Loki caminhava lentamente pela clareira, sentindo a luz do sol bater em sua pele quase translúcida e o vento da terra asgardiana balançar seu cabelo. Podia ouvir ao longe o som da cachoeira, e ele gostava disso. Parou e deixou um sorriso de canto escapar de seus lábios quando percebeu uma aproximação sutil - reconheceria aqueles passos suaves de bailarina em qualquer lugar, e nem mesmo a sensação gostosa daquela clareira iria fazê-lo não notar que ela estava por perto.
- Breeze - sussurrou.
- Droga! - ela riu - Você percebeu.
- Como não perceberia? Tudo seu é inconfundível.
Breeze sorriu. Ela era uma mulher de Midgard, Brasileira. Tinha uma pele negra contrastante com a de Loki e um cabelo curto e platinado - em suma, eles eram o perfeito oposto um do outro. Havia ido passar algum tempo em Asgard após ajudar Loki a se redimir com os Vingadores e consequentemente com Midgard, reconquistando assim a confiança de Odin e Thor, que a convidaram pessoalmente.
A garota andou até o lado do moreno e parou, contemplando a vista. Não conseguia parar de pensar consigo mesma como tinha conseguido isso - convencer Loki a se tornar parte dos Vingadores e, ainda, ir parar em outro reino. De fato, era um feito grande e por muitos considerado quase impossível. Por fim, ela decidiu quebrar o silêncio:
- Posso te perguntar uma coisa? Venho pensando nisso há algum tempo.
- Sim.
- Por que você se rebelou, afinal? Me refiro... ao ataque a Nova Iorque.
- É complicado - Loki deu uma pausa curta e suspirou - Não me rebelei. Não ataquei Midgard por vontade própria, pelo menos não daquela vez.
- O que quer dizer por "não daquela vez"?
Loki sorriu um tanto debochado.
- É engraçado como você se dispôs a ajudar alguém sem nem mesmo saber o que essa pessoa fez.
Breeze deu de ombros em sinal de desdém e encostou uma mão no ombro de Loki, abrindo a mente para ele e fazendo-o lembrar de que, quando decidiu ajudar, não o reconheceu de primeira. Ele estava meio diferente.
- De qualquer forma, você não parece ser tão mal quanto dizem - Virou-se de frente para o moreno, cruzando os braços - Mas já que gosta tanto de parecer mal... acredito que agora que a poeira abaixou, tenho direito de saber tudo que aconteceu, tudo que você deixou de me contar.
Loki a encarou com uma sobrancelha erguida.
- O que acha que deixei de te contar?
- As coisas más que você fez, criatura maléfica.
- Você não vai parar com isso de coisas más, não é? - o moreno parecia começar a ficar irritado.
Apesar de estar melhor e supostamente mais amigável, o comportamento e o temperamento do deus ainda eram instáveis. "Não seria o Loki se ele não estivesse ficando estressadinho agora", Breeze pensou, com um meio sorriso que logo desapareceu.
- Tudo bem, que tal começar com a pergunta principal, que é: como um deus foi parar na minha casa, num interior do Brasil?
Ele hesitou. Parando pra pensar, não lembrava como isso havia acontecido. Lembrava de Nova Iorque, da prisão nas masmorras do Palácio Real asgardiano e de repente estava em Midgard, deitado na grama do quintal de uma desconhecida. Lembrava do remorso reprimido, do desdém forçado para encobrir tudo que ele realmente sentia - de muita coisa, menos o que realmente importava. Precisava criar algo para enganar Breeze, mesmo que só por enquanto.
- Eu fugi de Asgard. - disse, por fim - Não sabia o que fazer. América do Norte, como vocês chamam, era muito previsível, então decidi ir para o Sul. Não sabia onde exatamente ia parar, o que significa que caí na sua casa por pura aleatoriedade. Se está se perguntando como não me descobriram, é simples: minha magia pode enganar até mesmo Heimdall - terminou usando um tom despreocupado.
- Ah é sabichão, então como saiu de Asgard sem ser por Heimdall? Conhece outra pessoa que pode conjurar a Bifrost?
- Conheço outro caminho - Loki a fitou por um segundo. Breeze o encarava, parecia conseguir ler a mente dele, parecia saber que estava mentindo. Mas ele era o senhor das mentiras ali, e sabia que conseguiria enganar a moça com facilidade.
De qualquer forma, ela sorriu. Estendeu a mão para ele, mesmo em dúvida se confiaria na resposta do deus. O laço que eles haviam conseguido formar durante a estadia do deus na Terra era, no momento, mais importante que isso - pelo menos para ela. E naquela hora era só isso bastava ao asgardiano.---------------------------------------
Thor caminhava impaciente pelo enorme salão dourado onde ficava o trono. Odin apenas observava, sem falar nada, a inquietude do filho.
- Meu pai! Sabemos que um dia meu irmão há de descobrir tudo, e quando o conseguir... ah, meu pai! Ele fará do impossível para vingar-se.
- Teu irmão tomou juízo, Thor. Não te preocupes com isso.
- Quando falas desta forma, parece que o desconhece! Sabes o que Loki pode fazer se for tomado por fúria.
- Não foi tu, meu filho, que chegou aqui feliz porque tinhas visto teu irmão fazer coisas boas? E ainda decidiu trazer a midgardiana para nosso palácio? Se Loki voltar a fazer besteiras, já sabes! Ele morrerá.
- É isso o que me preocupa, meu pai.
- O que te preocupas, irmão?
O barulho surdo da porta sendo aberta e a voz autoritária do filho de Laufey ecoou pelo salão, fazendo a atenção dos outros dois asgardianos presentes se voltarem a ele. Loki caminhou até próximo ao trono e fez uma breve reverência.
- Meu Pai - Loki saudou Odin, num idioma que Breeze não conhecia.
Ela estava parada na porta. Já havia falado com o Rei antes, porém ainda se sentia intimidada pela forma polida que eles conversam. Thor a encorajou a entrar. Ela caminhou suavemente até o lado de Loki e imitou o gesto do mesmo.
- Vossa Alteza, Pai de Todos.
Odin pediu para que se levantassem, e ambos obedeceram.
- Procurava-me, meu filho?
- Sim. Vim pedir teu perdão pelo tempo que levei até conseguir vir aqui, pai. Peço até mesmo que me perdoe por todos os atos inescrupulosos que cometi aqui e em outros reinos. Ainda assim, gostaria que pudéssemos conversar sozinhos.
Odin olhou para Breeze e Thor, indicando a porta. Os dois fizeram uma nova reverência e saíram, um tanto desconfiados, mas sem perguntar nada. Quando a porta fechou, Loki suspirou e encarou o pai de todos, juntando as sobrancelhas.
- Por que eu não consigo lembrar de nada que aconteceu?---------------------------------------
- E se escutarmos atrás da porta? - Breeze sugeriu.
- Não é má ideia, mas seria fácil de sermos vistos.
- Você prefere correr o risco de sermos vistos ou correr o risco de seu irmão fazer merda?
- Nenhum. De qualquer forma, não poderíamos impedir ele assim tão fácil, então vamos fingir que não sabemos o que está acontecendo.
Breeze bufou e resmungou algo que Thor não pôde entender. Ambos começaram a caminhar pelo castelo sem um rumo certo. Os corredores grandiosos se estendiam pelo que parecia uma eternidade. Ela olhava encantada para os adornos de ouro e para os diamantes que contornavam as pinturas no teto. Ali, com certeza, haviam cristais dos quais ela nunca tinha ouvido falar - afinal, provavelmente eles não existiam na terra.
As portas eram grandes o suficiente para passar um gigante de gelo - gigante de verdade, não um "gigante-anão" como o Loki -, e feitas de ouro maciço. A jovem, deslumbrada, parou em frente a uma porta em específico. O asgardiano que a acompanhava não percebeu e continuou o caminho, com uma expressão pensativa e preocupada. Breeze aproximou-se da porta e passou os dedos esguios pela maçaneta abrindo-a lentamente. Olhando pra dentro, percebeu que era a entrada do quarto do deus moreno e, como que por um impulso, resolveu entrar, fechando cuidadosamente a porta atrás de si.
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Loki: Until Dusk [Hiatus]
FanfictionAo perceber que algo importante está faltando, Loki não vai descansar até descobrir o que é. E se o fizer, em todos os nove reinos o anoitecer chegará. Ou os Vingadores seriam capazes de impedir o Deus das Trapaças novamente, ou um evento maior qu...