James não suportava ver Rose chorar.
Ele estava sentado na escada de sua própria casa ouvindo os soluços abraçados da prima contra o peito de Albus. O relógio na parede fez um barulho anunciando a virada do dia, mas os dois mais novos no sofá nem ouviram. Seu irmão murmurava algumas coisas incompreensíveis na tentativa de acalmá-la, mas nada parecia surtir efeito.
Com a barra da camisa do pijama, James secou seu próprio rosto e andou calmamente até a cozinha, sem pretensão de chamar atenção. Separou três xícaras em cima da bancada e esperou até a chaleira apitar. Colocou dois cubos de açúcar em um, uma colher de leite em outra, e na terceira serviu chá puro.
A este momento, os dois primos já sabiam que não eram os únicos acordados na casa Potter e já não emitiam nenhum som. Apenas quando viram que era James quem estava de pé, soltaram a respiração aliviados e aceitaram a xícara oferecida a cada um. Ele se sentou ao lado do irmão, deixando-o no meio do sofá. Os três ficaram em silêncio, perturbado apenas pela respiração pesada de Rose.
– Te acordamos? – Ela perguntou com a voz rouca.
– Nah. – Ele deu os ombros, mesmo sabendo que ela não o veria. – Não tava conseguindo dormir e vim fazer um chá pra ajudar.
A pergunta chegou à ponta da língua algumas vezes, mas James permaneceu quieto. Ele imaginava que as lágrimas da prima escorriam devido ao pequeno surto de Ron Weasley após ver a menina se despedindo de Scorpius Malfoy na Estação King's Cross com um beijo. Preferiu não ter certeza.
James ainda não conseguiu dormir aquela noite. O nó em sua garganta o impedia de respirar. Ele sempre foi assim, desde pequeno. Uma vez, quando ele tinha 8 anos e Albus, 7, encontrou o mais novo sozinho no parquinho porque ele não podia brincar de carrinho com os meninos se usasse uma boneca ao invés de uma figurinha de ação e não podia brincar com as meninas se levasse um hot wheels ao invés de um carrinho rosa. James deixou de jogar futebol com os meninos mais velhos para ficar com o irmão e depois passou a noite inteira vomitando por não conseguir ajudá-lo a se enturmar.
Foi a mesma coisa quando Hugo e Lily passaram mal no parque de diversões por terem ganhado um pacote de doces cada e comido tudo de uma vez. Ele ficou ao lado dos dois ao invés de aproveitar o resto do dia nos brinquedos. Só voltou a relaxar quando os viu pulando e gargalhando outra vez.
Dessa vez era diferente, e ele sabia disso.
Ele não podia fazer nada. Era incapaz até mesmo de consolá-la decentemente, era Albus quem estava fazendo isso. Ele só fez um chá e ficou sentado em silêncio ao seu lado. Bela ajuda.
Quando Harry desceu para tomar café na manhã seguinte, nem se surpreendeu ao ver o primogênito já de pé e preparando a refeição. Conhecia-o o suficiente para saber que o surto de Ron com a filha havia o afetado.
– Você sabia que eles estavam juntos? – Perguntou sem rodeios, aceitando o suco de abóbora do filho.
– As pessoas comentavam. – Deu os ombros. – Mas a Rose sempre foi muito discreta com os relacionamentos dela.
– Eu nem imaginava que... hum... – Fingiu se demorar num gole de suco - Já era essa idade.
– Pai... - James riu sem emoção. – Rose recebe declarações e flores e convites para sair desde o final do primeiro ano.
Harry engasgou, causando uma risada sincera no filho.
– E... E você?
– Já saí com umas duas garotas e beijei um menino em um jogo. - Serviu uma tigela de ovos mexidos e começou a cortar o pão em tiras. - Mas acho que nunca gostei de ninguém assim.
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there are worse things i could do
FanficRose nunca fez nada de errado. Até se apaixonar. James sabe que há coisas piores que isso. História dividida em duas partes.