NOVE MESES ANTES.
Nove de setembro de 2009. Ainda era inverno e a primavera beirava às portas das estações com o convite em mãos. A cidade seguia a passos largos para o futuro. Pessoas acordavam cedo e davam duro em seus trabalhos – muitos deles com jornadas duplas. Crianças corriam pelos pátios das escolas atrás de boas notas e sonhos sinceros. Idosos levantavam ainda mais cedo para varrerem as calçadas em frente a suas casas a fim de encontrar novas histórias para preencher as lacunas em suas vidas. A vida seguia pacata conforme os imprevistos permitiam, apesar de todos os problemas que ela enfrentava. Ocorrências como roubos e furtos eram frequentes. Assassinatos desafiavam os direitos humanos. Pessoas morriam na calada da noite devido a usos de entorpecentes. O caos caminhava para a sua majestade no grande centro. Mas a vida daqueles que lutavam pelo bem maior seguia em frente. Guerreando e lutando contra tudo que caíam sobre suas costas e lhes causavam um sobrepeso extra para seguir em frente. Tudo seguia a padronização que as cidades, com seus defeitos e qualidades, mantinham diante do dia a dia.
Até que o dia nove chegou.
Antes dos principais jornais noticiarem o caso do Agulha, a delegacia de polícia se mantinha sobre seus pequenos e grandes casos que logo eram resolvidos. Houve alguns deslizes aqui e acolá, mas nada que os jornais pudessem criticar de tal forma como foi com o Agulha.
O dia mal havia amanhecido e o jovem detetive já corria por entre os corredores do departamento com documentos e provas de um caso de assassinato passional em que um homem executou a ex-mulher que dizia amá-la. Era mais do mesmo. Pessoas matando por motivos banais e acertos de contas, tudo em nome do amor.
Em seu escritório, Ian arrumava os objetos de sua mesa. Fazia isso cada vez que encerrava um caso. Trocava de lugar o computador, o porta-canetas, documentos, e até mesmo a mesa para que a sala estivesse sempre diferente. Sentado em sua cadeira, com os pés cruzados em cima da escrivaninha, ouviu alguém bater à porta. Precisava relaxar e não receberia ninguém por um bom momento, mas quando viu a hora no relógio, soube quem o chamava. Era dona Maria, uma funcionária da delegacia de mão cheia para a cozinha. Fazia chás, café, bolos e doces que até os maiores confeiteiros demorariam para alcançar seu talento. Trouxe um chá que Ian mais gostava. Tinha um sabor levemente ácido, mas que proporcionava uma sensação gostosa enquanto saboreado. Enquanto bebia, assistia ao computador as notícias dos telejornais locais. Era de praxe estar sempre atento ao que estava se passando pela cidade e região, ainda mais nas matérias policiais.
A hora do almoço se aproximava e Ian já se preparava para sair mais cedo, pois após o encerramento do último caso, estava com um pouco de tempo disponível para tal comodidade. Porém, o telefone tocou. Atendeu e do outro lado da linha estava Sérgio requisitando sua presença em um bairro próximo dali onde uma mulher foi encontrada morta no quintal detrás da própria casa. Imediatamente, pegou seus pertences, reuniu uma equipe e seguiu para o local. Neste dia estava sozinho, enquanto Scopelli aproveitava uma merecida folga com sua netinha e filha que haviam chegado de viagem. Sentia-se confiante e lisonjeado pela confiança que seu chefe transmitia para ele em sua primeira vez que comandaria a equipe toda. Dizia que o trabalho seria muito bem feito de sua parte, afinal, estava ali para isso.
No caminho, enquanto via as casas passando pela janela da viatura uma lembrança lhe veio. Sentiu uma angústia conhecida ao se tocar na informação dada pelo amigo. Um bairro de classe média, um assassinato. Lembrou da formatura do colegial, do dia em que não houve música para a dança. Perdeu-se nos pensamentos até o atuo chegar ao destino.
Desceu do carro e Sérgio já trazia mais informações sobre o que fora encontrado.
— Detetive Ian, recebemos uma ligação de um morador daqui do bairro dizendo que havia encontrado uma mulher morta enquanto consertava a cerca da casa.
O nome da vítima era Ana Sograth. Uma mulher jovem, aparentando 30 anos, alta, pele clara, solteira, e vivendo sozinha segundo testemunhos.
— Já sabem a causa da morte? — perguntou Ian, ainda conferindo a ficha que me foi entregue.
— Os legistas não encontraram nada até o momento. Precisa-se de exames mais contundentes. Testemunhas disseram que ela mantinha uma vida saudável para que morresse de alguma doença ou algum mal súbito.
— Infelizmente, para a morte só basta estar vivo, meu caro — disse Ian, entregando de volta a prancheta de Sérgio.
Enquanto alguns policiais ainda coletavam testemunhos e informações, o jovem detetive caminhava pelo gramado observando se havia alguma pista de que a casa fora invadida. Estava com as mãos nos bolsos da calça, dando um passo de cada vez demoradamente, com o olhar atento aos detalhes, mas que emanava lembranças. Toda a característica do caso trazia de volta àquele fatídico dia da sua adolescência. Desde a morte da mãe, essa foi a primeira vez em que ele voltou ao bairro onde morava. Estava à duas quadras da sua antiga casa. Tudo parecia mudado, algumas árvores a mais pelas calçadas, o asfalto renovado e menos crianças pela rua não lhe tirava a sensação de desconforto. Porém, estava a trabalho, e naquele momento, havia um novo assassinato para se investigar. Deixou as memórias de lado e voltou a se concentrar. A hora ultrapassava o meio dia, o sol reinava no céu e por mais que ainda estivesse sem nuvens no céu, o clima estava agradável para se trabalhar.
Do quintal de entrada, Ian caminhou para dentro da casa seguido por Sérgio. A casa era simples, mas com alguns objetos de decoração com valores um pouco alto, o que levantava suspeitas de tentativa de assalto. A organização da casa estava impecável. Não havia sinais de arrombamentos em gavetas e armários, tampouco sinal de briga, caso a vítima tivesse tentado se defender. Ian foi até a sala de TV e encontrou dois pinos vazios em cima de uma mesa de centro.
— Peça ao laboratório para fazer exames toxicológicos para overdose de cocaína — disse Ian para Sérgio.
Por mais que havia suspeitas de overdose, o detetive sabia que não era esse o motivo da morte. Para ele havia duas hipóteses: morte repentina ou assassinato. Este último entrava para a lacuna de casos que Ian sabia que demoraria a encontrar a resposta, confiava na sua intuição. Para ele, o assassino era profissional e poderia ter alguma conta a acertar com a vítima. Até o final do dia nada foi encontrado sem que uma autópsia mais minuciosa fosse realizada com profundidade para encontrar a razão da morte.
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O Agulha Negra - O Sempre Nem Sempre Foi Assim
FantasyIan se depara com o maior caso de assassinatos em série que ele já viu como detetive criminal. Porém a busca pelo assassino, denominado como O Agulha, não será tão fácil como muitos pensavam. Ian se vê sem resolução no caso até que um possível aliad...