Capítulo 4

443 51 271
                                    

SÁBADO, 12 DE JULHO DE 2121

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

SÁBADO, 12 DE JULHO DE 2121.

— Divirta-se e lembre-se de usar camisinha.

Arthur e Lola se encararam por um breve momento. Seria o começo de mais uma daquelas brigas ridículas de irmãos, se Lola tivesse se importado com o comentário bobo. Mas na verdade a discussão tinha a ver com uma coisa muito maior. Lola girou nos calcanhares e caminhou para fora.

— Ei, espere um pouco! — Arthur disse um momento depois, correndo atrás da irmã. — Lola? Lola!

Mas ela havia partido.

Em pé na soleira da porta, observando o jardim iluminado, Arthur mirou Lola se afastar de mãos dadas com Leonardo. Ele condenou a si mesmo pelo comentário desnecessário que fizera sobre usar preservativo. Balançando a cabeça para os lados, jogando aqueles pensamentos inoportunos para longe, Arthur bateu a porta e se enfiou no sofá novamente.

Deitado com a cabeça apoiada no colo de Raquel, recebendo cafuné e com um balde de pipoca sobre a mesa de centro, Arthur escolheu uma série de terror para assistirem. Havia somente uma temporada com dez episódios, então nada melhor que unir o útil ao agradável e aproveitar uma noite de silêncio puro e fazer uma maratona.

Depois de cinco episódios, os olhos de Arthur estavam cansados e eles acharam melhor fazer um intervalo. Raquel checou sua rede social e Arthur correu para o banheiro. Lá dentro ele se trancou, e abriu o compartimento secreto que havia feito para o armário em cima da pia. Tirou de lá um cigarro de maconha, levando-o aos lábios. Ele acendeu com um isqueiro que escondia nos bolsos do moletom, e sugou a erva. Contou vinte segundos e liberou a fumaça demoradamente. Ele repetiu o gesto até que o baseado acabasse, e então borrifou um pouco de aromatizador de ambientes e apertou a descarga. Saiu do banheiro após pingar colírio e correu para o sofá.

— Bora terminar essa série? — Arthur perguntou procurando pelo controle remoto.

— Minha mãe já está vindo me buscar — Raquel informou. — Está tarde. Você sabe que ela não gosta que eu passe a noite fora de casa.

— Mas já?

— Só mais um episódio! — Raquel afirmou, aproximando-se dele, dando-lhe um beijo casto. Ela o encarou por um instante. — Você fumou, não foi?

Arthur se afastou, abraçando uma almofada.

Não queria encará-la.

— Você prometeu que pararia com isso, Arthur.

— Eu sei — ele disse baixinho. — Desculpa.

— Não adianta pedir desculpa se vai fazer de novo assim que eu sair por aquela porta — Raquel retorquiu, brava, colocando-se em pé. — Sabe que eu não gosto disso! Eu vou embora, já deu para mim!

Arthur se levantou rápido, pegando-a pelos braços.

— Fica, por favor... — ele pediu com gentileza. Os olhos estavam vermelhos. — Eu não quero ter que encarar os meus pais quando eles voltarem.

— Você é grande demais, Luporini, pode resolver seus problemas sozinho! — ela disse, já marchando em direção a porta. Parou no batente e olhou para trás. — Não faça isso consigo mesmo. Você sabe que isso é uma porta de entrada para outras drogas. Se quer chamar a atenção dos seus pais, arrume outro jeito, mas não acabe com a sua vida. Amanhã a gente se fala. — E bateu a porta, deixando um Arthur confuso para trás.

***

Eram duas da madrugada quando os portões da garagem abriram e o barulho fez com que Arthur saltasse do sofá. Havia caído no sono no meio do penúltimo episódio, depois de ter fumado mais quatro cigarros de maconha, e bebido toda uma garrafa de uísque da adega de Alec. Arthur ouviu o som da porta da cozinha abrir, e correu em direção ao cômodo. Ele usava somente uma calça moletom e estava com os peitos e pés nus.

No meio do caminho esbarrou com Rebecca.

— Que horas são? — ele perguntou, bocejando.

— Hora de você estar dormindo — Rebecca respondeu sem diminuir as passadas apressadas em direção ao segundo andar. Arthur seguiu os passos da mãe. — Cadê a sua irmã?

— Ela saiu com o Leo — Arthur respondeu. Rebecca vasculhou todo o quarto, abaixando-se diante de seu guarda-roupa. Procurou por mais um tempo, e Arthur abriu bem os olhos ao perceber o revólver nas mãos de Rebecca.

— Que merda! — Rebecca xingou. Enrolou a arma em um pano, enfiando-o dentro da bolsa. Ela bufou. — Eu precisava conversar com vocês dois, mas não posso esperar.

Arthur franziu o cenho.

— Esperar o que, mãe? — ele indagou. — Do que a senhora está falando? Para que é esse revólver? Cadê o pai?

Rebecca gesticulou para que Arthur ficasse calado, simbolizando um zíper com as mãos sobre os lábios.

— Ele está me esperando lá na garagem. — A voz dela saiu mais afobada do que pretendia. — Não quero que vocês fiquem preocupados com a gente, mas precisamos resolver assuntos de última hora, não faça nenhuma pergunta.

Arthur crispou a testa, coçando a nuca.

— Para onde vocês vão?

— Para a casa de campo. Avise sua irmã que estamos bem. Não se preocupem.

Ela desceu as escadas correndo, e Arthur continuou em seu encalço. Queria e precisava entender o que estava acontecendo. Que problema urgente seus pais precisavam resolver?

Rebecca estacou na cozinha, impedindo Arthur de atravessar a porta para a garagem. Ela marchou na direção dele, embalando-o num abraço caloroso.

— Vai ficar tudo bem, eu prometo — Rebecca sussurrou, fungando. Ao se afastar do abraço, Arthur percebeu que os olhos da mãe estavam marejados. — Não importa o que aconteça, filho, eu amo vocês. Avise a Lola que estamos bem.

O Jogo dos Segredos [1] DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora