Capítulo 7

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- Senhor?

Lucjan afastou os olhos do folheto colorido em que podia analisar a proposta de todos os cartões que o sistema de transporte da Breslávia tinha a oferecer. A moça do outro lado do balcão o examinava com olhos curiosos, quase preocupados.

- Desculpa - pediu, sua voz falhando como se tivesse ficado enroscada no meio da garganta. - Eu quero um short-term.

- Certo. - Loretta, como estava escrito em seu crachá, puxou um cartão branco de uma das gavetas do lado de dentro. - O cartão de curto prazo pode ser carregado só uma vez. Você pode validar com trinta, sessenta ou noventa minutos, vinte e quatro, quarenta e oito, setenta e duas ou cento e sessenta e oito horas. Durante o período de tempo que você escolher, você pode viajar de ônibus e bonde em qualquer linha.

Ela continuou e continuou. Lucjan se perdeu outra vez, escorregando sem cuidado por entre a desordem que aquela decisão, de aspecto tão simples, causava em sua mente. Mais cedo, durante o café da manhã, Marlena tinha explicado sobre suas opções e sugerido que ele solicitasse um cartão de cinco meses, que levaria alguns dias para ser entregue, mas Lucjan não precisaria se preocupar em renová-lo até dezembro.

Ainda assim, quando Loretta deslizou o panfleto informativo sobre o balcão, e ele entrou em contato com todas as outras possibilidades, os únicos cartões que pareceram realmente atrativos foram os menos permanentes. Como se caíssem melhor com aquele sentimento de inconstância que o atormentava desde sua chegada, quatro dias atrás.

Não que tivesse planos de ir embora. Não era disso que se tratava. Não tinha nada a ver com suas decisões lógicas e conscientes, e sim com o impulso que ele nem percebia, mas que o fazia levar a escova de dentes de volta para o quarto depois de usar, e que ainda não o deixava enfileirar os sapatos ou pendurar as camisas que tinha comprado na segunda-feira. O estranhamento que ele tratava de ignorar todas as vezes que abria a geladeira para procurar algo que pudesse comer, como se nada daquilo lhe pertencesse. Como se precisasse de permissão para ir e vir dentro do espaço que tinha sido escolhido também para ser seu.

Depois de pagar pelo máximo de horas que poderia validar em seu novo cartão, Lucjan andou até o ponto de ônibus mais próximo. Deus, que calor fazia naquela quinta-feira! Era sua terceira entrevista de emprego. As duas outras tinham acontecido no dia anterior, uma pela manhã e outra à tarde, ambas em escolas de idiomas do bairro, às quais deu preferência pela proximidade e comodidade. Esta, por sua vez, ficava do outro lado da cidade. Levaria uma boa hora e meia de ônibus, e ele passou cada minuto do caminho apenas torcendo para que a proposta ao menos fosse adequada. Se não um ótimo pagamento, pelo menos um ambiente de trabalho receptivo.

Nem um, nem outro.

Lucjan foi recebido pouco calorosamente pela secretária e esperou cerca de quarenta minutos até ser chamado para sua reunião com a diretora, que parecia pouquíssimo disposta, mas avaliou rapidamente seu currículo. Não fez muitas perguntas e não o deixou à vontade para se manifestar sem ser convidado. Ao final, porém, disse que a vaga era sua, desde que estivesse de acordo com as condições: ele trabalharia como professor substituto e precisaria estar disponível sempre que outro da mesma área faltasse. Receberia trinta złotych por cada aula de polonês e eslovaco, e quarenta pelas aulas de russo e língua sérvia, o que não seria de todo ruim caso soubesse quantas horas trabalharia ao longo da semana.

Apesar da instabilidade da oferta, e da falta de acolhimento do ambiente, Lucjan não quis abrir mão da chance de voltar a trabalhar. Porque sentia falta de dar aulas, mas principalmente porque não achava justo com Marlena que ela fosse a única contribuinte e, pior do que isso, que ele continuasse usando o dinheiro que tinham economizado juntos para quando se casassem. Não havia mais nenhuma chance de isso acontecer, mas poderiam ao menos dividir por igual o valor que restara e usá-lo para planos individuais.

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