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 Harry acordou sentindo-se tonto, como se o mundo não estivesse na mesma frequência que seu corpo. Ao levantar a cabeça, levando-a para longe daquele travesseiro – que era macio demais e acabou fazendo com que o rapaz tivesse que se acomodar constantemente durante aquela noite –, Harry sentiu uma explosão de aromas indo de encontro com seu nariz.

Talvez porque, agora, estava em sã consciência, diferentemente de quando ainda estava dormindo e não conseguia muito bem distinguir o que era sonho do que era realidade. Harry só conseguia se lembrar de que havia sonhado com Louis, e no sonho, um cheiro estranho tomava conta de todas as cenas. O rapaz só foi perceber que o 'cheiro estranho' era o próprio cheiro de Louis quando, ao piscar os olhos repetidas vezes e olhar ao redor, percebeu que aquele travesseiro era extremamente diferente daquele que Harry estava costumado a usar.

Era o travesseiro de Louis. Com o cheiro de Louis. O que acabava fazendo com que Harry tivesse a impressão de que Louis estava em todo o lugar daquele quarto, e se o rapaz dos olhos verdes continuasse pensando tanto assim em seu vizinho encrenqueiro logo pela manhã, talvez até mesmo acabasse com uma dor de cabeça.

E infelizmente, se Harry se lembrava bem, não havia mais comprimidos para dores de cabeça dentro de sua caixa de remédios de emergência. Então, ele acabou admitindo que havia apenas duas opções: ou esquecia Louis – pelo menos naquela parte da manhã – ou lidava com uma dor latejante na lateral de seu cérebro, o mesmo órgão de seu corpo que tentava lhe alertar, milhares de vezes e das mais variadas formas possíveis, sobre o problema que Louis trazia para aquele corpo saudável e cheio de energias pacíficas que Harry havia levado tanto tempo para construir.

Depois de muitas sessões de ioga, uma aula de exercícios aeróbicos ao ar livre com Niall, com direito a tapetes azuis espalhados pelo chão de seu jardim e faixas fluorescentes prendendo o cabelo de suas cabeças na altura da testa, Harry poderia bater em seu peito algumas vezes antes de afirmar que, sim, ele era um rapaz calmo e controlado. Mas aquilo acabava mudando um pouco quando certas pessoas entravam em cena, com seu rebolado de quadril e olhares propositalmente intensos demais para que Harry conseguisse aguentar tudo aquilo sem precisar apoiar-se em algum canto por aí e respirar fundo, antes de repassar mentalmente alguns pontos importantes sobre convivências diárias com pessoas de naturezas desconhecidas e aparentemente perigosas, e perguntar-se se realmente valia a pena destruir todo o império de vitalidade e calmaria que o ioga havia lhe proporcionado por conta de um par de olhos azuis e um macacão jeans extremamente justo.

Foi com esse e outros pensamentos passando por sua cabeça que Harry levantou-se de sua cama, quase tropeçando pelo carpete e alguns pares de sapatos jogados ali. Continuava desatento demais, por conta de não conseguir manter longe de sua mente aquele pequeno-elemento que era o principal motivo de sua desatenção.

Louis ainda continuava em todo lugar, e aquele cheiro único, provindo de um perfume provavelmente caro demais para que Harry simplesmente se interessasse em ter um igual, fazia com que o rapaz tivesse a sensação e que Louis estava ali, naquele quarto, sentado na beirada da cama, com suas pernas cruzadas, fazendo aquelas coxas se destacarem do restante do corpo, as mãos postas sobre um dos joelhos elevados e um semblante em seu rosto que só poderia significar uma coisa: "Eu vou acabar com a sua vida."

Harry virou-se, já de pé, em direção a própria cama, observando aquele móvel, como se quisesse apenas checar se Louis realmente não estava ali. Afinal, aquele seu vizinho conseguia ser esperto e travesso demais para não ser capaz de tramar algo contra Harry em um nível daqueles.

Mas aquilo só podia fazer parte do delírio que Louis causava em qualquer ser-humano que convivesse tempo demais com ele. E com Harry morando ao seu lado e sendo uma presa fácil, provavelmente não iria demorar muito para que ele acabasse saindo de sua casa, indo direto para o manicômio.

speaking in bodies // larry stylinsonOnde histórias criam vida. Descubra agora