Capítulo I: Uma noite qualquer

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...

Acho que era uma noite de sexta-feira, em torno de umas onze e meia, no Orfanato St. Louis já tinha dado o toque de recolher e mais uma vez eu estava deitado no corredor do 3° andar, que era proibido para nós, tendo um novo caos interno...

"Você devia matar todos eles de uma vez!"

Essa voz amistosa e calorosa era Kris, um dos loucos que me assombram, é o tipo de cara psicopata que só anseia pela destruição e se excita vendo tudo pegar fogo e definhar... Ele também é meio idiota.
Não é o tipo de cara que eu convidaria a entrar no meu quarto, mas não é como se eu tivesse uma escolha, sabe?
Ele continuava a gritar de um lado na minha cabeça, as vezes me via tentado a seguir seus conselhos, mas sabia que haveria consequências...

"Matar? Você é estúpido... Se quer realmente se vingar deles, roube o dinheiro deles e fuja! Ficaremos ricos e acabaríamos com eles no processo!"

Esse de agora é outro... Seu nome é Michael, resumindo em três palavras?
Sarcástico, ganancioso e competitivo... É exatamente o que está pensando... Sim é um saco ter esses dois falando dentro da sua cabeça... mas em compensação existe o Peter, ele surgiu depois que conheci o padre Mozart, não sei explicar bem o como... mas ele surgiu e assim ficou, ele é do tipo bom moço e comportado, as vezes irrita, mas mantém a balança equilibrada...

"Hay, Hay, gente... Vamos nos acalmar... Não há necessidade disso de novo... Melhor voltarmos pro nosso quarto, vão nos apanhar aqui e seremos todos punidos mais uma vez..."

-Calem a boca!

Gritei irritado.

Ouvi passos atrás de mim, em um reflexo súbito tentei levantar pra correr querendo me esconder, mas uma mão me segurou pelo ombro, me virei devagar e tentei focar no rosto do individuo antes de decidir minha próxima ação, eles continuavam gritando na minha cabeça, notei que era o Padre Mozart, após vê-lo me acalmei, achei que era a irmã Margareth, já estava cerrando o punho pra brigar com ela de novo...

Padre Mozart:
-Não consegue dormir de novo...?

Neguei com a cabeça.

Mozart:

-Eles estão aqui?

Acenei que sim.

Padre Mozart era a única pessoa no mundo em quem eu realmente confiava, e olha que não confio nem em mim... ou em nós, mas Mozart, ele é como um pai pra mim, me acolheu e cuida de mim a bastante tempo, apenas ele sabe sobre minha... situação... por assim dizer.

Mozart:
-Por quê não veio até mim? Falei que se algo assim acontecesse novamente... era pra me procurar, só porque está crescendo quer virar rebelde?

Padre Mozart riu.

Eu me encolhi de vergonha, estava corado, nesse momento ele colocou a mão na minha cabeça e bagunçou meu cabelo, um pouco antes de me dar o maior cascudo que já levei.

Padre Mozart:
-Era pra você estar no seu quarto Mocinho! Dá próxima vez eu não serei tão bonzinho!

Ele falava entre gargalhadas misturadas com tosse de gente velha.

Dei língua pra ele enquanto ríamos juntos e ele me levava pelo corredor até a escada, quando chegamos nela, me virei e encarei o corredor...

-Por quê não podemos vir aqui?

Padre Mozart não respondeu a minha pergunta com clareza, mas com um olhar melancólico me disse:

-Esse andar me traz lembranças não muito boas... por isso o fechei, ainda não me sinto pronto pra anexa-lo novamente ao nosso lar...

Notando seu olhar e sua voz cansada me contentei apenas em acenar com a cabeça e segui-lo, entendi que não era um bom assunto a se falar... As vozes cessaram por enquanto, acho que também notaram a diferença repentina de humor de Mozart sobre esse assunto, por mais que nunca concordássemos, todos nós amávamos Mozart, fiquei tão absorto pensando nisso, que acabei esquecendo minha raiva contra a Cafeteria Chá de Rosa, da rua de cima, tentei arrumar um emprego de meio período lá, fui esculachado, idiotas... eles ainda vão pagar por isso... pensarei em algo, de preferência que não envolva roubo ou mortes.

Padre Mozart me levou até meu quarto e abriu a porta.

-Vamos, entra... está tarde e irei te acordar bem cedo amanhã, temos muito trabalho pra fazer.

Comecei a resmungar mas Mozart me olhou torto, logo me calei com medo de outro cascudo.

-Tudo bem, estou indo...

Kris: EU NÃO QUERO DORMIR PÔ!

Michael: Ninguém liga para o que você quer Kris.

Peter: Gente vamos parar com is-

Kris e Michael em uníssono : CALA BOCA PETER!

Coloquei a mão na cabeça, me despedi de Mozart e me deitei xingando os três imbecis mentalmente, Padre Mozart sorriu, encostou a porta e saiu... Mais uma noite rolando na cama antes de finalmente cair no sono, esses acéfalos não calam a boca! ninguém merece!

O resto da noite se passou sem mais inconvenientes... exceto pelos mesmos pesadelos de sempre.

Dividido: Entre AlmasOnde histórias criam vida. Descubra agora