson em um passeio romântico (Tudo bem, talvez não tão romântico assim) pela fazenda?