A moça da Rosa

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"Voando bem alto para ficar longe dos problemas. Soluções rápidas para consequências permanentes. Assim, a florista vende sua mais preciosa flor para comprar a felicidade que ela vê nos olhos do mundo. Antes de escolher a floricultura, procurou por outro trabalho fixo. Entendia pouco das flores, mas além de não ter dado certo em outras carreiras, também notou que vender flores gerava uma quantia maior e mais rápida de dinheiro. Sua floricultura um dia já foi um hobbie, mas agora é sua única forma de sustento. Me parece que, nesse mundo cinza, a venda de flores está sempre em alta.

Subjugada por todos, sempre começou pelos cantos: narcisos, crisântemos, astromélias... até chegar na tão delicada Rosa. Vinte e sete anos cuidando da flor para ter que vende-la. Mas não havia jeito, algo tão íntimo como um cultivo de flores deveria ser violado para gerar sustento, então o fez. Colocou sua roupa mais bonita, arrumou e perfumou a Rosa e saiu a procura do melhor ponto de venda de flores.

Porém, tanto tempo cultivando a flor, pela falta de experiência, a florista se esqueceu de que a Rosa dava frutos! Ele foi gerado pela florista e então concebido de codinome Pedaço de Rosa. Porém, a moça da Rosa não podia parar, principalmente agora que tinha um fruto com o potencial de se tornar um orgulho, dando várias flores no futuro. Logo, deixou o frutinho crescendo em sua casa enquanto choviam críticas sobre a sua atitude em continuar a vender as benditas flores enquanto o Pedaço de Rosa amadurecia sozinho. Mas era a única maneira! Quem iria se colocar em seu lugar para então ter a capacidade de julgar com alguma autoridade? Isso mesmo, ninguém.

Assim ela continua até hoje na venda da sua preciosa Rosa. São que horas? Uma da manhã? Oras, a floricultura já cansa de estar aberta. Os clientes estão em alta nesse horário..."


Flores... tão lindas e delicadas. Tão únicas e particulares. É uma injustiça o mundo obrigar certas floristas entrarem nesse ramo. Muitas se veem sem opção, e logo após, sem apoio, sem amor e principalmente sem compreensão. Essa história é emocionante. Não apenas a leia, não seja mais um. Sinta, se ponha no lugar da florista. Não, não precisa ser fisicamente, não precisa vender tua flor mais preciosa. Coloque seu coração junto ao dela.

Eu conheci uma florista uma vez, e que vida conturbada! Quem acha que vender flores é fácil está muito enganado. E o que mais me preocupou nesta história foi o fruto. Oh céus, pobre fruto, a princípio indesejado, na hora errada, nas condições erradas. 'Mas qual é a importância de um simples fruto vindo de uma Rosa?' você me perguntaria. Oras, toda a importância! O fruto deve ser amado da mesma forma, independente da sua procedência. Ou você não foi amado também?

Ella foi amada, muito amada. Aliás, ainda é amada, onde quer que esteja. Ella amava a moça da Rosa com seu Pedaço de Rosa. E ela amou muita gente também. Não importava a profissão: floristas, professores, técnicos de informática, psicólogos, motoristas, aposentados... Ela distribuía amor para todos, sem desejar algo em troca. Até porque, muitas vezes nem recebia mesmo.

Tenho tanto medo que Ella não tenha se sentido amada. Será que foi por isso que ela partiu sem mais voltar? Ou será que Ella guardou em seu coração um incômodo de não sermos como ela? Que não se sentiu pertencente a este ambiente, de pessoas diferentes? Não... Ella não era assim. Ela era única. Por ser tão única, não poderia se igualar à atitudes tão previsíveis. Aposto que não foi isso, mas então o que será que foi?

Fechei o diário hoje e notei, havia na capa um pequeno desenho de uma Rosa...

Um Diário para EllaOnde histórias criam vida. Descubra agora