capítulo I |

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Por que o nome daquele garoto seria "problema"? Será que os pais dele eram os problemáticos loucos? Talvez não soubessem a língua e simplesmente acharam bonito para nome de gente

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Por que o nome daquele garoto seria "problema"? Será que os pais dele eram os problemáticos loucos? Talvez não soubessem a língua e simplesmente acharam bonito para nome de gente. Algumas perguntas surgiram em minha mente. O que fizemos com ele? Naquela noite decidimos não pensar muito nisso. Trancamos o "ratinho" em nossa pequena cela para prisioneiros, junto à alguns animais nojentos.

Era madrugada quando a festança do dia acabou. Antes de ir dormir, decidi passar por lá. Surpreendi-me ao vê-lo acordado. Creio que por causa do barulho.

Os olhos claros eram iluminados pela luz azulada das estrelas e Lua, que vinha de alguns furos no teto, criando um contraste um tanto belo com o escuro.

Me observou ali. Encarou-me com seu olhar azul. Não falou nada, não reclamou, não fez escândalos.

Saí dali depressa. Senti uma sensação ruim em meu peito ao vê-lo ali. Eu não entendia o que via nele. Talvez porque ele fosse igual à nós. Rejeitado pela sociedade. Mas eu não podia me igualar à ele. Eu não sabia sequer de quem ele era filho.

 Eu não sabia sequer de quem ele era filho

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Vimos ele coçar os olhos. Era cedo demais quando o acordamos. Uma crueldade com uma criança daquelas, mas eu não me importava no tempo. Ninguém se importava!

- O que vocês farão?   - Perguntou, não amedrontado, mas sim curioso.

- Tire a camisa!  - Ordenou Richard, numa delicadeza que fez a ordem parecer um pedido.

- Você precisa de uma banheira, ratinho.   - Disse eu.

O garoto tirou a camisa rapidamente. Foi aí que descobrimos. Não era um filho de nobre, tínhamos certeza, mas fazia parte de uma grande quantidade de crianças que eram praticamente escravizados pelos malditos donos de fábricas.

Hematomas roxos e feridas abertas cicatrizando pelas costas e barriga, destacando-se na pele pálida. eu adorava roubar as mercadorias que aqueles tubarões nojentos exportavam.

Foi a primeira vez que vi aquilo pessoalmente. Já ouvia falar muito sobre a covardia dos infelizes, mas nunca sofri com isso já que havia crescido no mar com as pessoas certas. Meu pai me protegia com unhas e dentes e desprezava todos aqueles ricos soberbos. Nós apenas fazíamos sofrer aqueles que faziam outras pessoas sofrerem. Era justiça!

- Mandem o curandeiro passar alguma erva nisso!   - Ordenei calmamente.

Não conseguia tirar os olhos dos machucados. Estava realmente feio.

- Por que?   - Perguntou novamente.   - Esses ferimentos não são os que precisam de cura. Eles se curam de forma rápida e natural.

Fiquei arrepiado com sua forma de falar e com o que falava. Aquele moleque era realmente estranho para uma criança. E eu estava sendo estranho por entender que havia mais dentro da tal frase.

Ignorei sua fala antes de simplesmente sair dali e deixá-lo nas mãos de meus homens.

Ignorei sua fala antes de simplesmente sair dali e deixá-lo nas mãos de meus homens

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Durante a noite estranhei a falta de meus companheiros na hora do jantar. Meu peixe estava ali, em um prato, em cima da minha mesa. Mas estava cedo demais! Geralmente eles traziam para mim dez minutos atrazados. Eu gritava com eles e os ameaçava, apesar de eles saberem que eu não seria capaz de fazer algo do tipo com meus amigos de anos.

Eu deveria estar satisfeito, mas não! Descobri naquele dia que eu gostava. Eu gostava da rotina. Gostava dos atrasos de dez minutos, de esperar, de gritar com eles quando os via e de ouvir as risadas baixas deles por terem levado sermão do "capitãozinho", quando saíam da sala. Era difícil ser respeitado, quando a maioria deles já havia me visto lambuzado de sucos de frutas aos três anos de idade. No final das contas, eu gostava disso. Apesar de não saber.

Tentei comer ali em paz, sem ligar para todos eles. Falhei miseravelmente. Me levantei de minha cadeira estressado. Comecei a caminhar pelo navio. Um barulho abaixo de minhas botas. Nossa pequena cela! Me dirigi para as escadas empoeiradas e cheias de teias de aranha. Desci vagarosamente e encontrei-os. Lá estavam eles, com o pirralho. A porta da pequena cela aberta e muitos risos lá dentro.

- Uma vez nós o trancamos dentro daquele escritório maldito. Foi muito engraçado ouvir os gritos dele vindo de dentro da sala fedorenta que ele tanto adora. Foi uma pena que conseguiu quebrar a porta.   - O ratinho contava.

- E o que aconteceu com vocês? Interrogou Richard.

- Eu sou um tanto desligado. Fui o último a saber que ele havia conseguido arrombar a porta, sendo assim, fui o primeiro a ser pego. Digamos que fui usado como exemplo.

Escutava tudo boquiaberto, já que tudo aquilo não era normal para mim. Creio que a última vez que me entristeci foi quando perdi meu pai.

Aquele foi um dos piores dias da minha vida.

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- G.L.

[ O Garoto De Wildsea ]Onde histórias criam vida. Descubra agora