—Não precisa ficar esperando o Jeffrey aqui comigo, a Jane deve estar preocupada.
Já eram quase 8:00, e pelo que os dois sabiam Hopper já podia ter ido embora à umas duas horas, mas resolveu ficar.
—Eu deixei um bilhete— Respondeu Hopper para Joyce.
A loja não estava muito movimentada, na verdade não tinha nenhum cliente, apesar de ser uma sexta-feira, o que não era incomum, Hawkins é uma cidade pequena.
—Um bilhete, jura? Do jeito que eu te conheço tenho certeza que você escreveu um "já volto".
—Eu escrevi "não se atrase pra escola" também— Respondeu Hopper, fingindo estar indignado.
—Aí meu Deus, não duvido. É sério, vai.
O sininho da loja tocou, o que significava que um cliente havia entrado, e Hopper achou melhor ir, ele murmurou um "até logo" e saiu.
E ao sair ele deu de cara com um cachorro, um cachorro bem esquisito, na sua opinião, ele estava lá sentado na calçada ao lado da porta o encarando mexendo o seu rabo peludo de um lado pro outro.
Aquele cachorro não era de Hawkins, Hopper nunca o vira, ele não tinha coleira e estava sujo, ah, e não tirava os olhos dele. Esse cachorro era estranho, muito estranho.
Hopper decidiu que seria um homem mais feliz se o ignorasse e fosse pra casa tomar seu café da manhã, Flo ficaria furiosa com o atraso, mas ele já tinha uma desculpa em mente.
Ele entrou no carro e deu a partida, ouviu o cachorro latir uma vez para o nada, estava dando ré para sair da vaga que estacionara quando se lembrou que tinha esquecido as chaves de casa em cima do balcão.
Mal deu tempo de estacionar novamente. Tudo aconteceu muito rápido.
De dentro do carro Hopper viu um movimento na loja e o "cliente", que havia entrado pouco antes dele ter decidido ir embora, saiu correndo pela porta, acompanhado do mesmo cachorro estranho, que estava sentado na calçada poucos segundos atrás.
Mas ela não conseguiu ir tão longe.Hopper não pensou muito quando desceu do carro e agarrou a garota por trás, imobilizado seus braços.
Ela se debatia tentando se soltar, mas Hopper não entendia o porquê, ela não iria ser presa nem nada disso, levaria um bela bronca, um sermão no máximo, e talvez os pais a colocassem de castigo, mas não havia motivo para tanto alvoroço.
—Ei! Calma aí, garota!
Os salgadinhos e biscoitos que ela havia roubado estavam espalhados por todo o chão, o cachorro latia e rosnava ao redor deles, era a maior cena, Hopper agradecia à Deus por não ter quase ninguém na rua.
Convenhamos, Hopper já não tem o mesmo físico que tinha há alguns anos atrás e a paciência que se esforçava para manter naquela belíssima situação em que se encontrava já tinha ido para o fundo do ralo, então, digamos que ele não se arrepende de ter colocado a menina contra o carro e te-la algemado.
A garota tinha finalmente percebido que não dava mais pra fugir e havia parado de tentar se soltar, só que o seu cachorro latia cada vez mais alto e Hopper já previa que essa dupla iria ser complicada de lidar.
—Pouvez-vous taire?! Je sais déjà que je ... ah, allez au diable, vous avez accepté le plan— Gritou a garota olhando para seu cachorro, que parou de latir no mesmo minuto.
—Como é que é?— Perguntou Hopper, mas não houve resposta.
Joyce, que havia saído da loja e desde o começo assistia ao espetáculo, franziu as sobrancelhas, confusa.
Mas uma coisa era certa, se tinha alguém perdido ali, com certeza absoluta, esse alguém era o Jeffrey.
—Mas o qu...
—Jeffrey! Ótimo, vai lá pra loja, pode deixar, a gente resolve isso, certo?— Joyce falou empurrando Jeffrey em direção a loja, não precisavam de mais atenção do que já tinham chamado.
Mas dava para ver que de vez em quando, aproximadamente de dez em dez segundos, ele olhava de relance curioso com o que acontecia fora da loja.
Afinal, ver uma menina sendo presa no meio da rua gritando em francês, com um cachorro louco em volta, não é uma coisa que se vê todo dia.
—Qual o seu nome? Onde estão seus pais? Vou precisar falar com eles— Hopper tentava conversar com a menina, mas falhava miseravelmente.
—Mais pourquoi avez-vous aboyé avant le départ du flic?! Maintenant, je vais devoir rester ici en prétendant être un profane— Falou a garota encarando Hopper e Joyce com uma falsa cara de desentendida.
Mas algo, fazia os dois suspeitarem de que, de alguma forma, não era com eles com quem ela estava falando, mas sim com o cachorro, porque logo que ela terminava uma frase ele latia algumas vezes e voltava a ficar quieto.
Hopper a virou de costas novamente, resolveu tirar as algemas da garota, louca ou não, ela era só uma criança, mas ficaria atento caso ela resolvesse sair correndo.
E foi aí.
Foi aí, no momento em que tirava as algemas, que ele percebeu que no pulso dela havia alguma coisa escondida.
Escondido por debaixo de um tipo de mancha ou tinta, maquiagem talvez, era meio que um borrão que destoava do resto da pele. Curioso, ele começou a limpar com a manga da sua camiseta.
E como se tivesse levado um choque, o corpo da garota enrijeceu, seu punho se fechou com força, ela segurou a respiração inconscientemente, seus olhos nem piscavam. Até o cão que estava deitado, bem tranquilo, levantou em um pulo.
Quando Hopper afastou a mão com que estava limpando o pulso da garota e o observou, não sabia como reagir, então instintivamente olhou para Joyce, os olhos dela iam da marca 009 no pulso da garota para os olhos de Hopper, eles não sabiam o que fazer.
Hopper lembrou que Jane lhe falará sobre sua irmã, 008. Toda aquela esquisitice parecia fazer sentido agora, ela era um número, existiam outros. Quantos mais? Ele não sabia.
A garota, agora sem as algemas, virou encarando os dois, tentava esconder o medo por traz da sua face durona, o que fazia muito bem, mas não o suficiente.
—Olha, eu não sei quem você é, não sei porque está em Hawkins, mas eu sei de onde você saiu...— Falou Hopper enquanto encarava a menina. A boca dela se abriu para dizer alguma coisa, porém logo se fechou— e algo me diz que não foi da França.
Ela não fingia mais que não entendia o que estavam falando, eles a tinham pegado.
—Eu não vou voltar—Disse ela firmemente.
—Não, não vai, nós não somos do laboratório— Falou Joyce, ainda se recuperando do choque, mas a garota não baixou a guarda.
—Tem uma pessoa que eu acho que você deveria conhecer— Falou Hopper e as duas o encararam.
Ele não sabia porquê, mas uma frase se repetia em sua cabeça, "Esconda, esconda todos".
Aquilo poderia ser tudo, menos uma coincidência.
Uma ironia do destino, talvez? Não.
Havia mais.
Em Hawkins nada é por acaso.
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Stranger Things 3
FanfictionHawkins, Indiana. Uma cidade mais do que normal, é o que pesam todas as pessoas quando olham para o pequeno pontinho no mapa e quando ultrapassam a placa de "Boas vindas" na estrada. Ou melhor dizendo, quase todas. A verdade sobre Hawkins, está bem...